13 de jun. de 2008

Quando não sabemos em qual dia estamos (ou a qual pertencemos)...

Dia 12 de Junho. Engraçado como eu resolvi postar apenas no dia 13. Sexta-feira 13, dia de reflexões, dia da família, dia de paz, amor, harmonia... Sim, caro leitor, você não leu errado. É estranho, eu sei, mas quer dizer então que quando passa o Dia dos Namorados você se esquece que ama a pessoa amada no dia 13 seguinte e nos próximos dias?

Já presenteou sua (seu) namorada(o)? Não? Pois esqueça as preocupações, você pode presentear outro dia. Natal, por exemplo. Ninguém nasceu nesse dia, logo é uma perfeita oportunidade para comprar uma lembrança para seus entes queridos. As lojas estão sempre lotadas, oferecendo produtos a preços módicos, com 55 suaves prestações, sem juros, o que é melhor ainda! Com certeza você poderá comprar aquele celular que ela estava de olho, ou aquele aparelho de dvd multifuncional que ele desejava. Caso nenhuma das opções agrade, ainda restam as flores e os cartões perfumados, mas isso fica pra depois. Fazer o próprio presente nem pensar! Artesanato, escrever, pintar... Nossa, pensar nisso já provoca certos arrepios.

É realmente bom ganhar presentes nos dias felizes da vida. É exatamente como segue o diálogo:

- Puxa, obrigado filhão, era exatamente o relógio que eu queria!

- De nada pai. Parabéns pelo seu dia.

Seu dia? Vamos fazer o seguinte no Dia dos Pais: escolha 364 dias do ano pra você, filho, e para seu pai escolha um só. Ele fará o mesmo, afinal Dia das Crianças é apenas um, o que naturalmente não deveria existir já que Nossa Senhora Aparecida jamais fora exclusivamente padroeira dos indivíduos com menos de doze anos de idade.

Quantos de nós dizemos “eu te amo, pai”, “eu te amo, mãe”, “eu te amo, irmã (o)”, “meu amor, eu te amo!” ? Tudo bem, ainda restam todos os outros dias do ano. Mas por que deixar de demonstrar o que sentimos nestas datas tão especiais? Ah não, esqueci! O perfume que ganhei já vem escrito no verso da embalagem

Ingredients: Alcohol denat., Aqua (Water), Parfum (Fragrance), Linalool, Limonene, C.I. 42090 (Blue 1), TE AMO MUITO MEU AMOR, Geraniol, Carboxaldehyde...

O que quero dizer com tudo isso? Simples: o presente material é maravilhoso, mas melhor ainda é quando ele é acompanhado de um presente sentimental e carinhoso. Vamos deixar de ser materialistas algumas vezes. Sei que a vida que levamos hoje não permite que tenhamos atitudes imateriais, mas jamais devemos esquecer o que carregam todos esses presentes: o carinho, o amor, a amizade.

Os últimos românticos ainda existem. Caprichem, então, na maneira de presentear a quem se ama. Mas não faça isso apenas no dia 12 de Junho. Todo dia é o dia do amor, dia dos namorados, dia dos pais, das mães, etc.

E se você, caro(a) leitor(a), não possuir namorada (o), amizades coloridas, companhias e afins nos mais infinitos Dias destinados ao amor, não se sinta mal. Quem disse que 12 de Junho é dia deles, e não de vocês? Vá ver um filme, vá ler um livro, destine esse dia para cozinhar, limpar o guarda-roupas, jogar video-game, sair com os amigos... O dia é seu também, quero ver quem vai te proibir! Músicas que falam de romance estão aí todos os dias, filmes românticos estão presentes em nossas vidas há muito tempo, não há porque descontar a raiva nestes itens tão simples. E se um carro de Loucuras de Amor parar na porta do seu vizinho, aplauda quando tiver que aplaudir, se omita quando tiver que se omitir mas, mais do que isso, dê risada porque você não foi vítima de tamanha crueldade!

Como já diria nosso amigo Gandhi: "Um covarde é incapaz de demonstrar amor; Isso é privilégio dos corajosos" ... E ele disse isso há um tempo, infelizmente este mesmo tempo enfraqueceu sua frase. Mas o significado está aí, podendo ser interpretado das mais variadas formas.

Apenas não vá pular de bungee jump ou paraquédas, a menos que você seja um perito na área.

Para os mais tradicionais, um "eu te amo" já está de bom tamanho!

E fiquem calmos: se Jason aparecer no dia de hoje com flores à sua porta, fique feliz! Pode ser um amor perdido, ou apenas um doido varrido.

6 de jun. de 2008

Quando nos tornamos coadjuvantes de nós mesmos...

A vida é assim. Ela passa pelos nossos olhos de tal forma que nem percebemos. Ela é dura, ela é sofrida. Mas ela é vivida, o que a torna intensa e passível de valer a pena viver. Tantos que vivem de forma precária, tantos que dificilmente possuem o que comer. Mas são estes tantos que lutam a cada dia. Estes sim devem viver de verdade. Afinal, quem de nós sabe o que significa viver?

Acordo cedo. O sol nem nasceu e eu já estou pronto para sair de casa. Tomo meu café diário e vejo na televisão as notícias que estarão estampadas em todas as capas de jornais. Vejo na televisão cenas alegres e tristes, em uma manhã igual aquela de ontem e anteontem. Pego meu transporte de todos os dias e atravesso a cidade em busca de meus objetivos. Vejo pintadas de cinza-concreto as imagens da cidade umas vezes mais movimentada, outras vezes mais caótica, mas sempre igual. Todo dia eu faço tudo sempre igual, não é somente ela que acorda na canção e o faz também. Não somos únicos, todos nós acordamos e seguimos a nossa rotina, que nos faz ser quem somos. Entretanto não creio que todos sabem a dor e a delícia de ser o que é, afinal nem todos sabem o quanto pode valer a pena lutar pela vida e faze-la valer a pena. Nem todos sabem o valor da vida. Que desperdício!

O que faz você feliz? Seja o pão com manteiga, seja a alegria de um bom dia. Quantos de nós já paramos pra pensar nesta simples pergunta? Muitas vezes seguimos uma rotina tão intensa que esquecemos de nós mesmos. O mundo em que vivemos não permite que tenhamos uma tal liberdade de viver, afinal vivemos sempre seguindo a canção. Caminhamos e cantamos conforme a música. Trabalhamos, estudamos e damos o máximo de nós mesmos para conseguir uma boa vida ou atingir este objetivo. Chegamos em casa exaustos e o que mais queremos é um banho quente, um jantar e uma cama confortável. Acordamos na manhã seguinte e vemos as notícias que serão publicadas com a mesma atenção dos dias anteriores. Mas quantos de nós realmente nos envolvemos com isso? Afinal, quantos de nós elegemos aquele governante que, de fato, atende nossas necessidades? É hora de esquecer a vontade coletiva. Somos únicos, somos especiais, somos quem somos porque assim nascemos e assim devemos viver.

A vida é assim. Lutamos cada vez mais para que ela melhore. Fácil não é. Mas lutamos. A vida é valiosa demais para deixarmos que ela passe pelos nossos olhos. O ator principal dessa vida sou eu, não quero ser coadjuvante e passar quase que desapercebido. Quero fazer acontecer. E não quero que essa vontade se encerre em mim. Quero que as próximas gerações também o façam, que vivam da melhor maneira possível. Justamente, honrosamente, alegremente e, principalmente, com muito esforço e coragem. Coragem de escolher, coragem de lutar, coragem de reclamar.

Apenas não quero dizer futuramente que no meu tempo as coisas eram diferentes. No meu tempo não existe... Meu tempo é agora. Prazer vida, é hora de viver.

13 de mai. de 2008

Quando um ato se faz mais forte

"Um pensamento ecoa pelo mundo através dos tempos. Uma atitude ecoa pelos vales em algumas horas", já dizia um filósofo à sua comunidade. De fato ele tinha seus motivos ao dizer isto, mas uma coisa é certa: ele fez os seus ouvintes compreenderem. Seu ato ecoou na mente das pessoas, e assim nasceu a solidariedade.

Escrever em uma folha de papel é simples para quem possui o dom da escrita. Um rei, um presidente, um advogado, um vizinho, nossos familiares... Todos estes (e uma porção de outros) podem registrar suas idéias e vontades, mas nem todos são capazes de realizar as mesmas. Pensadores existem aos montes, mas os ativistas são poucos. Uma pena, já que estes são verdadeiros guerreiros. Quem está sentindo fome ou frio nos dias de hoje não carece de idéias, mas sim de ajuda, esta que falta e se faz necessária para termos um mundo um pouco mais justo.

Justiça seja feita aos ativistas. A verdadeira política do "fala pouco, mas faz muito" se faz presente, e vamos torcer para que aumente este número de pessoas capazes de ser solidárias e realizar algo por seu semelhante. Não, não vamos torcer. Vamos fazer alguma coisa, e aí quem sabe registraremos os nossos feitos, ao invés de simples pensamentos.

22 de abr. de 2008

Quando precisamos de heróis...

“ Eu nem acredito que aquele garoto que ia mudar o mundo freqüenta, agora, as festas do Grand Monde. Meus heróis morreram de overdose e os meus inimigos estão no poder “, já dizia Cazuza, outrora astro do rock brasileiro, um mito inesquecível. Talvez mal sabia ele o quanto inspirou jovens de todo o país. Inspiração, aí está um termo motivador.

Em um dicionário qualquer, diz-se que herói é aquele descendente de semideuses, ou que é o protagonista de alguma aventura. Gosto de acreditar que heróis assim eram válidos quando éramos crianças, quando o máximo de heroísmo real encontrado eram nossos pais, mas muitas vezes não nos dávamos conta disso. Porém o dicionário também diz que herói é todo homem que se distingue por coragem. De fato, ser herói é ser corajoso. Mas muito mais do que isso, ser herói é motivar, é inspirar, é unir, é fortalecer. E isso a história soube mostrar muito bem.

Certa vez fui alvo de críticas ferozes na época de colégio, quando afirmei pontualmente que Adolf Hitler foi um dos maiores heróis de todos os tempos. Destaco os objetivos alcançados e todo o movimento criado, ao invés de ficar discutindo valores morais e atos desumanos. Seria muita hipocrisia de minha parte não levar em consideração todo o mal que este causou, porém é um fato irrelevante quando discutimos suas realizações. Ora, a Alemanha no período entre guerras sofreu absurdamente, já que havia perdido a Primeira Guerra Mundial e os países vencedores lhe fizeram várias imposições. Eis que surge um homem de bigode, afirmando a necessidade de tornar a Alemanha uma unidade, e que todos os alemães deveriam ter orgulho de serem o que são. Surgiu, então, o sentimento nacional, carregado por este homem e que todos os alemães puros poderiam vê-lo em cima de um pedestal, no mais alto nível. Surgia, então, um dos maiores heróis do século XX, levantando uma Alemanha pobre e sem esperança, tornando-a forte, poderosa e com seus cidadãos podendo, mais uma vez, sonhar.

Cada um de nós tem em mente o que é ser herói, como também creio que cada um de nós possui um herói ou sonha encontra-lo. Vejo, por exemplo, quando um homem comum consegue prender um assaltante e recuperar os itens furtados do assaltado. Também acredito que uma mãe que consegue salvar seu filho é uma verdadeira heroína. Entre outros casos particulares. Porém se tentarmos enxergar verdadeiros heróis em âmbito nacional, veremos que alguns deram certo. E é com base nisso que nesta semana os paraguaios elegeram Fernando Lugo para presidente. Não, não estou dizendo que ele é um herói. Apenas afirmo que ele poderá tornar-se um, trazendo a tona um sentimento nacional que se perdeu com tantos anos de miséria e corrupção em um país que poderia ter se tornado a “Suíça Latino-americana”. Cada caso é um caso, de fato. Mas por que não acreditar? Aquele que é herói para mim, pode não ser herói para meu vizinho ou para aquela senhora que mora no final da rua. Mas tenho certeza que se um já aceita-lo como herói, já o basta.

Acho que quando temos um herói, temos orgulho de viver um pouco mais, acreditando que um dia tudo pode ser diferente. Nós, brasileiros, não temos em quem nos espelhar. Temos um presidente que trabalha de acordo com suas convicções, realizando um trabalho satisfatório para uns, e insatisfatório para outros. Mas é complicado para nós que compomos a juventude não ter alguém na liderança que podemos nos espelhar, alguém que lute por essa afirmação nacional que tanto nos falta. A propósito, neste final de semana foi o Dia do Índio, hoje deveriamos comemorar 508 anos de colonização dos portugueses. Não sei se lembrei, se você lembrou ou se algum brasileiro lembrou. Espero pelo dia em que todos iremos dar valor ao que realmente somos, ao que realmente representa ser brasileiro, ao invés de ficar dizendo que vivemos em um país péssimo ou que sempre damos aquele jeitinho brasileiro. Minimamente triste.

“Felizes daqueles que possuem heróis. Infelizes daqueles que PRECISAM de heróis”.

Vamos continuar sonhando, afinal não custa nada. E nenhum herói cobra por seus serviços. Ou pelo menos não deveria.

7 de abr. de 2008

Quando nos esquecemos do que realmente vale a pena..

Primeiramente inicio o post de hoje pedindo desculpas por demorar a atualizar este blog. Ocupações não permitiram que eu o fizesse, por isso exclusivamente hoje (em plena segunda-feira) estou postando. E não escrevo aqui por mera vontade de atualizar. Escrevo porque vejo a necessidade de expor um pensamento que carrego comigo há alguns dias.

“É proibido pedir esmolas dentro do metrô! Não colabore com esta prática.”. Esta era a mensagem que ecoava pelos vagões do meu meio de transporte diário em pleno início de tarde, um pouco depois da hora do almoço. Ironicamente ao término da mensagem, duas crianças entraram no vagão em que eu estava. Vestiam-se mal, estavam sujas. Logicamente elas não estavam ali porque se preparavam para fazer compras na Av. Paulista. Estavam ali porque estavam trabalhando. Este tipo de pensamento era o que provavelmente todos os presentes estavam tendo. Alguns olhavam com desconfiança, outros com desprezo. E um grupo menor de pessoas as olhava com um certo sentimento de tristeza, e eu era um destes.

Não, eu não sei simplesmente fingir que não vejo duas crianças pedindo dinheiro para comprar alimento para sua família (era o que dizia em um dos bilhetes que me entregaram). Resolvi dar-lhes algumas moedas, e assim fizeram outros passageiros daquele vagão. Senti-me na obrigação de perguntar aos dois meninos o que iriam fazer com aquele dinheiro, já que não podemos descartar o fato de que estavam pedindo dinheiro possivelmente para alguma pessoa de mais idade que acredita que usar a imagem de duas crianças vai conseguir sensibilizar um número maior de pessoas, ao invés de ela mesma ir pedir o dinheiro que necessita. Mas não perguntei nada.

O metrô parou na estação seguinte, e as crianças desceram. Rapidamente juntaram as moedas que haviam conseguido em uma sacola plástica e logo subiram no vagão seguinte para repetir o ato. Fiquei admirado. Elas poderiam estar fazendo aquilo há horas, e possivelmente fariam o dia inteiro. Minha mente resolveu agir de forma ingênua naquele momento, acreditando fielmente que os meninos estavam conseguindo dinheiro para colocar alimento na mesa de sua família ou deles mesmos. De fato pouco importava o destino de seu dinheiro, por mais que eu gostaria muito de ter-lhes perguntado. Mas muito me surpreendeu a força de vontade dos dois. Obedecendo a ordens ou não. Seguindo seu intuito ou não. Agindo de forma errada ou não... Eles estavam chamando a responsabilidade para si e fazendo o que lhes é mais “permitido”, já que não podem trabalhar pela falta de idade.

Realmente espero que o dinheiro que lhes dei tenha sido de bom uso. Certamente que eu iria preferir pagar-lhes um almoço e vê-los bem alimentados. Mas o preço de nossas convicções é alto demais, portanto dificilmente algum de nós, brasileiros trabalhadores, teria a coragem de fazer isso. E caso as minhas poucas moedas tenham um destino que aos meus olhos seja errado, sinto me culpado por ter colaborado com a prática ilegal dentro do metrô.

Mas o que de fato podemos fazer? Assistir a cena e fingir que não é conosco? Reprimir-lhes por estarem fazendo este ato? Mas ora essa, o preço de nossas convicções é alto demais, e é mais fácil jogar a moeda na mão das crianças, do que jogar a elas uma idéia sensata. A lei do mínimo esforço se faz presente, e temos sempre dois caminhos a seguir: lutar pelo que realmente queremos, independente das pedras que encontrarmos pelo caminho, ou cortar caminho pela trilha do meio e pular etapas. A segunda opção sempre é mais válida para quem tem pressa de alcançar algum objetivo.

Entretanto as etapas que poderemos passar escolhendo o caminho da luta poderão nos tornar indivíduos mais bem formados, muito mais capazes. Vejo meu país numa luta constante de entrar para o Conselho de Segurança da ONU, chamando a atenção do mundo para seus incríveis atos internacionais, mediações de conflitos no Haiti, a auto-afirmação de que a Amazônia é nossa, o papel de liderança do Mercosul... Atos resumidos na lei do mínimo esforço. Sofremos diariamente com a falta de segurança. Sofremos com a dengue. Sofremos junto com uma mãe que perde a filha em um ato de total covardia e falta de sensibilidade, ato desumano.

Sofremos com os meninos que entram no nosso metrô todos os dias para pedir esmola... Sofremos? Amanhã é terça-feira, quarta-feira tem jogo de futebol. E o governo acaba de anunciar o corte do orçamento por conta da não aprovação da CPMF.

Que país é esse afinal, que aqulo que acontece hoje é ofuscado pela manhã seguinte?

Apenas espero que um dia todos tenhamos a consciência de fazer valer a pena, de valorizar aquilo que realmente é certo.

Quem sabe um dia...

22 de mar. de 2008

Quando o feriado religioso nos faz pensar sobre tudo, exceto sobre religião.

Sexta-feira Santa se foi. E com ela, todos (ou a maioria) de sentimentos relativos a este dia sumiram. E já que vivemos em uma sociedade repleta de valores, aproveitamos para viajar e comprar bastante. Como bom morador do estado de São Paulo, não resta muitas opções a não ser ir a praia curtir o início de Outono e, é claro, saborear um ovo de páscoa. Porém resolvi fazer diferente este ano.

Aproveitei-me do possível vazio de um shopping para ir ao cinema. Logicamente o shopping não estava vazio, mas havia muitas opções de filmes para assistir. Entre concorrentes ao Oscar, decidi pelo novo documentário de Michael Moore: “Sicko – SOS Saúde”. Um tiro no escuro talvez, mas vale ressaltar suas obras anteriores, tais como “Tiros em Columbine” ou “Farenheit 9/11”. Sessão escolhida, vamos nós.

Com um início chocante, pouco a pouco o filme revela a realidade do sistema de saúde norte-americano, sistema este bastante falho, o que nos deixa perplexos, já que temos o costume de acreditar que no hemisfério norte tudo vai muito bem, obrigado. Visando o lucro excessivo, seguros-saúde rejeitam diversos casos de urgência para ter que evitar gastar tanto com cirurgias e outros tratamentos. Cidadãos morrem enfrentando filas nos hospitais em um país que segue no topo das potências mundiais. Michael Moore resolve, então, conhecer outros países para analisar se nestes ocorre o mesmo. No Canadá, na França... Países do chamado “Primeiro Mundo” fazem valer seu título e dão a melhor assistência de saúde para todos os seus cidadãos e mesmo àqueles que lá chegam sem nada e necessitando auxílio médico. Eterno inimigo americano, Cuba faz melhor: recebe de braços abertos os bombeiros que salvaram vidas no 11/9 mas que não obtiveram cuidados médicos descentes em seu país.

Assistam ao filme porque tenho certeza que todos saíram da sala de cinema espantados com essa realidade. Certamente que o diretor do filme está o tempo inteiro criticando os Estados Unidos, com demasia ou não. Mas do ponto de vista realista, o filme mostra que não são somente nas Guerras que nossos vizinhos lá de cima falham: o mesmo acontece com a maneira que tratam seus próprios cidadãos.

Notaram a breve semelhança? Pois é. Ironicamente (ou não) passamos por situações parecidas. Talvez não por adotarmos um sistema nacional de saúde eficaz, mas por simplesmente nosso país dar valor a questões muitas vezes de interesse governamental, ao invés de ser de interesse do povo. O Brasil trava uma luta constante para se afirmar no cenário internacional, sendo apontado como um dos países mais promissores em desenvolvimento. Os anseios são vários, e as vantagens também. Mas e nós, pobres mortais, que primeiro nos importamos com a vida que levamos dentro de nossas residências, para depois compreender o que se passa lá fora? Nosso país segue sem fazer sua lição de casa.

Como o Brasil deseja ser internacional, se nem ao menos consegue ser nacional? E não digo isto apenas por termos um sistema falho de saúde. Chamo a atenção para a falta de segurança, educação, transporte e tantos outros problemas crônicos de nosso país. Não, não sou nacionalista. Gosto apenas de salientar que como bom brasileiro que sou, gostaria de ver meu país numa ótima posição internacional, posição esta que possa se refletir internamente, com a melhoria na qualidade de vida de seu povo, ao invés de caminhar pela trilha dos Estados Unidos, que mostram para o mundo quem são, mas que esquecem do próprio quintal.

Seria errado de minha parte se eu dissesse que nada mudou. Mas seria mais errado se eu dissesse que tudo está maravilhoso. Cada um de nós sabe bem que o Brasil caminha a passos lentos. E esperamos que esses passos não atrapalhem o futuro que espelha essa grandeza de terra mãe gentil, pátria amada.

15 de mar. de 2008

Quando o problema não é nosso..


Esse blog que escrevo é talvez uma tentativa de trazer à tona pensamentos que normalmente guardo pra mim e, quem sabe, fazer com que o silêncio de quem está lendo estas palavras no momento seja um silêncio pensante.

Quando ando pela rua, quando pego meu ônibus diário ou simplesmente quando estou em casa, penso nas coisas mais simples, e o que era normal torna-se mais complexo. Como assim? Simples. Quem nunca viu o jornal da tv e pensou: “Isso poderia ter acontecido comigo ou com algum conhecido meu!” ? Ou então que lê alguma notícia no jornal e pensa: “Mas e se fosse de outro jeito? Eu com certeza não teria feito assim.”... Enfim, o cotidiano nosso torna-se rotina quando vemos as coisas acontecendo e nem sequer tentamos intervir com nossas idéias, estas que guardamos pra nós mesmos como se guarda uma velha meia na última gaveta do armário. Não, não estou dizendo que devemos causar a revolução e brigar com o padeiro que nos vende o pão de toda manhã, dizendo que o pão deveria estar mais saboroso. Apenas sou convicto de que a vida passa pelos nossos olhos como um raio, e detesto acreditar que ela é muito curta, e que amanhã pode ser diferente.

Eu quero que seja diferente hoje.

E é por isso que escrevo. Penso nas coisas e o meu silêncio diz muito. Mas e se eu pudesse traduzir algum silêncio em palavras? Certeza que o grito do meu silêncio seria muito mais forte com meu fraseado.

Vocês devem estar pensando: “Ora essa, ele falou, falou e não disse nada. Que diabos de título de post é esse?”
Pois bem, eu e meus pensamentos...

Quando acordo de manhã para viver minha rotina diária, costumo assistir o noticiário. E é incrível que quanto mais o assisto, mais percebo que a notícia que vi ontem, é a mesma de hoje e tenho quase certeza de que será a mesma na manhã seguinte. Como sei disso? Nas últimas semanas São Paulo registrou os maiores recordes de congestionamento. Em um dia constatou-se um recorde. No dia seguinte o recorde foi quebrado. E no dia subseqüente também. Ou seja, que trânsito caótico! Mas e daí, eu num dirijo. Problema de quem dirige, certo? Errado.

Estava eu no meu ônibus diário, e o sono estava me deixando extremamente derrubado. Ouvindo músicas no mp3, lá estava eu sentado no ônibus que estava parado no semáforo, logo ao lado do mercado. Sem querer fechei os olhos e peguei no sono. Mas quando no meu fone de ouvido de Enya trocou para Monobloco, não há cansaço que resista e logo acordei. Mas ora, lá estava o mesmo sinal trocando de cor, e o mercado estava logo atrás de mim. Três minutos se passaram desde o momento que havia pregado os olhos e eu estava na frente do mesmo estabelecimento, e como piada, estava praticamente no mesmo lugar.

O trânsito infernal daquele dia estava quase como um pesadelo. Pra mim nem tanto, afinal ainda tinha muito tempo até o horário das minhas aulas na faculdade. Mas e para quem precisava chegar no trabalho com urgência? E se o atraso fosse crucial pra determinar se tal pessoa iria ou não seguir no tão necessitado emprego? Às vezes isso é fácil de pensar: brasileiro, povo trabalhador. Mas esse dia parece que foi um aviso de que algo não estava certo.

O ônibus que estava logo na frente de repente parou e atrasou mais ainda aquela fila de carros. A buzina de cada veículo formava uma melodia incrível, e eu já estava quase trocando uma marchinha de carnaval por aquilo. Mas para a surpresa de todos, a porta do ônibus se abre e dois homens descem carregando um senhor aparentemente desacordado. Ao deitá-lo na calçada, mais pessoas descem, algumas senhoras desesperadas, e o motorista mais ainda. Meio sem jeito, o cobrador tenta numa manobra desafiadora acordar o sujeito, mas sem muito sucesso. Todos ficaram assustados com a cena. O que houve com aquele homem eu num sei, e acho que ninguém dentro do veículo que eu estava ou de qualquer outro veículo sabe.

Pena que não existia um médico ou alguém capacitado para socorrer corretamente a pessoa desmaiada. Se todo ônibus tivesse um banco com uma placa escrita “Dr. Fulano de Tal, Especialista em tal coisa”, certeza que casos como esse poderiam ser evitados perfeitamente. Mas acho que perfeito seria se o trânsito fluísse bem, de forma que a ambulância pudesse chegar a tempo, e eu realmente torço para que tenha dado tempo.

Problema crônico da capital paulistana. Engarrafamentos fazem parte da Terra da Garoa. E o mais curioso é que desde que nasci, São Paulo é conhecida como a cidade que não pára. Acho que quem disse isso deve estar foragido agora.

Bom, fatos como este que contei podem ser cotidianos. Ora essa, um raio num cai duas vezes no mesmo lugar, eu sei. Também tenho certeza que são coisas que acontecem. Mas quem é que pode garantir que o trânsito daquele dia não atrasou o resgate daquele sujeito? A ambulância num criou asas pra chegar lá, e sei que não havia hospital por perto. O problema realmente não foi de ninguém que estava assistindo aquela cena preocupante, mas daquele senhor foi, dos que o socorreram foi e de sua família também. Coincidência, normalidade... Aquele dia não foi um dia normal para muitos. E para outros foi só um dia a mais.

O pouco que já vivi me mostra que não se precisa viver muito para entender que acordar no dia seguinte é uma luta. A luta de realizar tudo sempre igual, o combate rotineiro de enxergar as coisas mas achar que nunca vai acontecer conosco ou com nossos semelhantes.

Ah, o trânsito bateu novo recorde no dia seguinte. E no dia seguinte ninguém sabia o que houve com aquele homem, mas sabiam que iria chover de tarde.