10 de nov. de 2008

G-20: Motivações Precisas de Um Otimismo Incerto

Domingo, 9 de novembro de 2008. Esta foi a data em que se encerrou a reunião do G-20, que une os países mais desenvolvidos e os países emergentes. Flashes e cafezinhos a parte, me alegro pela transparência que o ministro da Fazenda Guido Mantega conversou com os jornalistas no encerramento da cúpula, este que foi o coordenador da reunião. Mas mais do que isso, as intenções do presidente Lula em seu discurso de abertura aparentemente foram bem representadas e bem dialogadas.

Independente dos frutos que serão colhidos com essa reunião e posteriormente com a Cúpula de Washington que ocorrerá neste sábado (15 de outubro), uma coisa ficou bem clara, em fala do próprio ministro Guido Mantega: “As medidas tomadas até o momento são ineficientes!”. E estas palavras surgem em um momento bastante propício visto que, no mesmo dia, a China anunciou um auxílio de mais de 500 bilhões de dólares, similar a atitude norte-americana, a da Alemanha e de outros países alarmados com a crise econômica. A própria revista Carta Capital do dia 22 de outubro adiantou que certos exemplos deveriam ser seguidos (como a atitude britânica que, ao invés de despejar montantes de dinheiro para comprar dívidas de bancos, resolveu despejar capital diretamente nos balanços dos bancos e em troca assumindo parte de sua propriedade). Em outras palavras a revista aponta que “em vez de retirar água do recipiente que vaza, (...) estão tentando tapar o vazamento”. Ou seja, não adianta promover medidas emergenciais para tentar atenuar a crise, já que o mais correto seria corrigir o problema principal. E é exatamente neste ponto que os países emergentes poderão auxiliar.

Um dos resultados visíveis da reunião do G-20 (ao menos no ponto de vista teórico) é que as economias em desenvolvimento desempenharão um papel fundamental para combater a crise e auxiliar as grandes potências a retomarem o curso natural das coisas. Guido Mantega afirmou na coletiva de impressa do encerramento da cúpula que “o melhor instrumento contra a crise é o G-20”, e adiantou que “o Brasil defenderá uma regulamentação e uma fiscalização mais rigorosa”. Ao menos é isso o que se espera, como também se espera uma reforma nas instituições internacionais, como no Banco Mundial e, principalmente, no FMI (Fundo Monetário Internacional).

Contudo, durante todo o governo norte-americano de George Bush, três palavras deixaram de estar sublinhadas em sua agenda de política externa: América do Sul. Em outras palavras, o continente sul-americano foi deixado de lado. Claro que o presidente dos EUA e o presidente Lula da Silva tornaram-se aparentemente amigos quando o assunto foi o etanol, mas creio ter sido apenas uma nuvem passageira. Este distanciamento ficou notório nos últimos anos, tendo em vista que outros elementos estiveram muito mais destacados, como a atual guerra no Iraque e os problemas enfrentados no Afeganistão, além da própria corrida eleitoral e problemas domésticos. O que se espera de Barack Obama é que haja, agora, uma aproximação entre os EUA e o Brasil, visto que o principal tópico da pauta é a crise econômica.

Quando o assunto é esta aproximação, o chanceler brasileiro Celso Amorim mostra-se otimista, porém cauteloso. “Vem com amor, mas com o respeito também”, disse o ministro à Folha de S. Paulo de 9 de novembro. Este defende um “otimismo vigilante”, visto que, democrata ou republicano, o governo norte-americano é poderoso e pode muito bem aplicar protecionismo comercial, além de práticas intervencionistas na América Latina. Ou seja, as expectativas são boas, mas teremos que aguardar.

Por fim, destaco que a Cúpula de Washington servirá para observarmos se as intenções multilateralistas das grandes potências se confirmarão. Um fato é estarem cientes da importância deste multilateralismo e de uma maior influência dos países emergentes na cura desta crise econômica (visão teórica). Outro fato é se as grandes potências estarão dispostas a discutir novamente e chegar em uma resolução da Rodada Doha, por exemplo (visão prática).

Segue o otimismo, mas também segue a apreensão. Poderão as grandes economias mundiais cederem seus orgulhos e colaborarem para a salvação? E os países emergentes: poderão estes mostrar sua força com atitudes práticas? Certamente não perderemos o próximo capítulo desta história.


Escrito por: Denis Araujo

4 comentários:

Unknown disse...

Queria parabenizar novamente Denis por seu brilhante trabalho, espero que matenhamos esse blog com artigos desse porte.
Falar do G20 atualmente é um grande ponto de interrogação, o que nos abre um leque de questões a serem pautadas.
Minhas dúvidas são: Brasil está querendo apenas procurando prestigio internacional como anteriormente na liga das nações, ou está realmente preocupada com a crise;
Esse grande pacote de emergência pode ela resolver, ou está apenas mascarando a imcopetência dos grande banqueiros em administrar, será que o governo está cometendo o mesmo erro que esses bancos ao inserir grande quantia de capital sem saber ao certo se de fato irá gerar um lucro futuro.Fica os meus questionamentos, espero possamos ser otimistas em um futuro breve.

Marcio Moraes do Nascimento disse...

O plano de fundo desta crise é o periodo de ascensão do neoliberalismo comandado por Reagan e Tatcher na decáda de 80 em certa medida o Governo Clinton obteve exito em conter os efeitos da onda neoliberal e conjugou um bom periodo de crescimento economico aliado há uma politica mais multilateral.
Sob Bush dada as credencias ideológicas de seu partido e sua inépcia como governante aliado das grandes corporações e do mercado financeiro houve uma inflexão mais "generosa" aos agentes do mercado, resultante em crescente desregulamentação da Economia, deu no que deu, a mão invisível do mercado levou ao colapso de setores importantes da economia.

É claro que o Brasil quer projetar poder no sistema internacional, mas sobretudo é importante que os efeitos da crise sejam os menores possíveis, até porque não é interessante politicamente para o governo viver um período de crise aguda, já que a história mostra que a economia costuma definir as eleições presidências no Brasil, e creio que o G20 e BRICS podem exercer um bom papel na formulação de politicas que amenizem os efeitos da atual crise.

Anônimo disse...

Uow, ótimo texto e comentários pertinentes.
Manejar a crise até o momento foi uma bela contradição ao discurso neoliberal que nos contam há tanto tempo, quem toma as rédeas sempre que o mercado tende a quebrar ??
O ESTADO, sim o "bom e velho Estado" e dessa vez acho que nós, meros subdesenvolvidos, aprendemos com o passado, e com a reunião do
G20 deixamos bem claro que os países ricos superestimaram o mercado, não conseguiram prever o tamanho da crise e impedi-lá de acontecer, mas que estamos dispostos a ter o controle da crise e "sair dessa".
Só nós somos capazes de nos tirar da crise deles.

Douglas Funny disse...

eu acho q sei onde o pessoal do G-20 se hospedou... hehehehe

grande texto, mas meus comentários ficaram no aguardo juntamente com as atitudes dos governos... ajuda deve ser mútua para concertar e não apenas atrasar mais danos...

abraço.