15 de mar. de 2008

Quando o problema não é nosso..


Esse blog que escrevo é talvez uma tentativa de trazer à tona pensamentos que normalmente guardo pra mim e, quem sabe, fazer com que o silêncio de quem está lendo estas palavras no momento seja um silêncio pensante.

Quando ando pela rua, quando pego meu ônibus diário ou simplesmente quando estou em casa, penso nas coisas mais simples, e o que era normal torna-se mais complexo. Como assim? Simples. Quem nunca viu o jornal da tv e pensou: “Isso poderia ter acontecido comigo ou com algum conhecido meu!” ? Ou então que lê alguma notícia no jornal e pensa: “Mas e se fosse de outro jeito? Eu com certeza não teria feito assim.”... Enfim, o cotidiano nosso torna-se rotina quando vemos as coisas acontecendo e nem sequer tentamos intervir com nossas idéias, estas que guardamos pra nós mesmos como se guarda uma velha meia na última gaveta do armário. Não, não estou dizendo que devemos causar a revolução e brigar com o padeiro que nos vende o pão de toda manhã, dizendo que o pão deveria estar mais saboroso. Apenas sou convicto de que a vida passa pelos nossos olhos como um raio, e detesto acreditar que ela é muito curta, e que amanhã pode ser diferente.

Eu quero que seja diferente hoje.

E é por isso que escrevo. Penso nas coisas e o meu silêncio diz muito. Mas e se eu pudesse traduzir algum silêncio em palavras? Certeza que o grito do meu silêncio seria muito mais forte com meu fraseado.

Vocês devem estar pensando: “Ora essa, ele falou, falou e não disse nada. Que diabos de título de post é esse?”
Pois bem, eu e meus pensamentos...

Quando acordo de manhã para viver minha rotina diária, costumo assistir o noticiário. E é incrível que quanto mais o assisto, mais percebo que a notícia que vi ontem, é a mesma de hoje e tenho quase certeza de que será a mesma na manhã seguinte. Como sei disso? Nas últimas semanas São Paulo registrou os maiores recordes de congestionamento. Em um dia constatou-se um recorde. No dia seguinte o recorde foi quebrado. E no dia subseqüente também. Ou seja, que trânsito caótico! Mas e daí, eu num dirijo. Problema de quem dirige, certo? Errado.

Estava eu no meu ônibus diário, e o sono estava me deixando extremamente derrubado. Ouvindo músicas no mp3, lá estava eu sentado no ônibus que estava parado no semáforo, logo ao lado do mercado. Sem querer fechei os olhos e peguei no sono. Mas quando no meu fone de ouvido de Enya trocou para Monobloco, não há cansaço que resista e logo acordei. Mas ora, lá estava o mesmo sinal trocando de cor, e o mercado estava logo atrás de mim. Três minutos se passaram desde o momento que havia pregado os olhos e eu estava na frente do mesmo estabelecimento, e como piada, estava praticamente no mesmo lugar.

O trânsito infernal daquele dia estava quase como um pesadelo. Pra mim nem tanto, afinal ainda tinha muito tempo até o horário das minhas aulas na faculdade. Mas e para quem precisava chegar no trabalho com urgência? E se o atraso fosse crucial pra determinar se tal pessoa iria ou não seguir no tão necessitado emprego? Às vezes isso é fácil de pensar: brasileiro, povo trabalhador. Mas esse dia parece que foi um aviso de que algo não estava certo.

O ônibus que estava logo na frente de repente parou e atrasou mais ainda aquela fila de carros. A buzina de cada veículo formava uma melodia incrível, e eu já estava quase trocando uma marchinha de carnaval por aquilo. Mas para a surpresa de todos, a porta do ônibus se abre e dois homens descem carregando um senhor aparentemente desacordado. Ao deitá-lo na calçada, mais pessoas descem, algumas senhoras desesperadas, e o motorista mais ainda. Meio sem jeito, o cobrador tenta numa manobra desafiadora acordar o sujeito, mas sem muito sucesso. Todos ficaram assustados com a cena. O que houve com aquele homem eu num sei, e acho que ninguém dentro do veículo que eu estava ou de qualquer outro veículo sabe.

Pena que não existia um médico ou alguém capacitado para socorrer corretamente a pessoa desmaiada. Se todo ônibus tivesse um banco com uma placa escrita “Dr. Fulano de Tal, Especialista em tal coisa”, certeza que casos como esse poderiam ser evitados perfeitamente. Mas acho que perfeito seria se o trânsito fluísse bem, de forma que a ambulância pudesse chegar a tempo, e eu realmente torço para que tenha dado tempo.

Problema crônico da capital paulistana. Engarrafamentos fazem parte da Terra da Garoa. E o mais curioso é que desde que nasci, São Paulo é conhecida como a cidade que não pára. Acho que quem disse isso deve estar foragido agora.

Bom, fatos como este que contei podem ser cotidianos. Ora essa, um raio num cai duas vezes no mesmo lugar, eu sei. Também tenho certeza que são coisas que acontecem. Mas quem é que pode garantir que o trânsito daquele dia não atrasou o resgate daquele sujeito? A ambulância num criou asas pra chegar lá, e sei que não havia hospital por perto. O problema realmente não foi de ninguém que estava assistindo aquela cena preocupante, mas daquele senhor foi, dos que o socorreram foi e de sua família também. Coincidência, normalidade... Aquele dia não foi um dia normal para muitos. E para outros foi só um dia a mais.

O pouco que já vivi me mostra que não se precisa viver muito para entender que acordar no dia seguinte é uma luta. A luta de realizar tudo sempre igual, o combate rotineiro de enxergar as coisas mas achar que nunca vai acontecer conosco ou com nossos semelhantes.

Ah, o trânsito bateu novo recorde no dia seguinte. E no dia seguinte ninguém sabia o que houve com aquele homem, mas sabiam que iria chover de tarde.

6 comentários:

Anônimo disse...

Comentário?! eu?
Já pode, ja tá gravando?

Então, quero primeiramente desejar ai ótimos futuros post pra esse blog tãoo recém nascido!
E devo comentar q o caso do senhor relatado pode ser tão banal quanto parece, o msmo aconteceu comigo em um dia no "movimentado" trânsito paulista, e por algum motivo havia uma senhora estendida no meio da avenida tão cheia d onibus! o liquido q pintava o asfalto naum escondia a tragédia q ali tinha acontecido!
mas tal como o senhor desacordado, creio q ninguem soube o q aconteceu com ela, mas eu espero q o melhor tenha sido o destino dela!
a vida tem dessas...e a sociedade comsegue piorar mais ainda! enfim...continuaremos nossa luta para acordar a cada dia!

aki me despeço, um abraço do seu amigo: Túlio Maravilha - Rumo aos 1000

Unknown disse...

pois então...as coisas são...as coisas vão...as coisas vão e são...e as vezes eu não tão são...vivo nos buracos dos tuneis ainda não terminados e cavo..e eu cá vou...mas com certeza espero que cá vamos nós...não sós...eu vou e não voou..mas vamos...muito a fazer, a pergunta que não quer se calar daqui de dentro desse tunel...onde vamos parar..mas vocè ja me deu a resposta, infelizmente...vamos parar nesse farol perto do mercado, com ou sem o senhor que deveria ou poderia ser socorrido...por essas e outras eu digo...tudo...tudo a fazer!!!


mas por enquanto...evoè!!!

Trabalho e Projeto de Vida disse...

Oi Denis,

Desbanalizar o banal é o canal kkkkk
Mudanças estruturais são fundamentais, mas lutar para que elas colem e aconteçam depende de como lidamos com nosso cotidiano. Local e Global, o tudo e o nada. É o que não percebemos porque, se o fizéssemos, enlouqueceríamos a cada manhã. E por que não? Enlouquecer é sair da normalidade, do que está posto e aceito... desbanalizar.

Que tal um Manifesto pelo Cotidiano!

Grande abraço e fico feliz em poder compartilhar seus pensamentos

Giba

Douglas Funny disse...

Olha ae... ta aí... um blog.

Realmente tratar do cotidiano para deixar de ser uma rotina, unicamente pelo fato de podermos pensar, questionar e opinar, já mostra as intenções nobres do seu "jornalismo informal". Parece q só pensamos nas coisas só quando elas nos afetam, será egoísmo?

Bom querido, boas vibrações por essa sua nova empreitada, bem vindo ao mundo blogueiro.

Sucesso.

Álvaro Reis disse...

Grande...

Deixei pra ler com mais calma; Agora comentando!...

Essencial, Genial... Temos alguns blogs... mas... como tudo na vida... tem uma pendência pro lado comercial... são poucos os que sobram como esse!...

Muito bom...

Uma idéia que eu tenho reforçado a cada dia... as pessoas... estão "cegas" pelo cotidiano... seu trabalho vira uma rota que não pode ser moldada... em razão de temer uma mudança... seja ela no salário ou nas condições de vida... ela prefere manter aquilo... tornando suas atitudes inconscientes... isso a tira do mundo... não importa tamanha alarde feita... no ouvido dela talvez... que ela não vai escutar... "robos" a serviço dos outros!


Abraço!

Anônimo disse...

éééé garoto...
falar o que? eu nem vou pra São Paulo ¬¬
Realmente, muitas pessoas não querem nem pensar em resolver problemas, já que estes não são problemas dela. Mas ninguém pensa que, se todos pensarem assim, onde o mundo vai parar?

Uma coisa a se pensar...