16 de dez. de 2009

Da Lama ao Caos

"Vamos salvar o mundo!" aparentemente deixou de ser apenas um jargão das propagandas de pasta de dente. Na realidade, esta frase nos remete atualmente a Copenhague, na Dinamarca, onde acontece há dias uma conferência para discutir as mudanças climáticas no mundo, denominada COP15. Os principais cientistas, estudiosos, diplomatas e líderes governamentais estão presentes neste gelado país da Europa para discutir quão quente o mundo está ficando. Mas fria não é somente a cidade. Fria também está essa discussão, que mais parece um encontro de amigos do que uma reunião de trabalho.

O aquecimento global, para muitos, é uma farsa. Para outros, a vida tornou-se sobreviver enquanto a Terra se aquece. Mas o que não podemos deixar de constatar é que vivemos uma transição notória. De tempos em tempos, as relações internacionais marcam o início e fim de eras, de ideologias. E quando perguntam: "o mundo vai acabar um dia?", o que vem na ponta da língua é que o mundo se renova de tempos em tempos. E essa "nova renovação" já está acontecendo.

Ao passo que as mudanças climáticas provocam fenômenos no mundo inteiro, como enchentes, tornados, oscilações de temperatura em épocas inesperadas, as pessoas entram em uma era de reflexão. A ideia da sustentabilidade e a moda "verde" parecem ter entrado de vez na mente dos mais sensatos seres humanos. E obviamente que as empresas se beneficiam disso, lançando campanhas de marketing cada vez mais voltadas para esta causa. Hoje, a população parece se conscientizar aos poucos de que cuidar do meio ambiente é cuidar da vida, do planeta. E é por isso que esta conferência sobre assuntos climáticos da ONU chama tanta atenção.

Mas ora, se é um assunto tão vital, por que é que ainda não saiu nenhuma resposta para este problema?

Bom, o fato é que por mais que o mundo esteja se preparando para transformações, o planeta ainda é recheado de líderes conservadores, que antes de se preocupar com os vizinhos, se preocupam unicamente com a sua casa. A ordem é cortar a emissão de gases que provocam e aumentam o efeito estufa. Isso significa reduzir a produção das indústrias ou, no mínimo, encontrar soluções limpas para a produção, o que resultaria em gastos para pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias. E quem tem que arcar com isso? Os governos dos países mais ricos. E quem disse que eles querem?

"Ora, se é uma preocupação geral, que a geral tome providências!". Isso é o que querem os países desenvolvidos, que estão sendo tratados como os grandes vilões do problema. Maus ou não, eles estão no direito de pedir que o mundo inteiro tome providências. Mas o que não é certo é que estas providências sejam tomadas por igual. Por que Angola teria que agir da mesma maneira que os EUA para conter o efeito estufa? Por que a África do Sul e o Brasil precisam cortar o mesmo número de poluentes que Alemanha e Japão? Daí as divergências, somadas a tantos outros embates.

Ninguém quer sair perdendo, por isso esta negociação está fadada ao fracasso. Gostariamos muito de ver alguma resolução importante e efetiva a partir da COP15, mas o que vemos é uma reunião de interesses mais políticos do que ambientais, rodeada de falsos argumentos ou improváveis decisões.

O planeta necessita de ações concretas e objetivas. Mas infelizmente não será em uma conferência que tudo isso vai mudar e que todos perceberão o tamanho da encrenca. Afinal de contas, sabem quando o mundo deixou de ser hipócrita? Nunca.

Escrito por: Denis Araujo

25 de nov. de 2009

Os Desafios Iranianos e as Respostas do Mundo: Ahmadinejad no Brasil

A semana ficou um pouco conturbada por aqui com a visita do presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad. Aliás, não foi apenas a semana ou o nosso país que ficaram conturbados. Na realidade, os olhos do mundo se voltaram para esta visita presidencial, especialmente os olhares norte-americanos e israelenses. Preocupante? Um pouco. Mas depende do ponto de vista.

No Brasil, a opinião pública dividiu-se, os estudantes protestaram, os políticos não entraram em acordo, refugiados de guerra e homossexuais indignaram-se, empresários festejaram e os analistas de relações internacionais questionaram-se. Estas manifestações diversas ocorrem por conta das declarações dadas por Ahmadinejad. O holocausto foi negado, os homossexuais repudiados, os israelenses e norte-americanos confrontados, os empresários convidados, os políticos divididos e analistas, novamente, questionados. Tantos pontos de vista, que diferem sobre temas tão comuns.

O programa nuclear iraniano tem chamado a atenção do mundo por conta de suas intenções. Os fins energéticos são óbvios, mas o que há por trás disso? Os americanos, os israelenes e todo o Conselho de Segurança da ONU preocupam-se com os fins bélicos que este desenvolvimento pode possuir. Israel, mais do que nunca, está atento aos exercícios militares do exército iraniano e, em resposta deste fato, também organiza-se militarmente para evitar um confronto. Entende-se "evitar" como "atacar para se defender". Ahmadinejad aposta em uma guerra? Na verdade ele duvida. O planeta crê em uma guerra de grandes proporções? Não muito, uma vez que a ordem internacional não está para conflitos, assim como a frase diz que "este mar não está para peixe".

Mas e os Estados Unidos? Se o país ainda estivesse sob a liderança de Bush, o mundo estaria realmente preocupado. Mas os tempos são outros. Barack Obama trabalha sua política externa de maneira a permitir uma maior flexibilidade, na tentativa de encaixar os EUA como um ator pragmático, de intenções diversas e respostas diferentes, ao invés de classificar o país como um grande combatente do terror, ou mesmo um grande terrorista global.

A verdade é que o mundo olhou com apreensão esta visita, principalmente por conta do Brasil ter se tornado o que é hoje: um verdadeiro ator global, capaz de dialogar e influenciar. A comitiva de empresários iranianos que acompanharam a visita aproveitaram para fechar inúmeros acordos comerciais, na intenção de ampliar as relações bilaterais. E Mahmud Ahmadinejad encontrava-se em uma saia justa. O programa nuclear iraniano estava chamando atenção demais. Sua reeleição estava chamando atenção demais. Suas declarações? Mais atenção ainda. E qual a saída? "Vamos conversar com Brasília, é hora de visitarmos o presidente Lula".

O Brasil, tradicionalmente, sempre esteve muito próximo aos EUA. Mas desde a posse do governo atual brasileiro, o país passou a agir de maneira muito mais multilateral, realizando acordos com diversos países, ampliando toda a sua lista de influência. Semana passada esteve no Brasil, pela primeira vez, o presidente israelense Shimon Peres. E agora é o Irã que dá as caras por aqui. Coincidência? Pode até ser. Mas o Brasil não quer ficar preso a valores antiquados, que não lhe diz respeito. E o faz muito bem, exceto com a declaração, na minha opinião, equivocada de nosso presidente, ao afirmar seu apoio ao programa nuclear de Teerã. Esta declaração foi dada sem pensar no que a mídia internacional compreenderia. Erros a parte, o encontro presidencial foi bastante estratégico, para ambos os lados.

O Irã passou a buscar novos mercados, novos apoios. O lobby começou a ser feito. Seu programa nuclear está protegido, logo seu desenvolvimento econômico também. O que há por baixo dos panos ninguém sabe, mas quando for revelado, o mundo deverá dar respostas imediatas: ou uma negociação de paz, ou um estreitamento de laços.

Escrito por: Denis Araujo

30 de out. de 2009

Venezuela e o MERCOSUL: Comércio Sim, Politicagem Não!

O MERCOSUL nunca teve tantas notícias chamativas como as desta semana, em que decidirão, finalmente, se a Venezuela entrará efetivamente para o bloco ou não. Hoje o Itamaraty e o Senado brasileiro aprovaram o ingresso do país e, para que seja concretizado, o plenário precisa votar a favor, sem contar o voto necessário dos políticos paraguaios.

Muito se discute sobre as vantagens e desvantagens da adesão. Para ampliar a discussão, precisamos colocar os pingos nos is. O MERCOSUL há tempos perdeu sua credibilidade. Fundado no início da década de 90, o bloco, que tinha como intenção trilhar o caminho de sucesso da União Europeia, caiu nas tabelas bloqueado por diferenças políticas e de objetivos econômicos. Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai (membros do bloco) sempre apoiaram as unificações de tarifas alfandegárias, taxas mais favoráveis para certos produtos, sem contar nas maiores facilidades para se viajar entre os países. Entretanto, a forte concorrência entre os produtos brasileiros e argentinos (especialmente os da linha branca) fazem com que os dois países sejam relutantes quanto às facilidades adotadas no bloco, para não perder espaço e evitar o monopólio.

Além disso, conturbações políticas estremecem o MERCOSUL. O Brasil, de governo mais centro-esquerdista do que propriamente de esquerda, continua sua política de bem feitor e irmão de todos. A Argentina, de governo pós-peronista e de forte instabilidade, ainda luta para ganhar seu espaço merecido. O Uruguai enfrenta agora as eleições presidenciais, antecedido por um governo que pouco se manifestou. O Paraguai, por sua vez, enfrenta uma tentativa inédita de estabilidade política, impulsionada pelo presidente e bispo Fernando Lugo, que se esconde atrás da cruz para que não encontrem mais fatos que o comprometam.

O grande problema da adesão da Venezuela no bloco é que a América do Sul está, ultimamente, ganhando espaço por conta de sua imagem, ao invés de ganhar por esforços efetivos e resultados concretos. De realidades distintas, os atuais membros e o atual candidato a membro, vivem uma disputa ideológica, principalmente os maiores: Argentina, Brasil e Venezuela (principalmente os dois últimos). É óbvio que a Argentina precisa muito do Brasil para se desenvolver, contudo venezuelanos e brasileiros experimentam uma recente tentativa de estreitamento de laços. Os jornais de ambos os países (muito mais no Brasil) sempre deram a entender que existia uma disputa de liderança no continente. Mas o que se vê são dois países que tentam desenvolver uma boa relação bilateral para explorar os potenciais de cada um.

Presidente Lula: como o senhor, eu também estou convencido. Mas o meu convencimento parte do pressuposto que a Venezuela entrará no bloco para colaborar com temas de cunho comercial e econômico, sobretudo no desenvolvimento agropecuário e nas conversas sobre energia. A adesão do governo de Hugo Chávez não deverá, de forma alguma, transformar o MERCOSUL, que já não anda bem das pernas, em plataforma socialista, tampouco de disputa de ideologias que não cabem mais nesta nova década que se iniciará.

Vamos deixar a imagem de lado. O que interessa agora são as vantagens, de fato, que este ingresso fará para o bloco e para os países-membros. Se o Chávez é assim ou o Lula é de outro jeito, pouco importa. Quando falamos de negócios, temos que deixar as diferenças de lado e praticar o famoso jogo do ganha-ganha. Se no final das contas alguém perder, o MERCOSUL perderá por completo. E onde ficará a credibilidade?

Escrito por: Denis Araujo

28 de out. de 2009

O Que Esperavam da Crise?

Curiosa a maneira em que até pouco tempo atrás a palavra "crise" tomava todas as capas de jornais e revistas, era pronunciada em todos os noticiários e programas televisivos do gênero. Até mesmo aqui no Silêncio Cotidiano já foi mencionada.

O alerta vermelho foi dado e os economistas passaram a esboçar aquilo que seria a reforma da economia mundial. Mais do que isso, a sociedade anseava por presenciar a transformação da própria sociedade. O modelo neoliberal (que já havia proporcionado duras consequências às economias latinas) passou a ser cada vez mais questionado. Haveria chegado o momento do Estado entrar em ação? E o capitalismo: estaria este nas últimas?

Questões como estas surgiam o tempo todo e o mundo passou a se dividir entre AC (Antes da Crise) e DC (Depois da Crise). No entanto, o que observamos um ano após esse fenômeno é que muita coisa ainda permanece intacta - e o socialismo cada vez mais enterrado. Os Estados mais ricos tiveram que intervir e salvar suas economias, mas nada além disso. Pouco a pouco o mercado financeiro global se reaquece e as especulações voltarão à tona.

O Brasil realmente se diferenciou, visto que o Estado não teve que intervir tão enfaticamente na economia. Os bancos, maiores vítimas em todo o mundo, não sofreram danos por conta de sua autosuficiência. Enquanto os EUA tiveram que assumir dívidas e salvar bancos privados e grandes montadoras de veículos, no Brasil o fenômeno proporcionou destaque às instituições financeiras e estabilidade às empresas automobilísticas.

O Brasil não ensinou uma lição ao mundo, como esperavam os governantes. Na realidade, o país teve seu destaque e, por conta disso, tornou-se a bola da vez dos investimentos estrangeiros. Não por acaso o Grupo Santander realizou o maior IPO da história da Bovespa, e muito provavelmente mais gigantes farão investimentos poderosos por aqui.

Caminhamos para uma crise futura? A Crise de 1929 traçou linhas históricas na economia, quando a produção parou, o abastecimento se enfraqueceu, os produtos perderam valor e seus preços diminuiram. A Crise Estrutural da década de 70 (impulsionada pela Crise do Petróleo em 1973) provocou a recessão na economia norte-americana e uma transformação no padrão de investimento no mercado financeiro. Ainda na década de 70, os preços dos produtos mantiveram-se no topo, causando problemas de inflação nos países.

Ou será que o mundo está mostrando sinais de maturidade? Acredito que o ciclo não se repetirá, mostrando ao mundo novas portas e caminho. É o que espero.

Escrito por: Denis Araujo

Este post é dedicado a todos aqueles que lutam por seus sonhos.

16 de out. de 2009

Havaianas. Todo o Mundo Usa.

Lembro de quando ia na feira com a minha mãe ajudá-la com o carrinho de compras. As barracas de alimentos formavam filas, quase iguais às filas do pastel ou do caldo de cana. Mas outras aglomerações também se formavam para comprar aqueles chinelos estranhos, com alças de dedo, com o nome de Havaianas. Tudo bem, eram falsificadas, mas não deixavam de atrair gente de todos os jeitos. O tal Chinelo de Pobre era mais famoso do que eu pensava.

As Havaianas surgiram na década de 60, baseadas nos famosos chinelos japoneses de alça e base feita de palha. Era uma novidade em todo o Brasil e explodia como calçado favorito da população brasileira, especialmente das classes menos favorecidas. O sucesso era tão grande que muitas outras empresas de calçados tentaram imitar o formato da novidade, fazendo com que o marketing das Havaianas entrassem de cabeça no negócio. Surgia, então, o slogan "Havaianas. As Legítimas."

O número de vendas era tão expressivo que em meados de 80, os chinelos foram distribuidos nas cestas básicas da população (acredite se quiser!). E foi no início da década de 90 que o novo slogan do produto surgia. "Havaianas. Todo mundo usa." era uma referência aos diversos artistas brasileiros que apareciam pelas cidades desfilando casualmente suas Havaianas. Além disso, o boom da publicidade em revistas representou um avanço na comunicação da empresa.

A evolução dos lucros não parou por aí. Em 1997 foi inaugurado o departamento de Comércio Exterior da empresa, com o intuito de ampliar a internacionalização do produto. A partir daí, os eventos esportivos ganharam força dentro da empresa. Na Copa do Mundo de 1998, por exemplo, os chinelos ganharam uma pequena decoração da bandeira do Brasil, suficiente para chamar a atenção de todo o mundo e virar item de desejo em muitos países. Estrangeiros passaram a comprar Havaianas em nosso país e levar para suas casas, ampliando a visualização do produto, chamando a atenção dos veículos de comunicação do exterior. Essa atuação internacional é tão expressiva que desde 2003 as Havaianas são presenteadas para os indicados ao Oscar.

A conclusão do processo de internacionalização da marca Havaianas se deu através da segunda etapa realizada. Em 2007 a empresa inaugurou sua sede em Nova York, nos Estados Unidos, e em 2008 constitui base física na Espanha, em Madrid. Além disso, a China é, hoje, um dos grandes consumidores dos chinelos.

Fica evidente o caminho contrário que as Havaianas seguiram para se internacionalizar. Ao invés de se adaptarem ao padrão de consumo dos outros países, os chinelos tornaram-se marca registrada dos brasileiros. Os clientes internacionais não estão comprando um produto adaptado, mas sim, um produto original, como se comprassem uma parte do Brasil. Este quase patrimônio brasileiro é apreciado no mundo todo, deixando de ser aquele famoso chinelo de pobre vendido nas feiras brasileiras.

Escrito por: Denis Araujo

9 de out. de 2009

O Maior Prêmio de Barack Obama

Todos os anos o Prêmio Nobel da Paz é entregue aos indivíduos que mais se destacaram no mundo por suas atuações voltadas para o bem social, para a promoção da paz e resolução de conflitos. Importantes ativistas da história da humanidade foram premiados, como Martin Luther King Jr., Madre Teresa de Calcutá, Dalai Lama e Nelson Mandela. Outros importantes agentes foram premiados, a exemplo de Linus Pauling (aquele mesmo das aulas de química), Henry Kissinger, Óscar Arias, Mikhail Gorbachev, Shimon Peres, José Ramos-Horta, Al Gore, entre outros. Houveram, ainda, premiações para entidades inteiras, como os vários prêmios recebidos pela Cruz Vermelha, Organização das Nações Unidas, Anistia Internacional etc.

Hoje o mundo conheceu o ganhador do prêmio neste ano de 2009. Barack Obama entra para a galeria dos presidentes norte-americanos já premiados, composta por Theodore Roosevelt, Thomas Woodrow Wilson e Jimmy Carter. Nas entrevistas, o atual líder dos Estados Unidos se mostrou surpreso e bastante feliz. Mas não foi só ele que se sentiu assim. O mundo foi surpreendido por tal nomeação, dividindo opiniões e gerando críticas.

O premiado foi aplaudido pelo mundo e pelos cidadãos de seu país, enchendo a todos de orgulho e admiração. Contudo, as críticas se voltam para sua tão precoce vitória, visto que Obama ainda não teve tempo para agir de maneira contundente nas questões centrais conflituosas que seu país está envolvido, e outras da ordem do Direito Internacional, como a solução aos problemas de Cuba e aos prisioneiros de Guantánamo.

Há, ainda, boa parcela da população que foi responsável pela queda de popularidade e aprovação do presidente no comando norte-americano. Problemas no sistema de saúde, emprego e economia, tornaram-se questões centrais das práticas internas do atual governo, práticas estas ainda sem grande efetividade. Entretanto, ao apurarmos a política externa dos Estados Unidos e ao compararmos esta com as anteriores, podemos perceber, claramente, grandes diferenças de atuação, opinião e análise.

Obama não teve tempo para realizar as transformações que planejou em todo o seu programa de governo. É um fato óbvio, afinal os Estados Unidos, além de terem uma grande bomba interna para resolver (agravada com a crise financeira), estão envolvidos em questões muito complicadas externamente. Mais do que isso, os EUA sempre chamaram, e chamarão, atenção do mundo, visto que muitas decisões dependem destes para serem realizadas.

E por tantas decisões importantes necessitarem de um aval norte-americano, Obama merece sim a premiação. Não por ser o Prêmio Nobel da Paz - ou por ter atuação melhor que os outros indicados, mas sim porque já mostrou ao mundo que quer ser diferente. Que é diferente. Mal entrou no poder e já colocou em prática seu plano de resolver a questão dos presos em Guantánamo, inserir Cuba, novamente, em sua pauta de negociações, alterar o plano de atuação no Iraque e dar maior atenção às situações no Afeganistão.

O maior prêmio de Barack Obama não foi o Nobel. Seu prêmio maior foi ganhar o chamado do mundo. É a oportunidade que os Estados Unidos têm de fazer diferente, de promover aquilo que todos esperam de uma nação hegemônica, que tem muitos recursos para promover tantas coisas importantes para a humanidade. E que assim prossiga.


Escrito por: Denis Araujo

7 de out. de 2009

Rio 2016: Uma Balança na América do Sul

A euforia ainda não passou. É provável que até agora o Rio de Janeiro esteja fazendo a festa. Aquele anúncio da sede dos Jogos Olímpicos de 2016 fez o Brasil ferver. Mas nem tudo é festa.

Borbulham por aqui e nos países vizinhos uma série de críticas ao Brasil, muitas delas reprovando o evento no país. É claro que será a primeira vez que as Olimpíadas ocorrerão na América Latina, mas isso não é uma alegria para todos. Os brasileiros dividem suas opiniões. Enquanto uns ainda pulam de alegria e o farão até 2016, outros estão preocupados.

Superfaturamento, desvio de verba, ampliação de investimentos para a estrutura dos jogos e diminuição de inversões na saúde, educação etc. Todos estes tópicos, e muitos outros, aparecem na lista de indagações de parcela da população (a mais realista eu diria).

Na Argentina, a repercussão da notícia mexeu com a opinião pública. Muitos comentários acerca do Brasil surgiram, dizendo que o país continua desenvolvendo sua imagem externa (principalmente pelo forte marketing do presidente Lula), ao invés de cuidar de sua realidade interna. Além disso, o Brasil continua com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) mais baixo que Argentina e Chile, por exemplo, e com condições de vida piores.

Que vale mais: ser a sede da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, ou priorizar o desenvolvimento do país? Tenho certeza que uma coisa está atrelada à outra. E o jornal argentino Olé afirmou: "Hasta acá nos ganan!".

É mesmo uma balança de opiniões na América do Sul.

Escrito por: Denis Araujo

30 de set. de 2009

¿Y Ahora Brasil?

Quando o chanceler Celso Amorim afirmou que o Brasil não participou do plano para abrigar Zelaya na embaixada brasileira em Honduras, a oposição ao governo, a mídia nacional e o mundo, ficaram com enorme desconfiança e com um gigantesco ponto de interrogação na cabeça. E este ponto de interrogação também sobrevoa os céus deste Silêncio Cotidiano. Afinal, se o Brasil não auxiliou, como foi que o presidente deposto em Honduras foi parar na nossa embaixada? Vamos apurar alguns fatos.

Honduras vive um momento de completa instabilidade política. O presidente deposto Zelaya tentou se reeleger e acabar com a oposição no país. A oposição, por sua vez, tomou posse e tirou do governo o mandatário, ameaçando-o inclusive. O presidente deposto fugiu às pressas do país, com evidente fama de "coitado". Veio parar no Brasil, pedindo ajuda à maior democracia do mundo.

Mas também é evidente que a bandeira socialista da América Latina não ficaria imóvel. Hugo Chávez, presidente venezuelano, mexeu alguns pauzinhos e lá estava ele, abraçando Zelaya, abraçando Lula e traçando um pequeno plano secreto para conseguir levar o ex-lider hondurenho de volta ao seu país.

Dias depois lá estava o presidente deposto, dentro da embaixada brasileira em Honduras. E o governo do Brasil jurando que nada tinha a ver com isso. Isso pode até ser verdade, porque quem saiu ganhando com isso foi Hugo Chávez e a bandeira esquerdista da América Latina. É óbvio, afinal o venezuelano se aproveitou da vulnerabilidade da situação para lançar um plano "salvador" e sair como herói nesta história. O Brasil, sendo a maior democracia deste continente, tendo uma diplomacia bastante pragmática e costumeiramente sendo o herói na maior parte de situações que se envolve, levou a pior. Ficou no meio de um terrível jogo de interesses, situado na grande plataforma política venezuelana.

E agora, Celso Amorim?


O Silêncio Cotidiano agradece seus leitores e o faz pela ótima marca de mais de cinco mil visitas. Não deixem de ler, não deixem de comentar. Este é o mundo em que vivemos, aquilo que pensamos e tudo o que não dizemos.


Escrito por: Denis Araujo

21 de set. de 2009

Cinco Anos Para a Copa do Mundo no Brasil. E Agora?

Lembro de quando assistia programas esportivos, em que mostravam figuras carimbadas do jornalismo esportivo brasileiro falando sobre aquela fatídica final de Copa do Mundo contra o Uruguai, em pleno Maracanã, no ano de 1950. Aquelas imagens em preto e branco retratam um cenário diferente do atual, com mulheres bem vestidas e homens trajando terno e chapéu, lotando as arquibancadas do estádio (eram aproximadamente 200 mil torcedores). Cinquenta e nove anos se passaram desde então e quando a Copa do Mundo voltar ao Brasil em 2014, serão 64 anos de diferença. O que terá mudado?

No início da década de cinquenta, o mundo vivia um momento pós-segunda guerra mundial. Os países estavam se reconstruindo, a economia voltava a se fortalecer e os EUA saíram como os maiores vitoriosos, acompanhados pela sua adversária URSS. A Guerra da Coréia começava, gerando as primeiras tensões da Guerra Fria. No Brasil, Getúlio Vargas era eleito novamente, consolidando as leis trabalhistas, aplaudido pela maior parte da população brasileira e gerando mais desconfianças da oposição. Naquela época, o futebol ainda trilhava um caminho de sucesso, rumo ao estrelato. Tornava-se, cada vez mais, o esporte mais popular de todo o mundo. E o Brasil já figurava entre os países em que mais se valorizava a atividade.

Mas como estaremos daqui há 5 anos? Uma coisa é certa: muita coisa vai mudar até lá. Coisas simples já estão acontecendo. Basta prestar atenção na quantidade de locais nas capitais em que a sinalização está sendo trocada, com placas contendo dois ou mais idiomas. O transporte ferroviário de São Paulo é um exemplo disso, bem como os shoppings e locais turísticos. É evidente que isso não representa nada frente a todas as mudanças que deverão ocorrer. O 'Boom' hoteleiro será visível, assim como o cuidado com a estética das paisagens do país, passando pela evolução nos transportes e nas vias. A quantidade de empregos gerados será impactante, criando um ciclo econômico bastante vantajoso.

Por mais que problemas políticos e sociais ainda existam aos montes, é inegável que o país vive um momento especial. Economia se fortalecendo cada vez mais, nível de desemprego diminuindo, controle familiar visível, entre outros aspectos. Gosto de defender que a Copa do Mundo no Brasil está para os Jogos Olímpicos em Pequim, no ano passado. Escrevi neste mesmo blog que independente do sucesso esportivo, a China teve a oportunidade de mostrar ao mundo uma Nova China, mesmo que mascarada. Foi a oportunidade de ouro para lançar-se ao mundo à todo vapor, se consolidando como uma das grandes potências mundiais.

E assim será para o Brasil. Em cinco anos, o país terá a chance de mostrar para o mundo sua nova cara. Obviamente que muitos problemas precisam ser solucionados, como a violência, a falta de segurança, o trânsito das capitais etc. Há muito que fazer e a transformação já começou. Resta saber se dará tempo para tudo isso. O mínimo precisa ser alcançado e o Brasil precisa mudar. O que certamente não mudará é o brasileiro.

Escrito por: Denis Araujo


11 de set. de 2009

11/09: O Dia do Silêncio nos Estados Unidos.

Quando me perguntam o porquê de eu ter escolhido estudar Relações Internacionais, gosto sempre de contar um pequeno episódio da minha vida (que na realidade se tornou um capítulo inesquecível). O ano era 2001 e eu estava apenas na quinta série do ensino fundamental - creio que hoje esta série chama-se sexto ano. Era um dia como outro qualquer, exceto a partir do momento em que regressei da escola. Ao chegar em casa, na ansiedade de assistir o programa do Chaves na hora do almoço, percebi que todos os canais da televisão estavam ligados na mesma coisa: os Estados Unidos da América estavam sendo atacados.

Eu era uma criança de pouco mais de 11 anos, estava completamente assustado com aquilo. Aviões explodindo nos muros do World Trade Center (prédios que até então eu desconhecia, visto que em Nova York eu pensava que somente existia a Estátua da Liberdade e o Central Park). Depois desse dia me apaixonei pelos noticiários, pelas guerras, conheci a geopolítica, as relações internacionais e alimentei o sonho de cursar na faculdade algo que unisse tudo isso e mais um pouco.

Obviamente que eu sou apenas um grão de areia neste imenso deserto de pessoas que tiveram suas vidas alteradas com os atentados do dia 11 de setembro de 2001. E desde este ano, o ocorrido é lembrado em Nova York com minutos de silêncio (a cidade realmente fica imóvel). Uma das maiores capitais financeiras, culturais e políticas de todo o planeta, fica de cabeça baixa, de olhos fechados, relembrando as cenas e as dores daquele dia.

Osama Bin Laden passou a ser celebridade no mundo todo. Uns dizem que ele já está morto, outros afirmam que ele está escondido. Mas é certo que ele é apenas um nome, dentre tantos, em uma organização radical que balançou o país mais inatingível da história. O atentado às Torres Gêmeas foi o primeiro, e único, ataque sofrido pelos EUA em seu território, em toda a sua história.

A força do ataque é sentido até nos dias de hoje. Mas muito mais do que a violência, a força ideológica deste dia é infinita, de tal modo que marcou as páginas da história contemporânea. Este fato mudou todo o conceito de segurança, estratégia, política e as relações internacionais, como um todo.

Meu silêncio para os americanos. E meu silêncio para os afegãos e iraquianos que sofreram todo o contra-ataque norte-americano.

Escrito por: Denis Araujo


7 de set. de 2009

7 de Setembro: o Feriado Mais Reflexivo do Ano.

É Dia da Independência! Dia de ver a Esquadrilha da Fumaça fazer o mesmo show colorido de sempre, de ver os mesmos tanques de guerra desfilarem, de ver os mesmos soldados marchando e todas as manifestações que o brasileiro está acostumado. Porém neste ano de 2009 tivemos um feriado de 7 de Setembro que será relembrado por muito tempo.

Para começar, vamos falar do dia 5 (sábado). Maradona, obviamente, não teria o mesmo sucesso que o técnico Dunga. Ambos são grandes ex-jogadores, especialmente o argentino que é tido como o Deus do Futebol para os portenhos. Ele pode até ser
Dios, mas não é líder. O brasileiro, por sua vez, teve uma carreira recheada de altos e baixos, mas sua liderança sempre foi impecável. Quem se recorda da Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, deve lembrar da fisionomia de Dunga ao cobrar aquele penalti contra a Itália, na final - um verdadeiro guerreiro cobrando penalidades máximas!

O engraçado é ver a rivalidade entre brasileiros e argentinos, algo que se estende há muitos anos. O que poucos sabem é que a rivalidade existe mesmo antes do futebol chegar aqui no continente. O que me entristece é ver que esse embate, que deveria se reduzir apenas aos gramados, torna-se frequente fora destes. É incrível a quantidade de pessoas que ouço falando mal dos argentinos, ofendendo-os. E vice-versa.

Contudo, acreditem se quiser: brasileiros e argentinos têm muito em comum e dependem muito um do outro. Desde o início da crise financeira instalada na metade do ano passado, a mídia portenha sempre destacou o quanto a Argentina deveria se apoiar no Brasil para sair desta crise. A mídia brasileira, por sua vez, mostrou que o Brasil tinha todos os instrumentos necessários para se fortalecer, e um deles seria justamente aproveitar das oportunidades com seus maiores parceiros. E um dos maiores é a Argentina, sem sombra de dúvidas.

Continuando minha análise sobre o feriado, chegamos ao domingo, dia 6. Em rede nacional, o presidente Lula discursou sobre o Pré-Sal. Até o mais leigo no assunto compreendeu a importância que esta descoberta representa para o país. E fazendo um link, chegamos ao dia 7, com a Independência sendo comemorada, e junto com ela as comemorações do maior acordo militar já realizado pelo Brasil, juntamente com a França.

Pré-Sal e armas têm bastante em comum. Mas não se preocupe, o Brasil não entrará em guerra. Este armamento do país é muito mais ideológico do que efetivo. Defender o Pré-Sal é mais uma questão de imposição ideológica, do que imposição militar.

O Dia da Independência se foi, mas certamente ainda ouviremos falar muito de Brasil x Argentina, Pré-Sal e acordos militares. O que será que o próximo feriado reserva para nós brasileiros?

Escrito por: Denis Araujo

27 de ago. de 2009

Marketing, Cultura, Globalização e Sucesso: o Aroma do Café Starbucks

Não é de hoje que o café faz parte do cotidiano dos brasileiros. Na realidade, este produto faz parte da história da formação econômica do Brasil, tornando-se ao final do século XIX e início do século XX, o grande impulsionador do desenvolvimento do país, perdendo seu poder apenas em 1929, com a crise financeira. Os grãos eram o principal produto de exportação do país, que espalhou pelo mundo um produto fortemente apreciado não somente pela nobreza, mas por todas as pessoas de uma maneira geral.


Contudo, o que nem todo mundo sabe é que o café não foi importante somente para os países exportadores, como o caso do Brasil. Este produto tornou-se essencial para Howard Schultz, presidente da Starbucks – a maior rede de cafeterias do mundo. Em 1982, em uma simples cafeteria de Seattle, nos Estados Unidos, o então gerente de uma fornecedora de máquinas de café viu sua vida se transformar, ao sentir o aroma de um bom café e ao observar as caixas estrangeiras dos grãos que estavam empilhadas do outro lado do balcão da pequenina Starbucks. Aquela sensação fez com que Howard entrasse de cabeça no negócio, adquirindo-o mais tarde com o auxílio de alguns investidores.


O executivo passou, então, a trabalhar firme na criação de um novo conceito para sua loja. Por mais que o café já fosse um grande diferencial, o produto ainda não era suficiente para atrair clientes, ainda mais nos Estados Unidos, que já desenvolvia seu american way of life baseado na onda dos fast-foods. Contudo, isso tudo mudou em uma viagem de Howard para Milão. Na Itália, o empresário encantou-se com os bares de café expresso, que chamavam a atenção por seu charme, sua cultura e popularidade. A partir disso, a loja Starbucks começou a ganhar os traços iniciais da sua fama, que foi impulsionada pelos lattes e mochas, nunca antes provados em Seattle, tampouco no restante dos EUA.


Hoje, a rede Starbucks preza pelo conceito de ser a “terceira” na vida de todos. Terceira por se situar depois da casa e do trabalho de cada um, tornando-se um lugar propício para encontros, reuniões, momentos descontraídos, descanso, reflexão ou para simplesmente tomar um bom café. Atualmente existem 15 mil lojas, espalhadas em 44 países, oferecendo em qualquer um destes, um ambiente bastante acolhedor. Em qualquer um destes, justamente porque a loja que se encontra nos Estados Unidos tem a mesma “cara” da loja que se encontra no Brasil, no Japão ou na França.


A internacionalização da marca seguiu os moldes básicos da internacionalização de qualquer outra empresa: o mercado interno já estava saturado e, buscando novas alternativas de lucro, a rede Starbucks apostou na expansão para o mercado externo, inicialmente para o leste asiático, posteriormente para América Latina, Europa e Oriente Médio. A ousadia foi além, com o serviço de café da marca nos voos da United Airlines.


Porém, a internacionalização da marca Starbucks teve que se adequar às necessidades de cada país. No Brasil, por exemplo, foi acrescido no cardápio o famoso pão de queijo e os muffins salgados, além de um sistema de processamento de grãos para café expresso diferenciado, que recebeu o nome de “Brasil Blend”, tudo para atrair os clientes do maior produtor e segundo maior consumidor mundial de café. Hoje existem dez lojas Starbucks no país, todas na capital paulista.


Fica evidente que para a rede Starbucks tornar-se a quarta marca mais influente no mundo, Howard Schultz e sua equipe tiveram que observar tendências particulares dos países, com a finalidade de unir toda a gama cultural necessária para fornecer aos clientes o mesmo tratamento fornecido nas lojas americanas. A criatividade, por si só, não teria sido suficiente, se não fosse a capacidade de empreendedorismo dos executivos, somada ao processo de globalização dos países.


Entretanto, a globalização também teve seu lado ruim para a empresa. A crise financeira que se instalou no ano passado e seguiu neste ano fez com que o lucro caísse bastante, fazendo com que os diretores entrassem em alerta. Para solucionar este problema, medidas eficientes e diretas foram aplicadas. Em primeiro lugar, Howard Schultz criou o cargo de principal executivo de criação, cujo trabalho é repensar o ambiente das lojas. Em segundo lugar, demitiu 220 funcionários de diversas áreas e fechou outras 380 vagas abertas nos Estados Unidos. Posteriormente, comprou a fabricante das máquinas Clover, uma das favoritas dos amantes de café. Ele também tirou do cardápio da Starbucks uma linha de sanduíches quentes, servidos no café da manhã, visto que os consumidores reclamavam que as lojas ficavam com cheiro de lanchonete de fast food. Além disso, passou a investir em um canal de fidelidade dos clientes. No exterior, as lojas Starbucks também tiveram que se adequar, e a palavra de ordem foi "cresçam!".


Mas o principal passo foi a criação de um blog para receber sugestões e críticas de consumidores, que são comentadas por executivos da rede. Esta inovação é, sem dúvidas, a maior de todas, adequando-se a uma sociedade que se moderniza a cada dia.


O que mais me agrada nas lojas Starbucks é a incrível sensação de conforto. Quem já experimentou tomar um bom café e bater um papo, sentado em uma daquelas poltronas ou sofás, ouvindo um bom pop-rock ambiente, sabe do que estou falando. Cafeteria americana de bairro + grãos de café estrangeiros + charme italiano + uma boa pitada de criatividade e empreendedorismo + cultura + globalização = um dos cases de maior sucesso de toda a história dos negócios.


Escrito por: Denis Araujo

10 de ago. de 2009

Bem-Vindo?

Ano da França no Brasil. Confesso que, como muitos brasileiros, não procurei saber o porquê deste ano ser considerado assim, porém resolvi aproveitar um dos diversos eventos culturais que estão sendo promovidos, ou seja, o melhor deles: o cinema.


Não sou um grande fã dos filmes franceses. Uma fotografia quase sempre fria, movimentos demorados, falas longas, que fazem com que o filme ganhe um ritmo bem lento. Sem dúvidas isto acontece com o filme “Bem-Vindo”, porém de maneira menos explícita. Na realidade, o que chama a atenção no filme são os detalhes da travessia de imigrantes clandestinos pela Europa, uma realidade que vai além das telas.


A União Européia cria leis cada vez mais duras, para evitar que imigrantes ilegais cheguem ao continente. O alvo destes sempre são os países mais desenvolvidos, como Inglaterra, França, Alemanha e Espanha. A maior parte destes viajantes é de origem africana e, principalmente, do Oriente Médio. A grande reclamação dos residentes legais destes países é que os imigrantes ocupam parcela significativa dos empregos dos países, fazendo com que muitos nativos fiquem sem emprego ou tenham que disputar emprego com os viajantes. E a justificativa principal dos ilegais é que precisam arrumar um trabalho melhor remunerado para enviar dinheiro às suas famílias, além do bem-estar social que podem alcançar.


Recomendo o filme, principalmente pelos detalhes dos problemas dos imigrantes. Viajam escondidos em caminhões, passam frio, fome, e muitos deles morrem na travessia. E um deles, no desejo de encontrar sua amada na Inglaterra, resolve treinar para atravessar o Canal da Mancha a nado visto que, se para entrar na França ele quase perde a vida, imagina o que aconteceria para chegar em Londres? Talvez nadar não seja a melhor alternativa, mesmo. Provavelmente ele poderia desistir e ficar em um lugar melhor. Mas como não poderia de ser, o filme precisou de um tempero maior para fugir da lentidão dos filmes franceses.


Somam-se a isso as diferenças culturais e o preconceito no continente europeu. O governo, sempre rígido, recomenda que os estabelecimentos fiquem atentos aos “diferentes”. E qualquer indivíduo europeu que ajudar algum imigrante ilegal será punido com a lei européia. Ou seja, jamais ajude seu semelhante na Europa, ou será julgado como qualquer outro criminoso.


Escrito por: Denis Araujo

4 de ago. de 2009

Boa Noite Vizinhança!

Que o Brasil é o país do futebol todos sabemos. Que o Brasil possui o maior território da América Latina, a maior parte da população também sabe. Porém o que muitos não sabem é que o país nem sempre foi esse vizinho bondoso que temos visto ultimamente. Na realidade, a situação do país frente à nova ordem mundial que se configura neste momento praticamente de pós-crise financeira é o que define se somos, ou não, bons vizinhos na América do Sul.


Mas afinal, qual a relação que existe entre a crise financeira mundial e a boa vizinhança continental? É algo simples de se estabelecer. Quando o terremoto na economia global começou, todos os países poderosos estavam em alerta vermelho, e os países de economia emergente, por sua vez, não queriam testemunhar a queda de seus grandes parceiros comerciais, logo obviamente todos desmoronariam. Porém dentre estes, alguns se destacaram, como foi o caso da China, da Índia e, no nosso caso, o Brasil. Banco Central, Ministério da Fazenda e presidente Lula previram, juntos, que o país sairia da crise mais fortalecido, mesmo sofrendo alguns abalos bastante perceptíveis.


Nos anos AC (Antes da Crise), o Brasil almejava obter um importante destaque no continente, se consolidando como a grande potência da região. Os vizinhos, em contra partida, olhavam com desconfiança. Paraguai, motivado pelos problemas de Itaipu e dos Brasiguaios, tratava os brasileiros com certo ar de inferioridade, chegando a taxar-nos de imperialistas. Bolívia ainda tinha muito que discutir com o governo brasileiro sobre o fornecimento de gás, para não sair perdendo nessa corrida pelo poder. Argentinos e mexicanos não somente deixavam para lá essa história de “Brasil Potência”, como também lutavam pelo título de liderança continental.


Vivendo a crise, nossos vizinhos passaram a nos ver de maneira mais especial, deixando as diferenças de lado e querendo agarrar na saia do Brasil para não sofrerem tanto. Os principais jornais dos países que compõem o MERCOSUL falavam o tempo todo sobre a importância de se firmar parcerias com o Brasil, visto que este possuía o maior potencial de sair fortalecido da crise.


Agora estamos vivendo um momento quase que DC (Depois da Crise). Alguns reflexos ainda existem, mas é notório o poder de recuperação do país. Essa recuperação traz à tona toda a ambição que o país tem de começar a ditar um pouco mais as regras do jogo. Deixar o país no caminho do topo da pirâmide é a maior ambição do presidente Lula neste final de mandato e isso ele já está fazendo. Os problemas sociais internos obviamente existem e espero que veja esse quadro se alterar cada vez mais, porém vejo que o Brasil finalmente ganhou um destaque mais visível nas relações internacionais como um todo.


E a política da boa vizinhança é o maior instrumento que o governo tem nas mãos. Estreitar as relações com os Estados Unidos e Europa, manter boa relação com os países asiáticos, realizar importantes e inovadores acordos com países africanos, transformar as relações Sul-Sul em um importante canal de desenvolvimento e, principalmente, consolidar as relações entre os países latino-americanos, especialmente os sul-americanos, em todos os aspectos, são algumas das atitudes que o Brasil está tomando e que certamente prosseguirá executando.


Não considero um erro grave o acordo feito recentemente entre o governo paraguaio e o brasileiro. O Brasil aceitou pagar praticamente três vezes mais o que pagava para obter a energia gerada em Itaipu, e o consumidor brasileiro é quem está reclamando, visto que é o verdadeiro pagador desta dívida. Contudo, pior erro seria manter este grave problema bilateral sem resolução. A boa vizinhança se faz assim: eu te dou uma xícara de açúcar, você me dá uma colher de sal e ambos esperamos que nossa relação permaneça amigável, para o caso de necessitar ajuda novamente.


Escrito por: Denis Araujo

24 de jul. de 2009

A Sociedade Brasileira e a Embriagues Político-Ideológica

A nova catástrofe que ecoa sobre a democracia, baseada esta em um conceito de total participação do povo, teve suas estruturas abaladas mais uma vez com a nova onda de denúncias e irregularidades vinculadas, desta vez, ao senado federal. Porém, muitos de nós, a massa da população brasileira, já se acostumou com tal tipo de notícia. Após o escândalo do mensalão eis que surgiu uma nova era na política brasileira; uma eclosão de CPIs, comissões, com a finalidade de se resolver o maior problema da política na atualidade, ou seja, a impunidade, esta que não decorre apenas de cassação ou suspensão de mandatos, mas sim que deveria ser, talvez, algo mais rígido, tendo em vista que alguns países adotam o extremo ao mandar para a “guilhotina” os políticos que assim se desvirtuaram.

Mas o que deveria ser uma solução acaba por vezes sendo mais uma ferramenta no campo do marketing político, ou seja, alguns vêem nesta uma oportunidade de assim se livrarem dos seus inimigos políticos ou simplesmente mostrarem serviço aos olhos do povo.

Embriagados pelos discursos, a população vê mais um motivo para desacreditar neste sistema democrático, sendo as eleições senão a escolha do menos pior e não daquele que realmente irá fazer a diferença, neste sistema enfraquecido pela própria falta de informação, independente de qualquer classe social ou visão política.

Partindo do pressuposto que não há um indivíduo responsável, mas sim um sistema, isso nos recorre a olhar os partidos políticos que habitam nossos senados, nossas câmaras e nossas prefeituras; se analisarmos as atividades dessas instituições, perceberemos o uso excessivo da ideologia política. Não que isso possa ser ruim ou bom, mas para entendermos os fatos é preciso ressaltar o que realmente importa - muitas das discussões no senado decorrente de um projeto de lei existe simplesmente pelo embate que há decorrente de uma visão ideológica diferente entre partidos não coligados. E cada um possui a motivação de defender os princípios gerais dos seus partidos, logo as consequências não poderiam ser diferentes, os escândalos, a luta pelo poder e, com ela, a corrupção, é o resultado de que os fins justificam os meios. Sendo assim, o partido acaba virando uma “criatura” com sentimentos e desejos, que cabe aos nossos políticos escutá-los ou não.

Fato é que aqueles que ousam não escutar acabam sendo pressionados pelo próprio sistema e, cedo ou tarde, acabam tomando uma posição. A sugestão deste texto não é incitar o leitor a fazer uma revolução, mas instigá-los a pensar nesses escândalos como fator proeminente de um sistema, e não das pessoas que ali estão sendo acusadas (isso ficaria a cargo da lei do nosso país em fazê-lo).

A sociedade, assim, espera ansiosamente por uma solução; deve ele, José Sarney pedir apenas um afastamento ou deixar sua poltrona de vez? Cada partido já expressou sua opinião, esses mesmos que fazem questão de dividir em: oposição e governo, gerando assim uma “guerra fria” sem previsão para o fim. Os mesmos que em discursos se dizem tanto em pról da democracia acabam, mesmo que inocentemente, criando um sistema, em que a maioria prepondera a minoria, criando um estado de demagogia desnecessária. A grande questão que vos deixo é: será que o Brasil, em plena “expansão” econômica, conseguirá por sua vez conciliar também uma expansão política, no sentido de evoluir o seu próprio conceito? Ou repetiremos nossa história de sermos apenas colônias, nos aproveitando apenas do nosso tamanho, enquanto os outros se aproveitam de nossa ignorância?

Escrito por: Filipe Matheus

7 de jul. de 2009

Ele Gostava de Falar em Inglês

Semana passada resolvi crer, novamente, no potencial das produções cinematográficas brasileiras e fui ao cinema assistir ao filme Jean Charles. Não me arrependi e confesso que fiquei um tanto quanto surpreso. O filme é bem feito, os atores foram bem selecionados e nos transmite uma mínima parcela da tristeza do caso.

O ano era 2002. De origem simples, Jean Charles de Menezes (brasileiro, de origem mineira) fez o que milhares de brasileiros fizeram e continuam fazendo aos montes. Percebendo a necessidade de sua família e buscando uma condição de vida melhor, Jean resolveu viajar para a Europa e instalou-se em Londres, na Inglaterra, entrando no país com um visto estudantil. Trabalhando e ganhando em libras, seria teoricamente mais fácil de juntar boas economias e enviá-las para seus pais no Brasil.

Em pouco mais de quatro meses na capital inglesa, o brasileiro já dominava bem o idioma e fez bons amigos, que o ajudaram no início de sua nova vida na Europa. Jean era conhecido por todos como um indivíduo de coração enorme, sempre disposto a ajudar. Oficialmente eletricista, o mineiro de origem simples passou a ganhar dinheiro ajudando os brasileiros com vistos de permanência no país, em troca de favores. E assim ele ia aumentando seu círculo de amizades na terra dos Beatles.

O ano era 2005, mais precisamente 7 de Julho, em uma quinta-feira. O mundo chocou-se com os atentados terroristas em Londres. Quatro grandes explosões ocorreram na capital inglesa (três nos túneis do metrô e uma em um ônibus), na hora do
rush. Mais de cinquenta e duas mortes confirmadas, com mais de setecentos feridos. Na época, a capital inglesa estava sediando mais um encontro do G8 e tinha acabado de ser escolhida como sede dos Jogos Olímpicos de 2012.

A Scotland Yard (o FBI inglês) foi acionada, então, para realizar uma grande busca atrás dos verdadeiros culpados deste trágico episódio. Os agentes especiais passaram a analisar todas as gravações das câmeras de segurança das estações de metrô e da região, além de investigar qualquer pista que lhes fosse interessante.

Segundo o Censo de 2001, 71,15% dos londrinos são compostos pela etnia branca (59,79% de origem britânica, 3,07% de origem irlandesa e 8,29% outras origens como polonesa, grega, italiana e francesa); 12,09% são de etnia asiática (Índia, Paquistão e Bangladesh, na sua maioria); 10,91% são de etnia negra (7% negros-africanos, 4,79% negros-caribenhos e 0,84% de outra origem); 3,15% são mestiços; 1,12% são de origem chinesa; 1,58% são de outras origens (principalmente Filipinas, Japão e Vietnã).

De acordo com este mesmo censo, haviam cerca de 60 mil de brasileiros residindo em Londres, o que fazia o Brasil ocupar a oitava posição no ranking de nacionalidades mais representadas numericamente na capital inglesa. Antes do Brasil, somente estavam Quênia, Paquistão, Nigéria, Jamaica, Bangladesh, Irlanda e Índia.

O calendário marcava 22 de Julho de 2005, precisamente quinze dias depois dos ataques em Londres. Uma importante pista encontrada pelos agentes da Scotland Yard levou a inteligência inglesa à um bloco de apartamentos. Os policiais deveriam estar observando três homens, de aparência somali ou etíope. Entretanto, eles avistaram Jean Charles de Menezes saindo para trabalhar e assim passaram a vigiá-lo. Ao embarcar em um dos trens da estação Stockwell, o brasileiro foi abordado pelos agentes e alvejado por estes.

Existem controvérsias sobre o ocorrido. Mas o fato é que hoje é dia 7 de Julho de 2009, quatro anos depois das explosões que chocaram Londres e o mundo, e logo mais será dia 22, marcando o quarto aniversário da morte de Jean. Marcando o quarto aniversário da injustiça. Os britânicos orgulham-se por fazerem parte de uma das economias mais poderosas de todo o planeta, de possuírem um elevado nível de vida, de ser o palco da cultura, da moda, da música e da história. Realmente eles têm do que se orgulhar, contudo a aclamada Scotland Yard deixou de lado a hombridade, o respeito e o bom senso.

Mais do que isso, visto que o crime ocorreu em terras estrangeiras, a polícia brasileira nada pode fazer. A investigação inglesa mostrou que a atuação dos agentes foi completamente equivocada e a mídia britânica mostrou ao mundo evidências de que Jean Charles não tinha nenhum vínculo com os atentados terroristas. Porém nada ocorreu com os policiais da Scotland Yard. Estão em liberdade, enquanto o governo brasileiro nada pode fazer, a não ser publicar em nota oficial, a partir do Ministério das Relações Exteriores:

"o governo brasileiro ficou chocado e perplexo ao tomar conhecimento da morte do brasileiro, aparentemente vítima de lamentável erro. (...) o Brasil sempre condenou todas as formas de terrorismo e mostrou-se disposto a contribuir para a erradicação desse flagelo dentro das normas internacionais, aguardando explicações das autoridades britânicas sobre as circunstâncias da morte de Jean Char
les."

E até hoje os familiares e amigos do brasileiro aguardam explicações e providências.

Mais do que um filme, uma verdadeira história de alguém que teve a vida interrompida friamente por aqueles que "se enganaram". Muito mais do que uma história, uma lição, para que as aparências não permitam enganar nunca mais.


Jean Charles de Menezes
7 de Janeiro de 1978 - 22 de Julho de 2005


Rest in Peace. Porque ele gostava de falar em inglês.



Escrito por: Denis Araujo

9 de jun. de 2009

O Maior Diplomata do Brasil é o Futebol?

A Copa do Mundo de Futebol está logo alí, na África do Sul, como diria o apresentador e repórter futebolístico Fernando Vanucci. E como é de costume, as seleções disputam as eliminatórias para que sejam classificadas apenas as melhores para o maior torneio mundial do esporte.

A mídia futebolística também parou esta semana para anunciar a contratação do jogador Kaká pelo Real Madrid, em uma transação milionária, como também é de costume por parte dos Merengues. Por outro lado, Luís Felipe Scolari, técnico pentacampeão com a seleção brasileira em 2002, anunciou que trabalhará no Bunyodkor, do Uzbequistão.

Não meus caros leitores. O Silêncio Cotidiano não virou uma agência de notícias esportivas. Contudo, o autor que vos fala resolveu questionar: será que o futebol brasileiro chama mais atenção no mundo do que pensavamos? E mais: será que a diplomacia do futebol é válida?

Reza a lenda que o Santos de Pelé foi capaz de parar uma guerra. A nova tentativa agora é o acordo firmado entre dois dos maiores clubes de futebol do Brasil (e sem dúvidas as duas maiores torcidas do país): Corinthians e Flamengo. Ambos firmaram uma parceria para promover o "Jogo da Paz" na Palestina, em uma tentativa de talvez amenizar os conflitos da região e fazer a população prestar mais atenção ao som da partida ao invés dos ruídos de uma guerra.

Mas será mesmo que a partida será voltada para fins sociais? Os diretores de marketing de ambos os clubes afirmam que sim. Entretanto não é bem isso que se verifica. Para começar, do lado do time carioca está o jogador Adriano, ex-Inter de Milão. O Imperador, como era conhecido em terras italianas, enfrenta um momento tempestuoso em sua carreira, carregada de momentos depressivos e sumiços dos treinos, aliados a sua ainda presente técnica e habilidade; do lado paulista, Ronaldo, eleito três vezes o melhor jogador do mundo e maior artilheiro das copas, enfrenta hoje um momento de afirmação em sua carreira, afinal de contas passa por uma situação pós-cirurgia, somado ao sucesso repentino no clube do Parque São Jorge. O Fenômeno, como é conhecido, ainda é embaixador da Unicef e a todo o momento conversa com seus contatos para promover ações sociais no mundo, auxiliando o Corinthians na valorização internacional de sua marca.

Uma partida nesse nível certamente exige um alto custo, por mais que não se mencione. O estádio será preparado, a cidade protegida, a população avisada. Entidades do mundo todo estarão presentes. O "Jogo da Paz" é, sem dúvidas, o "Jogo do Marketing". Será uma fantástica oportunidade de divulgar a marca de ambos os clubes pelo mundo, de uma forma positiva se o evento for um sucesso, ou de uma forma negativa, se for um grande fiasco.

Mas tenhamos a grande certeza de que a paz na região não será jamais atingida por causa de um jogo de futebol. A iniciativa é, sem sombra de dúvidas, um ato corajoso e que, por 90 minutos, poderá funcionar. O principal placar não será aquele marcado pelos telões do estádio, mas sim nas ruas em volta, na região e na causa palestina, como um todo.


Escrito por: Denis Araujo

26 de abr. de 2009

O Brasil de Hoje Não é por Acaso

Meados dos anos 90. O Brasil encontrava-se numa séria conturbação econômica. O modelo neoliberal do governo permanecia forte. As privatizações surgiam como válvula de escape, uma nova moeda e um novo plano financeiro se instalava. O desemprego, as taxas de pobreza e as denúncias de corrupção eram constantes. Na agenda de política externa, os Estados Unidos dominavam diversos tópicos. Politicamente, um jovem político iniciou a década no poder, este que passou à um senhor que pouco tempo ficou na cadeira da presidência e que poucos anos depois foi substituído por um velho sociólogo, possivelmente um teórico brasileiro das relações internacionais e que seguiu na contramão do modelo estatal de desenvolvimento.

Agora estamos no final da primeira década do século XXI, esta que logo mais passaremos a chamar de “anos 10”. A crise financeira derruba as taxas de crescimento econômico do mundo inteiro. O FMI e o Banco Mundial a todo momento divulgam novos dados e novas medidas de combate à este monstro econômico. As principais economias globais passam por sérios problemas de desemprego, desabitação, falta de crédito e liquidez, além da natural perda da hegemonia no sistema internacional. E enquanto isso, o Brasil (mesmo tendo seus problemas) passa a chamar cada vez mais atenção no cenário mundial. Mas esse fato não é por acaso.

Estamos chegando na metade do ano de 2009. Hoje o país experimenta apenas a beirada deste prato recheado chamado “crise”, sabendo que possivelmente não atingirá este recheio tortuoso. Sofremos redução no crescimento, nas taxas de emprego e nas linhas de crédito bancário? Sem dúvidas. Porém, esta redução foi muito menor do que aquela que as grandes potências sofreram e sofrem. O Brasil, hoje, está muito mais forte, favorecido principalmente pelo forte laço existente entre Estado e economia. Não é uma coincidência o fato de que a todo o momento mencionam que nosso país será um dos primeiros a sair desta crise e será um dos mais fortalecidos deste momento em diante. Além disso, o país representa uma capacidade de liderança nunca antes imaginada. E este fato também não é por acaso.

A estabilidade política em que se encontra o governo brasileiro é um marco não somente para a nossa própria história, mas para a história de toda a América do Sul e para todos os países chamados “emergentes”. A conceituada revista americana Newsweek fez um comentário bastante pertinente em sua publicação internacional desta semana: ”O Brasil vem se transformando na última década em uma potência regional única, ao se tornar uma sólida democracia de livre mercado, uma rara ilha de estabilidade em uma região conturbada e governada pelo Estado de direito ao invés dos caprichos dos autocratas”. E se antes havia uma provável disputa hegemônica na América Latina entre brasileiros, argentinos e mexicanos, hoje o que restam são apenas resquícios de richas históricas.

O Brasil é, mais do que nunca, um líder regional. E afirmo isso baseado não somente nas notícias publicadas recentemente na cobertura das grandes cúpulas e reuniões das potências mundiais, como também o que se percebe nos jornais dos países que compõem o Mercosul. Mesmo existindo certas desavenças com os paraguaios (Itaipú, Brasiguaios etc), até estes apontam nosso país como importante parceiro para sair desta crise. E assim o fazem argentinos, uruguaios, além dos membros associados Bolívia e até mesmo certos representantes venezuelanos.

O mais interessante é como o Brasil de Lula conseguiu, ao longo dos anos, mudar sua posição de aliado incondicional dos EUA para estrategista multilateral. Neorealisticamente falando, o país provou por A mas B que é possível acumular poder sem ser pela via bélica. Como citou a revista Newsweek: “(...) o poder do Brasil vem não de armas, mas de seu imenso estoque de recursos, incluindo petróleo e gás, metais, soja e carne". Além disso, o papel do Itamaraty foi fundamental para transformar o país em um dos grandes influentes no contexto internacional em diversos temas, somando-se a isso o fato do Brasil ter se tornado importante mediador dos conflitos de ideais entre grandes potências e gigantes emergentes, principalmente no que se diz respeito a agenda econômica e agrícola internacional. E o presidente Lula, por sua vez, tornou-se figura de grandiosa representação, sendo tratado como o ator “gente boa” das relações internacionais.

Independente das críticas, da vocação e da opinião política de cada um, me apoio nos comentários de importantes professores que tive e que tenho em minha formação. Estes mencionam o fato de que o bom estadista é aquele que sabe recuperar os danos da gestão anterior e dar continuidade aos pontos positivos da mesma. E isso Lula tem feito. Além disso, a projeção internacional que o Brasil assumiu foi conquistada pela figura presidencial e por seus acessores, todos inseridos no momento certo e na hora exata destas fortes conturbações mundiais.

O presidente atual não poderá mais se candidatar nas eleições do ano que vem, como manda a constituição brasileira. Dúvidas acerca dos candidatos à presidência do Brasil existem e hoje o eleitorado brasileiro aparenta estar muito mais maduro. A pergunta que fica é: “Onde será que vamos parar?”, se é que pararemos.


Escrito por: Denis Araujo

4 de abr. de 2009

Projeções de Um Fim Não Muito Distante

Doze de dezembro de 2012, data que muitos estipulam ser o fim da humanidade no planeta - como os dinossauros, estes que desapareceram de forma surpreendente, há 65 milhões de anos atrás, deixando-nos um fator histórico um tanto quanto mórbido. Fatalmente não viveremos o suficiente comemorar nosso aniversário de cento e sessenta e oito milhões de anos na Terra, como os mesmos o fizeram, tão pouco precisaríamos de um meteóro com proporções astronomicas para colocarmos um fim à nossa odisséia. Para analistas e pesquisadores do cenário atual é simples: basta que continuemos nosso processo evolutivo, ou será que poderiamos chamar de autodestruição?

Todas as religões presentes nessa “odisséia” humana tentaram de certa forma “prever” o apocalipse, colocando o foco na nossa imoralidade constante. O dia do juizo final presente nos livros sagrados e escrituras seria a grande semelhança inexorável dessas teologias. Quando ainda éramos politeístas, já existia a idéia da presença pecaminosa do homem provocando a ira dos Deuses. Na mesma época, construia-se templos aos oráculos - seres capazes de prever o futuro e que ganharam notoriedade ao relatarem conquistas antes mesmo delas acontecerem; na China, sua história conta que a dinastia Shang se deu por uma predição, no oriente deu-se com a previsão do nascimento de um messias, mas entre estas o fim dos tempos era constantemente alertada pelos próprios oráculos.

Mas por que 2012? Isto é, inúmeras teorias já foram apresentadas antes quanto ao fim do mundo em uma determinada data, mas ainda estamos aqui, não estamos? O marco inicial desta teoria foi a descoberta da civilização Maia – sociedade altamente desenvolvida com três mil anos de história, sendo esta, ao contrário do que todos pensam ,ainda existentes hoje em dia, com dialetos da língua original. Tendo uma ligação direta com os astros, os quais construiram templos e observatórios de acordo com a interpretação maia das órbitas das estrelas, tais visões chegavam perto do campo da ciência, diferente dos oráculos vistos anteriormente. Ao ser interpretada, o famoso calendário apresentava uma diversa lista de possíveis previsões feitas por eles. Mas eis que referente ao ano de 2012 nada fora escrito, como um espaço vago que esta sociedade deixou, fazendo-nos criar teses e questões, as quais de fato não passaram de especulações por não apresentarem algo concreto, pois o mesmo espaço “vazio” poderia ser entendido de diversas maneiras.

O fim ou um recomeço na civilização humana – duas possíveis interpretações, a extinção humana ou seria uma simbologia referente a uma nova era no planeta, seria ela climática ou social? Os questionamentos não param, mas é visível que o caos dos tempos atuais nos leva a olhar com certa restrição e até mesmo céticos pensam duas vezes ao questionar tal profecia.

Nossa visão nos trouxe uma grande incerteza acerca do futuro pós crise mundial (isto se conseguirmos sair dela). Sim, caros leitores, sei que este assunto lhes causam “enxaqueca”, devido a grande representatividade na mídia e casos de desemprego que não param de crescer.

Assim como as emissões de carbono na atmosfera, os pacotes assinados pelas super potências também não param de ser emitidos no sistema financeiro - ações trilionárias para ajudar nesta situação até então nunca vista anteriormente, mesmo aquela dada em 1929, em que o número de suícidios aumentaram significativamente.

Em terras brasileiras perdemos gradualmente aquilo que muitos consideram como grande jardim tropical do mundo – Amazônia está perdendo seu verde para ganharmos um futuro “negro” com o mar avançando cada vez mais. A reforma agrária já se tornara então assunto de utópicos, a crescente produção de soja e cana de açúcar nos leva a indagar até que o ponto lucro vale mais do que pessoas?.

O Oriente Médio luta para se estabilizar neste sistema ocidental, conflitos, ataques terroristas e petróleo interagem entre sí, resultando no ódio. Bem e mal não existe mais, apenas os que sobrevivem à este caos.

Na Ásia, a China faz um grande papel como alternativa econômica, mas sofrem como todos a escassez de oferta de emprego, revivenciando uma queda vista apenas trinta anos atrás, quando a mesma sofria de fome e tão pouco era vista como a super potência de hoje. A premissa de não reduzir suas emissões de lixo sendo estas jogadas no ar, no mar ou em terra, as quais neste quesito não lhes dão diferencial algum perante aos Estados Unidos, deixando-nos a seguinte questão: é possível sua tecnologia ser tão avançada para combater o lixo de sua crescente população? E os baixos salários, assim como a falta de emprego, serão estas eficientes para aquecer sua economia perante a crise?.

Em contrapartida, os indivíduos destes Estados tornam-se cada vez mais dependentes das drogas, menos confiantes, mortos de fome e sem ar de qualidade pra respirar, metaforicamente presos em um frasco como insetos esperando o último suspiro se exaurir pelos pulmões. Sendo mais pessimista, nossa situação é pior, visto que insetos não possuem a consciência de que o fim está próximo.

Estando certos os Maias, isto nos daria menos de dois anos para resolvermos quetões tão complexas, mas confiante de que sou, gostaria de deixar um desafio aos leitores. Se descobrissem hoje que é verdadeira a tese de que o mundo vai acabar antes da copa de 2014, quais problemas ao menos tentariam resolver neste meio tempo? - Viver intensamente em pról individual ou de todos, sairia pelas ruas, esperaria o fim como de fato um inseto? Ou outra alternativa?


Escrito por: Filipe Matheus