7 de abr. de 2008

Quando nos esquecemos do que realmente vale a pena..

Primeiramente inicio o post de hoje pedindo desculpas por demorar a atualizar este blog. Ocupações não permitiram que eu o fizesse, por isso exclusivamente hoje (em plena segunda-feira) estou postando. E não escrevo aqui por mera vontade de atualizar. Escrevo porque vejo a necessidade de expor um pensamento que carrego comigo há alguns dias.

“É proibido pedir esmolas dentro do metrô! Não colabore com esta prática.”. Esta era a mensagem que ecoava pelos vagões do meu meio de transporte diário em pleno início de tarde, um pouco depois da hora do almoço. Ironicamente ao término da mensagem, duas crianças entraram no vagão em que eu estava. Vestiam-se mal, estavam sujas. Logicamente elas não estavam ali porque se preparavam para fazer compras na Av. Paulista. Estavam ali porque estavam trabalhando. Este tipo de pensamento era o que provavelmente todos os presentes estavam tendo. Alguns olhavam com desconfiança, outros com desprezo. E um grupo menor de pessoas as olhava com um certo sentimento de tristeza, e eu era um destes.

Não, eu não sei simplesmente fingir que não vejo duas crianças pedindo dinheiro para comprar alimento para sua família (era o que dizia em um dos bilhetes que me entregaram). Resolvi dar-lhes algumas moedas, e assim fizeram outros passageiros daquele vagão. Senti-me na obrigação de perguntar aos dois meninos o que iriam fazer com aquele dinheiro, já que não podemos descartar o fato de que estavam pedindo dinheiro possivelmente para alguma pessoa de mais idade que acredita que usar a imagem de duas crianças vai conseguir sensibilizar um número maior de pessoas, ao invés de ela mesma ir pedir o dinheiro que necessita. Mas não perguntei nada.

O metrô parou na estação seguinte, e as crianças desceram. Rapidamente juntaram as moedas que haviam conseguido em uma sacola plástica e logo subiram no vagão seguinte para repetir o ato. Fiquei admirado. Elas poderiam estar fazendo aquilo há horas, e possivelmente fariam o dia inteiro. Minha mente resolveu agir de forma ingênua naquele momento, acreditando fielmente que os meninos estavam conseguindo dinheiro para colocar alimento na mesa de sua família ou deles mesmos. De fato pouco importava o destino de seu dinheiro, por mais que eu gostaria muito de ter-lhes perguntado. Mas muito me surpreendeu a força de vontade dos dois. Obedecendo a ordens ou não. Seguindo seu intuito ou não. Agindo de forma errada ou não... Eles estavam chamando a responsabilidade para si e fazendo o que lhes é mais “permitido”, já que não podem trabalhar pela falta de idade.

Realmente espero que o dinheiro que lhes dei tenha sido de bom uso. Certamente que eu iria preferir pagar-lhes um almoço e vê-los bem alimentados. Mas o preço de nossas convicções é alto demais, portanto dificilmente algum de nós, brasileiros trabalhadores, teria a coragem de fazer isso. E caso as minhas poucas moedas tenham um destino que aos meus olhos seja errado, sinto me culpado por ter colaborado com a prática ilegal dentro do metrô.

Mas o que de fato podemos fazer? Assistir a cena e fingir que não é conosco? Reprimir-lhes por estarem fazendo este ato? Mas ora essa, o preço de nossas convicções é alto demais, e é mais fácil jogar a moeda na mão das crianças, do que jogar a elas uma idéia sensata. A lei do mínimo esforço se faz presente, e temos sempre dois caminhos a seguir: lutar pelo que realmente queremos, independente das pedras que encontrarmos pelo caminho, ou cortar caminho pela trilha do meio e pular etapas. A segunda opção sempre é mais válida para quem tem pressa de alcançar algum objetivo.

Entretanto as etapas que poderemos passar escolhendo o caminho da luta poderão nos tornar indivíduos mais bem formados, muito mais capazes. Vejo meu país numa luta constante de entrar para o Conselho de Segurança da ONU, chamando a atenção do mundo para seus incríveis atos internacionais, mediações de conflitos no Haiti, a auto-afirmação de que a Amazônia é nossa, o papel de liderança do Mercosul... Atos resumidos na lei do mínimo esforço. Sofremos diariamente com a falta de segurança. Sofremos com a dengue. Sofremos junto com uma mãe que perde a filha em um ato de total covardia e falta de sensibilidade, ato desumano.

Sofremos com os meninos que entram no nosso metrô todos os dias para pedir esmola... Sofremos? Amanhã é terça-feira, quarta-feira tem jogo de futebol. E o governo acaba de anunciar o corte do orçamento por conta da não aprovação da CPMF.

Que país é esse afinal, que aqulo que acontece hoje é ofuscado pela manhã seguinte?

Apenas espero que um dia todos tenhamos a consciência de fazer valer a pena, de valorizar aquilo que realmente é certo.

Quem sabe um dia...

7 comentários:

Anônimo disse...

Me deparo com essa cena irônica algumas vezes durante minha rotina!

Mas é complicado analisar o que é correto; sinceramente, não daria dinheiro! Acho que no mínimo - não que isso reflita minhas ações - as pessoas tem que ter consciência do que fazem!

Realmente, quando se tratam de medidas provisórias e rápidas sofremos na sustemtabilidade do páis; porém não é dando dinheiro ou não que vamos mecher nesse caminho!

Mas, só o fato de vermos a importância das coisas já podemos ficar com a cabeça mais limpa!




Parabéns!... continue mandando ver!

Anônimo disse...

grande china


O que eles farao com o dinheiro muitas vezes nao da pra saber, mas a sua parte voce esta fazendo e isso faz valer a pena.

Congratulaçooes ta muito bom o blog

abraçoo xD

Anônimo disse...

Devo confessar q sou "maldoso" nesse aspecto, evito ao máximo dar esmola. Entendo q isso se dá a um reflexo da desigualdade social absurda em q vivemos, mas msmo assim não acho certo q adultos, msmo sem condições façam crianças q deveriam estar estudando ou msmo brincando,dar a cara a tapa no mundo pra buscar dinheiro seja lá para o q for. Duas coisas são diferentes. Uma é se trabalhar, e vender algo pra conseguir seu dinheiro com dignidade e com um minimo d respeito, outra é pidir só por pedir, com nitida vergonha na cara.
Infelizmente as verdades desse nosso mundo são muito dificeis d se entender. Reintero o q vc diz e concordo, quem sabe um dia todos tenhamos conciencia do q é certo, e faremos as coisas melhores!

abraço do seu amigo, Tigor Tigre.

Anônimo disse...

Yeah. Realmente não dá pra saber o que eles irão fazer com a esmola dada, e eu também preferiria pagar um almoço para eles, já que eles pedem esmola para poderem comer.
E quanto aos pais, é realmente uma vergonha. Certo dia estava eu num farol, quando um menino de aproximadamente 12 anos parou e começou a fazer malabarismos. Olho para o outro lado da rua e está a família dele (mãe, pai, tias provavelmente) sentadas, conversando, se divertindo ou dormindo.

Mais uma coisa complicada a se pensar ;)

E continue assim, eu gosto do seu blog ;)
abraçoo

Anônimo disse...

caro china....

esse é o país do futuro(como diziam a 30 , 50 ,60 anos atrás).
estou aqui pra compartilha com você o meu desanimo com esta nação
quando você fala pra não dar esmolas no metrô é muiti mais facil do que gerar emprego e renda para os pais dessas crianças, é muito mais fácil e barato do que investir na educação deste país que se torna cada dia mais privada, sendo privada de estrutura ,professores e de quem as apoie....
é isso na verdade tudo isso não vai mudar em quanto não for do interesce de alguma autoridade

abrasss

Anônimo disse...

realmente é muito complicado se colocar a favor ou contra isso porque como foi mencionado: nunca se sabe o que eles irão fazer com esse dinheiro ou não sabemos se alguém esta pressionando essas crianças.
seria otimo se não existissem situaçoes como essa, mas o pior do que existirem, é o fato de que já é comum presenciarmos isso...
seria otimo se alguem tomasse atitudes e tentasse resolver esse problema... mas aparentemente ainda vai ser um longo caminho a percorrer...

muito bom o blog...

Anônimo disse...

É, realmente nos deparamos sempre com essa situação e nunca sabemos realmente o destino de nosso dinheiro. Acho que todos tem a impressão de que por trás desses menores, há um maior impondo essa ordem a eles, mas por outro lado, pode ser que eles 'sejam sozinhos' e fazem isso para apenas se alimentar naquele dia.

A mesma coisa acontece com aquelas crianças que ficam no farol fazendo malabares, eu posso estar lendo, ouvindo música, conversando mas, quando eu olho para aquelas crianças penso que a cada dia que passa as injustiças aumentam e as mesmas estão cada vez mais sendo 'largadas' nas ruas.

O que fazer para mudar uma situação dessas? Na verdade não sei, e pelo que vejo, a maioria não se importa em saber. Mas a sua atitude de escrever sobre o assunto, expor sua sincera opinião e tentar de alguma maneira ajudar, acho que já é um passo.

É impressionante como algumas pessoas nascem com o dom para escrever e você é um deles.
Parabéns pelo blog =)

Beijos maaaaaano