12 de jul. de 2010

Escrever é um dom, um presente. Algo que recebemos e que não podemos simplesmente deixar de lado ou passar para outro.

O blog está temporariamente fora do ar, por conta da falta de tempo. Novas ideias estão chegando e, provavelmente, algo diferente surgirá deste Silêncio Cotidiano.

Até breve.

Denis Araujo

2 de abr. de 2010

Quem Segura o Google?

Não é novidade para ninguém que a empresa Google é um gigante na internet e até mesmo fora dela, com tantas novidades e notícias espalhadas pelo mundo. E também não há nada de novo ao afirmar que empresas inovadoras e expansionistas tendem a invadir certos espaços de risco. E é exatamente isso que acontece na China.

Quer algo novo? Bom, o que direi a seguir não é: o governo chinês ainda mantém firme seu controle sobre a mídia, censurando aquilo que não lhes parece positivo. E o site de buscas fica nesse impasse. Como permitir uma busca perfeita em um país um tanto quanto opressor nesse sentido? O Google perde força, certo? Errado. Mesmo contrariando a ordem chinesa, o site continuou com sua plena utilidade, violando as leis do país e deixando de lado a censura imposta. Mais do que isso, a empresa transferiu sua base operacional e hospedagem para Hong Kong, que possui autonomia na República Popular da China, o que facilita a ação de Larry Page e cia.


O Google não é (e está longe de ser) uma organização internacional. Entretanto, a empresa mantem-se acima da ordem de certos Estados. Na realidade, a evolução da internet permite que esse tipo de fenômeno aconteça. O curioso é que a China está sendo vencida no quesito da censura e do controle social, algo difícil de se imaginar mesmo no século XXI.
E mais curioso ainda é que os norte-americanos afirmam que as atitudes da empresa dizem respeito apenas à própria e que as relações EUA-China permanecem inatingíveis.

Os mais céticos preferem afirmar que o caso trate-se de mais uma intervenção à moda democrática norte-americana, para conhecer melhor o que há no oriente, especialmente na China. Mas será que o Google é uma ferramenta do Estado? Ou é uma corporação transnacional que possui poder acima de qualquer ordem?

Estes questionamentos não se referem ao "mais do mesmo", como estamos acostumados ao analisar as relações Estado-empresa-Estado. O que se verifica neste momento é o fato de uma empresa manter-se desprendida dos laços políticos de sua terra e violar as leis de outra, para seu puro bem-estar. Discutir este caso não é a mesma coisa que dialogar sobre a influência que a Coca-Cola ou o McDonald's possuem no mundo. Acredito que o Google é, para a China, um instrumento de risco em todas as suas faces, característica não mais vista nas companias anteriormente citadas.

Uma empresa privada que transcende a ordem dos Estados e o sistema internacional. O surgimento de algo novo ou a repetição de fenômenos possíveis já vistos na história? Pausa para a reflexão, porque há muito por trás disso.


Escrito por: Denis Araujo

27 de fev. de 2010

A Concordata do Esporte

Falar de futebol é fácil. É só ver a rede balançar, correr pro abraço e comemorar no final do dia. Mas quando falamos da administração de um clube, a história é diferente. E é mais diferente ainda quando se trata do futebol inglês.

A notícia futebolística da semana (além dos lançamentos de alguns uniformes para a Copa do Mundo, das rodadas da Taça Libertadores da América e da Copa dos Campeões da Europa) foi a medida encontrada pelo Portsmouth (tradicional clube da English Premiere League) para não ter que fechar suas portas. Atolado em dívidas de mais de 70 milhões de Euros (aproximadamente 174 milhões de Reais), o Pompey (como é conhecido por seus adeptos) será administrado judicialmente para escapar da falência. Esta decisão deverá rebaixar o time (atual lanterna) para a segunda divisão, visto que prevê a perda de 9 pontos no campeonato inglês como forma de punição. O curioso é que boa parte dessas divídas são com a Receita Federal.

Mesmo sendo o primeiro clube inglês a passar por uma situação destas, muito provavelmente não será o último. Na Inglaterra, os clubes passaram a adotar medidas extremamente liberais de administração, permitindo a intervenção de diversos investidores e empresários. Esta intervenção faz com que os times comprem jogadores aos montes (sendo a grande maioria estrangeiros), pagando salários milionários e alterando a identidade do futebol inglês, que hoje possui mais jogadores de outros países do que nacionais.

A liberalização dos clubes é tão grande que muitos clubes optaram pela captação de recursos através do mercado financeiro. Hoje, qualquer um de nós pode comprar ações dos times mais populares na Bolsa de Londres. No entanto, esta "revolução econômica do futebol" é, na verdade, um fracasso em quase todos os seus lados. Os ingleses imaginaram que já que o esporte é tão popular e tão históricamente importante no país, os torcedores certamente iriam participar mais ativamente e investir nos clubes de seus corações. Mas a realidade tornou-se outra, visto que o medo do negócio ser pouco rentável fez com que a população não aderisse ao movimento.

Clubes de extrema tradição encontram-se endividados e parecem não se importar muito com isso. Um dos casos mais perigosos é o do famoso Liverpool, que mesmo devendo muito dinheiro, continua realizando contratações. É quase óbvio que um clube desse porte jamais sofrerá uma intervenção administrativa por conta de seus inúmeros investidores e por conta de sua gigantesca receita. Contudo, este é mais um exemplo de que o futebol, outrora uma paixão dos esportistas, virou um negócio fantásticamente rentável de algumas décadas pra cá, e igualmente perigoso.

O futebol argentino vive uma situação bastante parecida. Boca Juniors e River Plate (dois dos times mais populares do mundo) encontram-se com graves problemas financeiros, tendo que encarar uma competição com elenco reduzido e jogando partidas fracas tecnicamente. Quem algum dia chegou a imaginar que Banfield, Estudiantes de La Plata ou Colón iriam dominar o campeonato e que os poderosos estariam próximos da lanterna?

Engraçado que no Brasil ninguém comenta absolutamente nada. Os clubes cariocas são tão endividados que nem conseguem pagar em dia os salários dos seus astros, porém há muito tempo que esse assunto não aparece nos jornais e nas revistas. Tudo isso porque no Brasil ainda se fala muito mais de futebol do que de negócios. Ainda.

Escrito por: Denis Araujo

8 de fev. de 2010

O Que Há Entre Irmãos?

O filme ainda nem estreou no cinema mas esta semana tive a oportunidade de assisti-lo. "Entre Irmãos" não é um filme genial, mas chama a atenção para um tema interessante, desde que se permita este tipo de análise.

O enredo é simples: um jovem adulto norte-americano (Tobey Maguire) é convocado para combater no Afeganistão logo no início do século XXI. Ele é o filho exemplar, bom marido e ótimo pai, mas infelizmente terá que deixar tudo para trás. Sua esposa (Natalie Portman) precisa manter-se firme e acreditar que ele voltará logo.

O rapaz mal chega no país da guerra e logo seu helicóptero é abatido. O militar é feito refém, mas nos EUA divulgam-se apenas as notícias sobre sua morte, e agora sua família teria que encarar todo esse drama. Seu irmão (Jake Gyllenhaal) passa a dar as caras mais vezes, após ter ganho condicional da prisão. Como já é de se esperar, seu pai o detesta e o culpa por ter perdido um filho tão exemplar na guerra. E como também já é de se esperar, o ex-presidiário passa a se envolver mais com a família do irmão, criando fortes laços com suas sobrinhas e sua cunhada, com quem passa a viver um breve romance (breve mesmo).

Entretanto, logo o militar é salvo e todos descobrem que este não estava morto. Ao regressar, encontra-se psicológicamente alterado. Frio, sem sentimentos, sente-se um verdadeiro estranho em sua casa e todos os seus familiares (incluindo esposa e filhas) passam a estranhá-lo. Sua "loucura" é extremamente evidente e até nos assusta, mesmo sendo tratada de maneira tão superficial.

O filme é uma decepção para quem o assistiu acreditando que tratará de um triângulo amoroso (o que talvez fosse, de fato, a intenção de seus criadores e produtores). Mas a superficialidade do filme é tanta que passamos a dar atenção a outras coisas. A guerra realmente tem o poder de mexer com a mente e com os nervos de todos, mas certamente atinge de maneira extrema a quem está ou esteve lá, entre a vida e a morte, entre ideais que às vezes nem acredita.

De repente ele é um homem adorável, amoroso, carinho e cheio de si. Ao voltar do combate depois de enfrentar situações terríveis, perde seu eixo, seu equilíbrio. Fica com um olhar sério e aterrorizado, mesmo quando olha para suas filhas ou beija sua esposa. Seu senso sobre a vida muda completamente e este tema é pouco demonstrado no cinema, e é por isso que chamo a atenção para este filme.

Entre Estados, a guerra pode até ser uma forma de resolver os problemas. Mas este não é um jogo de War em que apenas os países e as viórias interessam. E os seres humanos que passam por tanto sofrimento e que deixam suas famílias para trás? Tudo pode ficar para trás. E quase sempre fica.

Escrito por: Denis Araujo

6 de fev. de 2010

Devo e Não Nego. Pago Quando Puder!

Tá, vou dizer o que? Que é reflexo da crise, mais uma vez? Pois é, devo dizer que sim. Aquele meteoro que caiu no oceano financeiro ainda deixa algumas marolas por aí e o alvo foi a Europa. Engraçado que até pouco tempo atrás, o continente europeu sempre foi símbolo de estabilidade econômica e de organização orçamentária. Porém isto foi antes dos empréstimos e soluções arriscadas.

É aquela velha história de fulano estar pobre e pegar dez reais emprestados. Quando a situação melhora, passam-se também as dívidas e as intenções de pagar (o famoso calote). Mas justiça seja feita: a crise não passou tanto assim, o mundo precisa ter um pouco mais de paciência. Países tradicionais como Portugal, Itália e Grécia estão em uma situação delicada, e a União Europeia teme o calote generalizado. Todo este temor balançou as bolsas de todo o mundo, provocando reflexos visíveis aqui no Brasil (sucessivas quedas no índice Ibovespa e desvalorização dos papéis de gigantes como a Petrobras e a Vale), além da alta do dólar. Tudo bem que a barreira de 1,90 ainda é um desafio e algo pouco provável de ser rompido, mas os investidores estão de olho. Nós estamos de olho.

A União Europeia passa a se preocupar com sua moeda, algo jamais imaginado, afinal o Euro sempre foi digno de muita estabilidade e confiança. Mas é evidente que até os mais fortes precisam de uma mãozinha e é pra isso que o G20 está aí. O grupo das principais economias do mundo (junto às emergentes) assume, novamente, o papel principal, para propor soluções satisfatórias, provando que é a melhor ferramenta da ordem econômica internacional.

É óbvio que os países vão pagar o que devem, mas mais uma vez afirmo que a União Europeia precisa ter paciência. Apressar a situação vai gerar mais desconfiança e quem perde é o mundo, afinal as bolsas dependem destas certezas. O que esperamos é que as potências não repitam a frase dos sábios poetas, porque neste caso 'as dívidas são sagradas' é uma afirmação que precisa passar longe das narrativas da economia moderna.

Escrito por: Denis Araujo

24 de jan. de 2010

Quando o Mundo Resolveu Dar as Mãos

Até parece miragem, mas não é. Quem acompanhou as frias discussões da COP 15 - acerca do aquecimento global - não acredita que o mundo poderia agir em conjunto, especialmente para trabalhar em um problema único. Infelizmente, uma ilha precisou ser sacudida (literalmente) para que os Estados agissem prontamente.

Há poucos dias, a humanidade chocou-se com o grave terremoto ocorrido no Haiti, na região do Caribe. As buscas por sobreviventes ainda não terminaram, mas as autoridades estimam cerca de 150 mil mortos. Na lista não estão apenas haitianos. O destaque vai para os soldados brasileiros que foram vitimados enquanto trabalhavam no comando da operação de manutenção e auxílio ao país, patrocinada pela Organização das Nações Unidas. O Brasil, aliás, chefiava toda esta ação há alguns anos e é por isso que sofreu importantes baixas militares e diplomáticas.

Depois que este grave tremor ocorreu, os principais líderes dos mais poderosos países passaram a agir, enviando enormes doações em dinheiro, mantimentos e, principalmente, em forças militares. Esta ênfase que dou serve para mostrar que o Haiti já estava completamente desorganizado antes do ocorrido. Depois, o que já estava de pernas para o ar ficou ainda pior. O país é um dos mais pobres do ocidente, unindo em um curto pedaço de terra uma população consumida pela fome e pelo desemprego. Essencialmente agrícola, o Haiti consegue algum trocado através da exportação de frutas (antes um fator de orgulho, hoje única salvação). O governo haitiano, tido como um dos mais desorganizados há anos, não consegue uma única ação positiva para seu povo.

A solução encontrada pela ONU foi auxiliá-los através de forças militares que pudessem agir para conter a violência e garantir a segurança da população. É nesta parte que o Brasil entra, visto que assumiu todo o comando da operação. Não que o exército brasileiro tenha atingido seus objetivos, mas ao menos deram alguma esperança para o povo haitiano.

Logo após o terremoto, o governo brasileiro agiu prontamente no envio de mais tropas de resgate, além de garantir grandes doações de dinheiro e itens de sobrevivência. Os Estados Unidos também estão atuando diretamente na situação. Barack Obama luta para apagar a imagem que o ex-presidente Bush deixou nas falhas do governo no auxílio ao povo norte-americano no episódio do furacão Katrina. União Europeia e gigantes asiáticos também resolveram mobilizar-se no envio de militares, estudiosos, voluntários e, é claro, com altas quantias monetárias. E daqui pra frente, o país estará monitorado pelos olhos do mundo, afinal o Haiti tornou-se um desabrigado do planeta. Se não o ajudarem, quem poderá ajudá-lo?

Ficam aqui depositadas as esperanças de que novas medidas de segurança sejam implementadas e que acidentes como este não sejam tão devastadores, em qualquer canto da Terra. Como já havia escrito, o ano de 2010 mal havia iniciado e muitos sonhos tornaram-se pesadelos. E assistimos de camarote a esta terrível mudança.

E que o mundo permaneça de mãos dadas por mais tempo, afinal esta foi uma demonstração de que a cooperação pode fazer coisas muito boas. Uma pena que a terra tenha que sacudir para que isso seja notado. Uma pena mesmo.


Escrito por: Denis Araujo


O Silêncio Cotidiano agradece aos leitores por atingir a marca de mais de 6500 visitas. Junto a isso comemora-se este post de número 50, especialmente dedicado a todos aqueles que apoiam este projeto e seu autor desde o início. Este é o mundo em que vivemos, aquilo que pensamos e tudo o que não dizemos.

Gostaram da nova cara do blog?

Até a próxima!

13 de jan. de 2010

2010: Sonhos e Pesadelos de Um Novo Ano

Finalmente o ano de 2010 chegou, trazendo todos os jargões populares de que este ano será mesmo 10! O mais engraçado é que de notas boas não temos praticamente nada, afinal de contas o ano mal começou e o que temos é uma porção de catástrofes, tragédias e outras notícias tristes ocorrendo pelo mundo. Não foi o início que sonhamos.

Neste ano, os olhos do mundo estarão voltados para o continente africano, mais precisamente na África do Sul. A Copa do Mundo de futebol começará em alguns meses, e com ela chegam todas as festas, o marketing, a paixão pelo esporte, os astros e tudo que há de bom para se comemorar. Milhões foram gastos, tudo para realizar um evento de proporções gigantescas, que atrai tantos fãs. Até mesmo quem não gosta de futebol se rende ao brilho do acontecimento.

Entretanto, nem tudo é festa. Como manda o calendário da FIFA (entidade máxima do futebol), meses antes do Mundial ocorre a Copa Africana de Nações. É praticamente uma prévia do que as seleções do continente classificadas apresentarão meses depois na Copa do Mundo. Na realidade, que seja apenas uma prévia futebolistica, porque o que vimos por lá nesta semana foi o terror e o caos de um início inesperado de um evento. Inesperado?

A seleção de Togo enfrentaria Gana em uma das sedes do campeonato. No caso, a partida seria realizada em Cabinda - uma província angolana que luta há algum tempo para obter sua independência. Em uma comparação geográfica, esta região está para Angola como o Chile está para o Brasil, ou seja, é um local que não faz fronteira com o país. E a província foi escolhida justamente para o governo angolano mostrar ao mundo que, apesar da distância e das diferenças, Cabinda faz parte de todo o território de Angola. Mas o que vimos foi uma tentativa frustrada de mascarar uma realidade complicada.

A entidade africana de futebol, juntamente com a organização do evento em Angola, deveria há muito tempo ter riscado a província do mapa do campeonato. Por melhor que fosse a intenção, o sentimento separatista da região é grande, impulsionada pela Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC). Sendo assim, que condições de segurança o território teria para realizar uma festa deste tamanho? O alto preço da hipocrisia e da falta de preparo foi pago pela seleção de Togo, representada pelo astro Emmanuel Adebayor - atacante do Manchester City, da Inglaterra.

O resultado foi um jogador gravemente ferido e alguns funcionários da comissão mortos. E novamente questiono: foi um ataque inesperado? Óbvio que não. A FLEC já havia realizado algumas ameaças, que o governo angolano e o comitê organizador do evento resolveram esquecer para não manchar a festa.

O campeonato segue com as pernas bambas. Com a desistência de Togo, resta às demais seleções que se esforcem e lutem pelo título. Mas este evento jamais será esquecido, ainda mais às vésperas da Copa do Mundo, na África do Sul.

E o que diz o comitê organizador do mundial? Algo bastante verídico: quando ocorreram os atentados em Madrid no ano de 2005, ninguém questionou a segurança da Copa na Alemanha, em 2006. Claro que existem diferenças na proporção dos acontecimentos e do desenvolvimento dos países em questão, mas se o governo sul-africano adotou o evento e prometeu realizar a maior festa de todos os tempos, podemos somente torcer para que seja, de fato, um sucesso, sem preocupações.

Que o atentado em Cabinda torne-se um fato isolado. O mundo precisa começar a enxergar todas estas tragédias iniciais do ano como fatos isolados até porque, se continuarmos assim, logo mais trataremos como isolados os bons acontecimentos.

Certamente este não foi o início que sonhamos. Vamos aguardar para que o decorrer e o término sejam.


Escrito por: Denis Araujo