27 de fev. de 2010

A Concordata do Esporte

Falar de futebol é fácil. É só ver a rede balançar, correr pro abraço e comemorar no final do dia. Mas quando falamos da administração de um clube, a história é diferente. E é mais diferente ainda quando se trata do futebol inglês.

A notícia futebolística da semana (além dos lançamentos de alguns uniformes para a Copa do Mundo, das rodadas da Taça Libertadores da América e da Copa dos Campeões da Europa) foi a medida encontrada pelo Portsmouth (tradicional clube da English Premiere League) para não ter que fechar suas portas. Atolado em dívidas de mais de 70 milhões de Euros (aproximadamente 174 milhões de Reais), o Pompey (como é conhecido por seus adeptos) será administrado judicialmente para escapar da falência. Esta decisão deverá rebaixar o time (atual lanterna) para a segunda divisão, visto que prevê a perda de 9 pontos no campeonato inglês como forma de punição. O curioso é que boa parte dessas divídas são com a Receita Federal.

Mesmo sendo o primeiro clube inglês a passar por uma situação destas, muito provavelmente não será o último. Na Inglaterra, os clubes passaram a adotar medidas extremamente liberais de administração, permitindo a intervenção de diversos investidores e empresários. Esta intervenção faz com que os times comprem jogadores aos montes (sendo a grande maioria estrangeiros), pagando salários milionários e alterando a identidade do futebol inglês, que hoje possui mais jogadores de outros países do que nacionais.

A liberalização dos clubes é tão grande que muitos clubes optaram pela captação de recursos através do mercado financeiro. Hoje, qualquer um de nós pode comprar ações dos times mais populares na Bolsa de Londres. No entanto, esta "revolução econômica do futebol" é, na verdade, um fracasso em quase todos os seus lados. Os ingleses imaginaram que já que o esporte é tão popular e tão históricamente importante no país, os torcedores certamente iriam participar mais ativamente e investir nos clubes de seus corações. Mas a realidade tornou-se outra, visto que o medo do negócio ser pouco rentável fez com que a população não aderisse ao movimento.

Clubes de extrema tradição encontram-se endividados e parecem não se importar muito com isso. Um dos casos mais perigosos é o do famoso Liverpool, que mesmo devendo muito dinheiro, continua realizando contratações. É quase óbvio que um clube desse porte jamais sofrerá uma intervenção administrativa por conta de seus inúmeros investidores e por conta de sua gigantesca receita. Contudo, este é mais um exemplo de que o futebol, outrora uma paixão dos esportistas, virou um negócio fantásticamente rentável de algumas décadas pra cá, e igualmente perigoso.

O futebol argentino vive uma situação bastante parecida. Boca Juniors e River Plate (dois dos times mais populares do mundo) encontram-se com graves problemas financeiros, tendo que encarar uma competição com elenco reduzido e jogando partidas fracas tecnicamente. Quem algum dia chegou a imaginar que Banfield, Estudiantes de La Plata ou Colón iriam dominar o campeonato e que os poderosos estariam próximos da lanterna?

Engraçado que no Brasil ninguém comenta absolutamente nada. Os clubes cariocas são tão endividados que nem conseguem pagar em dia os salários dos seus astros, porém há muito tempo que esse assunto não aparece nos jornais e nas revistas. Tudo isso porque no Brasil ainda se fala muito mais de futebol do que de negócios. Ainda.

Escrito por: Denis Araujo

8 de fev. de 2010

O Que Há Entre Irmãos?

O filme ainda nem estreou no cinema mas esta semana tive a oportunidade de assisti-lo. "Entre Irmãos" não é um filme genial, mas chama a atenção para um tema interessante, desde que se permita este tipo de análise.

O enredo é simples: um jovem adulto norte-americano (Tobey Maguire) é convocado para combater no Afeganistão logo no início do século XXI. Ele é o filho exemplar, bom marido e ótimo pai, mas infelizmente terá que deixar tudo para trás. Sua esposa (Natalie Portman) precisa manter-se firme e acreditar que ele voltará logo.

O rapaz mal chega no país da guerra e logo seu helicóptero é abatido. O militar é feito refém, mas nos EUA divulgam-se apenas as notícias sobre sua morte, e agora sua família teria que encarar todo esse drama. Seu irmão (Jake Gyllenhaal) passa a dar as caras mais vezes, após ter ganho condicional da prisão. Como já é de se esperar, seu pai o detesta e o culpa por ter perdido um filho tão exemplar na guerra. E como também já é de se esperar, o ex-presidiário passa a se envolver mais com a família do irmão, criando fortes laços com suas sobrinhas e sua cunhada, com quem passa a viver um breve romance (breve mesmo).

Entretanto, logo o militar é salvo e todos descobrem que este não estava morto. Ao regressar, encontra-se psicológicamente alterado. Frio, sem sentimentos, sente-se um verdadeiro estranho em sua casa e todos os seus familiares (incluindo esposa e filhas) passam a estranhá-lo. Sua "loucura" é extremamente evidente e até nos assusta, mesmo sendo tratada de maneira tão superficial.

O filme é uma decepção para quem o assistiu acreditando que tratará de um triângulo amoroso (o que talvez fosse, de fato, a intenção de seus criadores e produtores). Mas a superficialidade do filme é tanta que passamos a dar atenção a outras coisas. A guerra realmente tem o poder de mexer com a mente e com os nervos de todos, mas certamente atinge de maneira extrema a quem está ou esteve lá, entre a vida e a morte, entre ideais que às vezes nem acredita.

De repente ele é um homem adorável, amoroso, carinho e cheio de si. Ao voltar do combate depois de enfrentar situações terríveis, perde seu eixo, seu equilíbrio. Fica com um olhar sério e aterrorizado, mesmo quando olha para suas filhas ou beija sua esposa. Seu senso sobre a vida muda completamente e este tema é pouco demonstrado no cinema, e é por isso que chamo a atenção para este filme.

Entre Estados, a guerra pode até ser uma forma de resolver os problemas. Mas este não é um jogo de War em que apenas os países e as viórias interessam. E os seres humanos que passam por tanto sofrimento e que deixam suas famílias para trás? Tudo pode ficar para trás. E quase sempre fica.

Escrito por: Denis Araujo

6 de fev. de 2010

Devo e Não Nego. Pago Quando Puder!

Tá, vou dizer o que? Que é reflexo da crise, mais uma vez? Pois é, devo dizer que sim. Aquele meteoro que caiu no oceano financeiro ainda deixa algumas marolas por aí e o alvo foi a Europa. Engraçado que até pouco tempo atrás, o continente europeu sempre foi símbolo de estabilidade econômica e de organização orçamentária. Porém isto foi antes dos empréstimos e soluções arriscadas.

É aquela velha história de fulano estar pobre e pegar dez reais emprestados. Quando a situação melhora, passam-se também as dívidas e as intenções de pagar (o famoso calote). Mas justiça seja feita: a crise não passou tanto assim, o mundo precisa ter um pouco mais de paciência. Países tradicionais como Portugal, Itália e Grécia estão em uma situação delicada, e a União Europeia teme o calote generalizado. Todo este temor balançou as bolsas de todo o mundo, provocando reflexos visíveis aqui no Brasil (sucessivas quedas no índice Ibovespa e desvalorização dos papéis de gigantes como a Petrobras e a Vale), além da alta do dólar. Tudo bem que a barreira de 1,90 ainda é um desafio e algo pouco provável de ser rompido, mas os investidores estão de olho. Nós estamos de olho.

A União Europeia passa a se preocupar com sua moeda, algo jamais imaginado, afinal o Euro sempre foi digno de muita estabilidade e confiança. Mas é evidente que até os mais fortes precisam de uma mãozinha e é pra isso que o G20 está aí. O grupo das principais economias do mundo (junto às emergentes) assume, novamente, o papel principal, para propor soluções satisfatórias, provando que é a melhor ferramenta da ordem econômica internacional.

É óbvio que os países vão pagar o que devem, mas mais uma vez afirmo que a União Europeia precisa ter paciência. Apressar a situação vai gerar mais desconfiança e quem perde é o mundo, afinal as bolsas dependem destas certezas. O que esperamos é que as potências não repitam a frase dos sábios poetas, porque neste caso 'as dívidas são sagradas' é uma afirmação que precisa passar longe das narrativas da economia moderna.

Escrito por: Denis Araujo