26 de abr. de 2009

O Brasil de Hoje Não é por Acaso

Meados dos anos 90. O Brasil encontrava-se numa séria conturbação econômica. O modelo neoliberal do governo permanecia forte. As privatizações surgiam como válvula de escape, uma nova moeda e um novo plano financeiro se instalava. O desemprego, as taxas de pobreza e as denúncias de corrupção eram constantes. Na agenda de política externa, os Estados Unidos dominavam diversos tópicos. Politicamente, um jovem político iniciou a década no poder, este que passou à um senhor que pouco tempo ficou na cadeira da presidência e que poucos anos depois foi substituído por um velho sociólogo, possivelmente um teórico brasileiro das relações internacionais e que seguiu na contramão do modelo estatal de desenvolvimento.

Agora estamos no final da primeira década do século XXI, esta que logo mais passaremos a chamar de “anos 10”. A crise financeira derruba as taxas de crescimento econômico do mundo inteiro. O FMI e o Banco Mundial a todo momento divulgam novos dados e novas medidas de combate à este monstro econômico. As principais economias globais passam por sérios problemas de desemprego, desabitação, falta de crédito e liquidez, além da natural perda da hegemonia no sistema internacional. E enquanto isso, o Brasil (mesmo tendo seus problemas) passa a chamar cada vez mais atenção no cenário mundial. Mas esse fato não é por acaso.

Estamos chegando na metade do ano de 2009. Hoje o país experimenta apenas a beirada deste prato recheado chamado “crise”, sabendo que possivelmente não atingirá este recheio tortuoso. Sofremos redução no crescimento, nas taxas de emprego e nas linhas de crédito bancário? Sem dúvidas. Porém, esta redução foi muito menor do que aquela que as grandes potências sofreram e sofrem. O Brasil, hoje, está muito mais forte, favorecido principalmente pelo forte laço existente entre Estado e economia. Não é uma coincidência o fato de que a todo o momento mencionam que nosso país será um dos primeiros a sair desta crise e será um dos mais fortalecidos deste momento em diante. Além disso, o país representa uma capacidade de liderança nunca antes imaginada. E este fato também não é por acaso.

A estabilidade política em que se encontra o governo brasileiro é um marco não somente para a nossa própria história, mas para a história de toda a América do Sul e para todos os países chamados “emergentes”. A conceituada revista americana Newsweek fez um comentário bastante pertinente em sua publicação internacional desta semana: ”O Brasil vem se transformando na última década em uma potência regional única, ao se tornar uma sólida democracia de livre mercado, uma rara ilha de estabilidade em uma região conturbada e governada pelo Estado de direito ao invés dos caprichos dos autocratas”. E se antes havia uma provável disputa hegemônica na América Latina entre brasileiros, argentinos e mexicanos, hoje o que restam são apenas resquícios de richas históricas.

O Brasil é, mais do que nunca, um líder regional. E afirmo isso baseado não somente nas notícias publicadas recentemente na cobertura das grandes cúpulas e reuniões das potências mundiais, como também o que se percebe nos jornais dos países que compõem o Mercosul. Mesmo existindo certas desavenças com os paraguaios (Itaipú, Brasiguaios etc), até estes apontam nosso país como importante parceiro para sair desta crise. E assim o fazem argentinos, uruguaios, além dos membros associados Bolívia e até mesmo certos representantes venezuelanos.

O mais interessante é como o Brasil de Lula conseguiu, ao longo dos anos, mudar sua posição de aliado incondicional dos EUA para estrategista multilateral. Neorealisticamente falando, o país provou por A mas B que é possível acumular poder sem ser pela via bélica. Como citou a revista Newsweek: “(...) o poder do Brasil vem não de armas, mas de seu imenso estoque de recursos, incluindo petróleo e gás, metais, soja e carne". Além disso, o papel do Itamaraty foi fundamental para transformar o país em um dos grandes influentes no contexto internacional em diversos temas, somando-se a isso o fato do Brasil ter se tornado importante mediador dos conflitos de ideais entre grandes potências e gigantes emergentes, principalmente no que se diz respeito a agenda econômica e agrícola internacional. E o presidente Lula, por sua vez, tornou-se figura de grandiosa representação, sendo tratado como o ator “gente boa” das relações internacionais.

Independente das críticas, da vocação e da opinião política de cada um, me apoio nos comentários de importantes professores que tive e que tenho em minha formação. Estes mencionam o fato de que o bom estadista é aquele que sabe recuperar os danos da gestão anterior e dar continuidade aos pontos positivos da mesma. E isso Lula tem feito. Além disso, a projeção internacional que o Brasil assumiu foi conquistada pela figura presidencial e por seus acessores, todos inseridos no momento certo e na hora exata destas fortes conturbações mundiais.

O presidente atual não poderá mais se candidatar nas eleições do ano que vem, como manda a constituição brasileira. Dúvidas acerca dos candidatos à presidência do Brasil existem e hoje o eleitorado brasileiro aparenta estar muito mais maduro. A pergunta que fica é: “Onde será que vamos parar?”, se é que pararemos.


Escrito por: Denis Araujo

3 comentários:

Raissa disse...

Muito bom o texto, como sempre!!!

Também tenho gostado do que tenho acompanhado de tudo isso, mas aguardo pelas verdadeiras "reformas" nacionais mais ansiosa do que pelo reconhecimento internacional, espero que o último comece a alterar o primeiro. Mas sei que são mudanças que se podem ocorrer ao longo de anos, anos e anosss.

parabéns mais uma vez!!!

beijo

Douglas Funny disse...

Concordo com muita coisa aí, não foi atoa que eu enviei a matéria para vc... hehehehehehe

Mas a preocupação é justamente a próxima eleição, pq Lula contrariou muita gente para fazer o q fez e, apesar de muitos problemas, conseguiu mostrar um Brasil q melhora a cada dia.

Será q vão esquecer as briguinhas de partido e todo o egoísmo, pra pensar um pouco no Brasil??

Isso só no próximo capítulo...

Abraço.

Lu Guimarães disse...

Olá! Passeando pelos blogs alheios, descobri seu espaço e gostei dele. Embora não tenha a mesma visão positivista do atual governo que a sua, gostei dos seus textos. Quanto ao presidente... Eu esperei mais que seguir uma política neoliberalista estabelecida por um sociólogo. Votei num revolucionário, embora acredite, hoje, que o país está em outros rumos... Parabéns pela organização das ideias.