3 de jan. de 2009

Feliz Ano-Novo: Um Brinde à Hipocrisia ou à (há) Esperança?

Mais um ano se inicia na vida de todos. Mais um momento em que deixamos as roupas brancas da paz no armário para serem usadas no cotidiano, afinal no próximo dia 31 de dezembro espera-se que todos estejam estreando algum pano novo. Dois mil e nove começou bem antes das festividades de ano novo. Na verdade, quando perceberam o genial trocadilho com o algarismo 9 (dois mil INOVE), perceberam também que esse momento pode ir além do que um simples ano.

Quando Barack Obama foi eleito como o novo presidente dos EUA, alguns fiéis jogaram flores no mar e acenderam velas para Iemanjá. A chama da esperança estava novamente acesa, tendo em vista os planos traçados pelo novo presidente. "Vem aí um presidente que despertou esperanças em muitas partes do mundo - esperanças excessivas, creio, porque embora seja um homem honesto - e acredito que seja -, um homem sincero - e acredito que seja -, um homem não pode mudar os destinos de um país, muito menos dos Estados Unidos", nas palavras de Raúl Castro, atual mandatário de Cuba. Os cubanos não encontram-se desesperados, mas sim ansiosos para virar a página do esquecimento e se aproximar de maneira controlada dos EUA (bastante controlada, visto que Raúl Castro é irmão do líder Fidel Castro).

Entretanto, existe uma página que não vira e um fogo que se extingue a cada chama acesa. Os acordos de paz entre Israel e o Hamas foram por água abaixo e antes mesmo do champanhe ser aberto, a Faixa de Gaza foi um espetáculo não de fogos de artifício, mas de foguetes, bombas e mortes. O Conselho de Segurança da ONU não chegou em nenhuma resolução ou medida em suas reuniões. Enquanto estão debatendo como começar, o presidente Lula já lançou a primeira pedra. Nas palavras do mandatário "o que está provado é que a ONU não tem coragem de tomar uma decisão de colocar a paz naquilo lá e não tem coragem por que os Estados Unidos têm o poder de veto e, portanto, as coisas não acontecem”, e acrescentou: “Não pode apenas os EUA ficarem negociando, porque eles já provaram que não dá certo”.

Lula defende, ainda, que o Brasil possa participar mais diretamente das mediações do conflito. "Penso que nós do Brasil vamos trabalhar para fazer um esforço muito grande junto aos outros países para ver se a gente encontra um jeito para aquele povo parar de se matar e parar de se violentar", comentou o presidente. Além disso, o Brasil possui boas relações com os governos do Egito e da Palestina, o último que solicitou ajuda humanitária brasileira.

O fato é que fica evidente a impotência norte-americana em uma situação como esta. Sabemos bem o quanto os EUA e Israel mantém estreitas relações. Qualquer ação direta ou pronunciamento de Barack Obama poderá comprometer a própria imagem dos americanos frente a uma situação tão antiga e tão complicada, imagem esta que a mídia ainda tenta tornar inabalável. E o Brasil, por sua vez, quer ser alguém no mundo, quer mostrar sua força e sua capacidade de lidar com situações extremas em relações internacionais para divulgar ao mundo seu poder. Mas qual poder? Pergunto-me: de que maneira o Brasil quer se tornar um ator global mais ativo sendo que ainda é um péssimo ator no palco nacional? Ajuda humanitária é uma boa ação e manter o diálogo com outros líderes também. Mas que o Itamaraty se limite a isso, afinal não acho que uma ação efetiva possa ser o caminho. Enquanto isso, vamos esperar pelo resultado da escolha do Comitê Olímpico para saber se Rio de Janeiro será palco dos Jogos Olímpicos de 2016. O Brasil quer abrir as cortinas para o mundo, tal qual fez a China neste ano que terminou. Poderemos viver Beijing 2008 em 2016? Veremos.

Enquanto isso, na praia de Copacabana, cinco pessoas foram baleadas nas comemorações. Em Portugal, um modelo (e ator nas horas vagas) brasileiro foi encontrado morto... Na praia. Mil e quinhentas pessoas participaram de um tumulto generalizado... Na Praia Grande. E em alguma pequena praia se escondem as milhares de pessoas que se refugiaram da tão famosa selva de concreto ambientada nas grandes metrópoles do país.

E que os sonhos de ninguém morram na praia, afinal dois mil e nove está apenas começando.

Escrito por: Denis Araujo

9 comentários:

Unknown disse...

O conflito no oriente, a grande crise econômica mundial que marcou o breve ano de 2008 e que se estende no começo de 2009, último ano para a politica de Lula - Questões que marcam de fato o cotidiano e a própria história, não nos basta desejar um ano próspero, é necessário repensar nossas ações e com elas de fato tornar o próximo e esse ano ainda melhores. Estou muito grato porém como este blog leva a sério quaisquer questões, e com a opinião de todos podemos então influenciar na história e consequentemente no seu rumo.Desejo-lhes então um ano de muita ação, obrigado novamente ao Denis com mais um exelente trabalho!.

Anônimo disse...

Realmente... o nosso 2000 inove começou bem antecipado... se não fosse o humor não sei como seria aguentar ironicamente esses FDP de turista que vem pra Praia e pensa que a água do mar é água de privada... e tudo termina em festa...

Parabéns Denis... você consegue cada vez mais se distanciar de algo e ter uma visão clara sobre tudo...


Abraço... e um ótimo 2000 de sempre pra todos nós...

Michelle Rodrigues disse...

Ainda não tinha percebido o trocadilho do ano. Mas com certeza você tem razão quando diz que 2009 começou muito antes de de fato começar. Quando ao Barack, temos apenas que esperar que ele faça um papel muito melhor no cenário mundial como presidente do que fez seu antecessor, o que ,convenhamos, não é dificil.

Já falando sobre os conflitos do oriente médio, essa é uma página que dificilmente será virada. Ambos os lados defendem algo em que acreditam com muita convicção, e não há acordo. Quando o mundo passa a prestar atenção no conflito é ou por interesse em apoiar algum dos lados, ou por que a situação já está tão crítica que chega a ser desumano não ajudar, mas ai já é tarde demais.
Espero que esse 2009 inove de fato, por que se tem uma coisa de que todos precisamos é de inovar, principlamente algumas idéias...

Parabéns pelos textos, estão realmente ótimos! :D

Beijos ;*

Max Gimenes disse...

Muito bom o texto, Denis. Que haja esperança para além de 2009, afinal a coitada é a última que morre. E não há massacre no Oriente Médio ou crise econômica capaz de sufocá-la.

Douglas Funny disse...

O conflito que está rolando aí é a demonstração da ineficiência dos pacificadores mundiais... não sei o quanto o Brasil pode ajudar, mas do jeito que está não pode ficar.

E O Brasil quer mostrar as caras para o mundo, mas para isso terá que esconder muita coisa por aqui, porque ainda não resolveu nada.

Sucesso.

Guilherme Pereira disse...

Creio que o novo ano que entra chega como uma grande incógnita em muitos aspectos, como a baita crise finaceira e seus desdobramentos para o Brasil e o Mundo, a eleição de Obama que traz dezenas de esperanças e tantas outras dúvidas sobre sua conduta.
Começamos o ano também com antigas guerras que perduram por anos e de forma desnecessária e inútil, afinal, é uma luta sem fim, ou então esperaremos que um dos dois povos seja extinto desse planeta.
Nesse ponto a gente vê que mesmo depois de tantos anos, o ser Humano pouco evoluiu na sua aceitação do próximo.
Como todo início de ano, ficam as esperanças de tempos melhores e que todas as esperanças apostadas nesse novo ano, se tornem realidade, ou pelo menos em parte.
Quanto ao Brasil, o Lula está tentando fazer sua parte levando o Brasil para um novo patamar no cenário mundial, convenhamos que um pouco ele já conseguiu, ou pelo menos nosso IDH já subiu para o nivel de Alto! se isso reflete na sociedade? um pouco, aos poucos.
Mas concordo com o Funny, antes de ir criticar a bagunça na casa dos vizinhos, é melhor começar arrumando seu próprio quarto.

Abraço mano, ótimo texto!

Rodrigo Sinott disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rodrigo Sinott disse...

Esse texto me lembrou Carlos Drummond, só desgraça, mas sempre no final pode nascer uma flor do asfalto!


abraço Sinott!!

Rodrigo Sinott disse...

Como havia dito...


"....Porém meu ódio é o melhor de mim.

Com ele me salvo

e dou a poucos uma esperança mínima.

Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.

Uma flor ainda desbotada

ilude a polícia, rompe o asfalto.

Façam completo silêncio, paralisem os negócios,

garanto que uma flor nasceu..."