Quando Barack Obama foi eleito como o novo presidente dos EUA, alguns fiéis jogaram flores no mar e acenderam velas para Iemanjá. A chama da esperança estava novamente acesa, tendo em vista os planos traçados pelo novo presidente. "Vem aí um presidente que despertou esperanças em muitas partes do mundo - esperanças excessivas, creio, porque embora seja um homem honesto - e acredito que seja -, um homem sincero - e acredito que seja -, um homem não pode mudar os destinos de um país, muito menos dos Estados Unidos", nas palavras de Raúl Castro, atual mandatário de Cuba. Os cubanos não encontram-se desesperados, mas sim ansiosos para virar a página do esquecimento e se aproximar de maneira controlada dos EUA (bastante controlada, visto que Raúl Castro é irmão do líder Fidel Castro).
Entretanto, existe uma página que não vira e um fogo que se extingue a cada chama acesa. Os acordos de paz entre Israel e o Hamas foram por água abaixo e antes mesmo do champanhe ser aberto, a Faixa de Gaza foi um espetáculo não de fogos de artifício, mas de foguetes, bombas e mortes. O Conselho de Segurança da ONU não chegou em nenhuma resolução ou medida em suas reuniões. Enquanto estão debatendo como começar, o presidente Lula já lançou a primeira pedra. Nas palavras do mandatário "o que está provado é que a ONU não tem coragem de tomar uma decisão de colocar a paz naquilo lá e não tem coragem por que os Estados Unidos têm o poder de veto e, portanto, as coisas não acontecem”, e acrescentou: “Não pode apenas os EUA ficarem negociando, porque eles já provaram que não dá certo”.
Lula defende, ainda, que o Brasil possa participar mais diretamente das mediações do conflito. "Penso que nós do Brasil vamos trabalhar para fazer um esforço muito grande junto aos outros países para ver se a gente encontra um jeito para aquele povo parar de se matar e parar de se violentar", comentou o presidente. Além disso, o Brasil possui boas relações com os governos do Egito e da Palestina, o último que solicitou ajuda humanitária brasileira.
O fato é que fica evidente a impotência norte-americana em uma situação como esta. Sabemos bem o quanto os EUA e Israel mantém estreitas relações. Qualquer ação direta ou pronunciamento de Barack Obama poderá comprometer a própria imagem dos americanos frente a uma situação tão antiga e tão complicada, imagem esta que a mídia ainda tenta tornar inabalável. E o Brasil, por sua vez, quer ser alguém no mundo, quer mostrar sua força e sua capacidade de lidar com situações extremas em relações internacionais para divulgar ao mundo seu poder. Mas qual poder? Pergunto-me: de que maneira o Brasil quer se tornar um ator global mais ativo sendo que ainda é um péssimo ator no palco nacional? Ajuda humanitária é uma boa ação e manter o diálogo com outros líderes também. Mas que o Itamaraty se limite a isso, afinal não acho que uma ação efetiva possa ser o caminho. Enquanto isso, vamos esperar pelo resultado da escolha do Comitê Olímpico para saber se Rio de Janeiro será palco dos Jogos Olímpicos de 2016. O Brasil quer abrir as cortinas para o mundo, tal qual fez a China neste ano que terminou. Poderemos viver Beijing 2008 em 2016? Veremos.
Enquanto isso, na praia de Copacabana, cinco pessoas foram baleadas nas comemorações. Em Portugal, um modelo (e ator nas horas vagas) brasileiro foi encontrado morto... Na praia. Mil e quinhentas pessoas participaram de um tumulto generalizado... Na Praia Grande. E em alguma pequena praia se escondem as milhares de pessoas que se refugiaram da tão famosa selva de concreto ambientada nas grandes metrópoles do país.
E que os sonhos de ninguém morram na praia, afinal dois mil e nove está apenas começando.
Escrito por: Denis Araujo