30 de out. de 2009

Venezuela e o MERCOSUL: Comércio Sim, Politicagem Não!

O MERCOSUL nunca teve tantas notícias chamativas como as desta semana, em que decidirão, finalmente, se a Venezuela entrará efetivamente para o bloco ou não. Hoje o Itamaraty e o Senado brasileiro aprovaram o ingresso do país e, para que seja concretizado, o plenário precisa votar a favor, sem contar o voto necessário dos políticos paraguaios.

Muito se discute sobre as vantagens e desvantagens da adesão. Para ampliar a discussão, precisamos colocar os pingos nos is. O MERCOSUL há tempos perdeu sua credibilidade. Fundado no início da década de 90, o bloco, que tinha como intenção trilhar o caminho de sucesso da União Europeia, caiu nas tabelas bloqueado por diferenças políticas e de objetivos econômicos. Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai (membros do bloco) sempre apoiaram as unificações de tarifas alfandegárias, taxas mais favoráveis para certos produtos, sem contar nas maiores facilidades para se viajar entre os países. Entretanto, a forte concorrência entre os produtos brasileiros e argentinos (especialmente os da linha branca) fazem com que os dois países sejam relutantes quanto às facilidades adotadas no bloco, para não perder espaço e evitar o monopólio.

Além disso, conturbações políticas estremecem o MERCOSUL. O Brasil, de governo mais centro-esquerdista do que propriamente de esquerda, continua sua política de bem feitor e irmão de todos. A Argentina, de governo pós-peronista e de forte instabilidade, ainda luta para ganhar seu espaço merecido. O Uruguai enfrenta agora as eleições presidenciais, antecedido por um governo que pouco se manifestou. O Paraguai, por sua vez, enfrenta uma tentativa inédita de estabilidade política, impulsionada pelo presidente e bispo Fernando Lugo, que se esconde atrás da cruz para que não encontrem mais fatos que o comprometam.

O grande problema da adesão da Venezuela no bloco é que a América do Sul está, ultimamente, ganhando espaço por conta de sua imagem, ao invés de ganhar por esforços efetivos e resultados concretos. De realidades distintas, os atuais membros e o atual candidato a membro, vivem uma disputa ideológica, principalmente os maiores: Argentina, Brasil e Venezuela (principalmente os dois últimos). É óbvio que a Argentina precisa muito do Brasil para se desenvolver, contudo venezuelanos e brasileiros experimentam uma recente tentativa de estreitamento de laços. Os jornais de ambos os países (muito mais no Brasil) sempre deram a entender que existia uma disputa de liderança no continente. Mas o que se vê são dois países que tentam desenvolver uma boa relação bilateral para explorar os potenciais de cada um.

Presidente Lula: como o senhor, eu também estou convencido. Mas o meu convencimento parte do pressuposto que a Venezuela entrará no bloco para colaborar com temas de cunho comercial e econômico, sobretudo no desenvolvimento agropecuário e nas conversas sobre energia. A adesão do governo de Hugo Chávez não deverá, de forma alguma, transformar o MERCOSUL, que já não anda bem das pernas, em plataforma socialista, tampouco de disputa de ideologias que não cabem mais nesta nova década que se iniciará.

Vamos deixar a imagem de lado. O que interessa agora são as vantagens, de fato, que este ingresso fará para o bloco e para os países-membros. Se o Chávez é assim ou o Lula é de outro jeito, pouco importa. Quando falamos de negócios, temos que deixar as diferenças de lado e praticar o famoso jogo do ganha-ganha. Se no final das contas alguém perder, o MERCOSUL perderá por completo. E onde ficará a credibilidade?

Escrito por: Denis Araujo

Um comentário:

Daniel Estevam disse...

Dênis,

Esse texto ficou demais, Preciso comentar que vou levá-lo para uma das minhas aulas sobre dissertação?