30 de set. de 2009

¿Y Ahora Brasil?

Quando o chanceler Celso Amorim afirmou que o Brasil não participou do plano para abrigar Zelaya na embaixada brasileira em Honduras, a oposição ao governo, a mídia nacional e o mundo, ficaram com enorme desconfiança e com um gigantesco ponto de interrogação na cabeça. E este ponto de interrogação também sobrevoa os céus deste Silêncio Cotidiano. Afinal, se o Brasil não auxiliou, como foi que o presidente deposto em Honduras foi parar na nossa embaixada? Vamos apurar alguns fatos.

Honduras vive um momento de completa instabilidade política. O presidente deposto Zelaya tentou se reeleger e acabar com a oposição no país. A oposição, por sua vez, tomou posse e tirou do governo o mandatário, ameaçando-o inclusive. O presidente deposto fugiu às pressas do país, com evidente fama de "coitado". Veio parar no Brasil, pedindo ajuda à maior democracia do mundo.

Mas também é evidente que a bandeira socialista da América Latina não ficaria imóvel. Hugo Chávez, presidente venezuelano, mexeu alguns pauzinhos e lá estava ele, abraçando Zelaya, abraçando Lula e traçando um pequeno plano secreto para conseguir levar o ex-lider hondurenho de volta ao seu país.

Dias depois lá estava o presidente deposto, dentro da embaixada brasileira em Honduras. E o governo do Brasil jurando que nada tinha a ver com isso. Isso pode até ser verdade, porque quem saiu ganhando com isso foi Hugo Chávez e a bandeira esquerdista da América Latina. É óbvio, afinal o venezuelano se aproveitou da vulnerabilidade da situação para lançar um plano "salvador" e sair como herói nesta história. O Brasil, sendo a maior democracia deste continente, tendo uma diplomacia bastante pragmática e costumeiramente sendo o herói na maior parte de situações que se envolve, levou a pior. Ficou no meio de um terrível jogo de interesses, situado na grande plataforma política venezuelana.

E agora, Celso Amorim?


O Silêncio Cotidiano agradece seus leitores e o faz pela ótima marca de mais de cinco mil visitas. Não deixem de ler, não deixem de comentar. Este é o mundo em que vivemos, aquilo que pensamos e tudo o que não dizemos.


Escrito por: Denis Araujo

21 de set. de 2009

Cinco Anos Para a Copa do Mundo no Brasil. E Agora?

Lembro de quando assistia programas esportivos, em que mostravam figuras carimbadas do jornalismo esportivo brasileiro falando sobre aquela fatídica final de Copa do Mundo contra o Uruguai, em pleno Maracanã, no ano de 1950. Aquelas imagens em preto e branco retratam um cenário diferente do atual, com mulheres bem vestidas e homens trajando terno e chapéu, lotando as arquibancadas do estádio (eram aproximadamente 200 mil torcedores). Cinquenta e nove anos se passaram desde então e quando a Copa do Mundo voltar ao Brasil em 2014, serão 64 anos de diferença. O que terá mudado?

No início da década de cinquenta, o mundo vivia um momento pós-segunda guerra mundial. Os países estavam se reconstruindo, a economia voltava a se fortalecer e os EUA saíram como os maiores vitoriosos, acompanhados pela sua adversária URSS. A Guerra da Coréia começava, gerando as primeiras tensões da Guerra Fria. No Brasil, Getúlio Vargas era eleito novamente, consolidando as leis trabalhistas, aplaudido pela maior parte da população brasileira e gerando mais desconfianças da oposição. Naquela época, o futebol ainda trilhava um caminho de sucesso, rumo ao estrelato. Tornava-se, cada vez mais, o esporte mais popular de todo o mundo. E o Brasil já figurava entre os países em que mais se valorizava a atividade.

Mas como estaremos daqui há 5 anos? Uma coisa é certa: muita coisa vai mudar até lá. Coisas simples já estão acontecendo. Basta prestar atenção na quantidade de locais nas capitais em que a sinalização está sendo trocada, com placas contendo dois ou mais idiomas. O transporte ferroviário de São Paulo é um exemplo disso, bem como os shoppings e locais turísticos. É evidente que isso não representa nada frente a todas as mudanças que deverão ocorrer. O 'Boom' hoteleiro será visível, assim como o cuidado com a estética das paisagens do país, passando pela evolução nos transportes e nas vias. A quantidade de empregos gerados será impactante, criando um ciclo econômico bastante vantajoso.

Por mais que problemas políticos e sociais ainda existam aos montes, é inegável que o país vive um momento especial. Economia se fortalecendo cada vez mais, nível de desemprego diminuindo, controle familiar visível, entre outros aspectos. Gosto de defender que a Copa do Mundo no Brasil está para os Jogos Olímpicos em Pequim, no ano passado. Escrevi neste mesmo blog que independente do sucesso esportivo, a China teve a oportunidade de mostrar ao mundo uma Nova China, mesmo que mascarada. Foi a oportunidade de ouro para lançar-se ao mundo à todo vapor, se consolidando como uma das grandes potências mundiais.

E assim será para o Brasil. Em cinco anos, o país terá a chance de mostrar para o mundo sua nova cara. Obviamente que muitos problemas precisam ser solucionados, como a violência, a falta de segurança, o trânsito das capitais etc. Há muito que fazer e a transformação já começou. Resta saber se dará tempo para tudo isso. O mínimo precisa ser alcançado e o Brasil precisa mudar. O que certamente não mudará é o brasileiro.

Escrito por: Denis Araujo


11 de set. de 2009

11/09: O Dia do Silêncio nos Estados Unidos.

Quando me perguntam o porquê de eu ter escolhido estudar Relações Internacionais, gosto sempre de contar um pequeno episódio da minha vida (que na realidade se tornou um capítulo inesquecível). O ano era 2001 e eu estava apenas na quinta série do ensino fundamental - creio que hoje esta série chama-se sexto ano. Era um dia como outro qualquer, exceto a partir do momento em que regressei da escola. Ao chegar em casa, na ansiedade de assistir o programa do Chaves na hora do almoço, percebi que todos os canais da televisão estavam ligados na mesma coisa: os Estados Unidos da América estavam sendo atacados.

Eu era uma criança de pouco mais de 11 anos, estava completamente assustado com aquilo. Aviões explodindo nos muros do World Trade Center (prédios que até então eu desconhecia, visto que em Nova York eu pensava que somente existia a Estátua da Liberdade e o Central Park). Depois desse dia me apaixonei pelos noticiários, pelas guerras, conheci a geopolítica, as relações internacionais e alimentei o sonho de cursar na faculdade algo que unisse tudo isso e mais um pouco.

Obviamente que eu sou apenas um grão de areia neste imenso deserto de pessoas que tiveram suas vidas alteradas com os atentados do dia 11 de setembro de 2001. E desde este ano, o ocorrido é lembrado em Nova York com minutos de silêncio (a cidade realmente fica imóvel). Uma das maiores capitais financeiras, culturais e políticas de todo o planeta, fica de cabeça baixa, de olhos fechados, relembrando as cenas e as dores daquele dia.

Osama Bin Laden passou a ser celebridade no mundo todo. Uns dizem que ele já está morto, outros afirmam que ele está escondido. Mas é certo que ele é apenas um nome, dentre tantos, em uma organização radical que balançou o país mais inatingível da história. O atentado às Torres Gêmeas foi o primeiro, e único, ataque sofrido pelos EUA em seu território, em toda a sua história.

A força do ataque é sentido até nos dias de hoje. Mas muito mais do que a violência, a força ideológica deste dia é infinita, de tal modo que marcou as páginas da história contemporânea. Este fato mudou todo o conceito de segurança, estratégia, política e as relações internacionais, como um todo.

Meu silêncio para os americanos. E meu silêncio para os afegãos e iraquianos que sofreram todo o contra-ataque norte-americano.

Escrito por: Denis Araujo


7 de set. de 2009

7 de Setembro: o Feriado Mais Reflexivo do Ano.

É Dia da Independência! Dia de ver a Esquadrilha da Fumaça fazer o mesmo show colorido de sempre, de ver os mesmos tanques de guerra desfilarem, de ver os mesmos soldados marchando e todas as manifestações que o brasileiro está acostumado. Porém neste ano de 2009 tivemos um feriado de 7 de Setembro que será relembrado por muito tempo.

Para começar, vamos falar do dia 5 (sábado). Maradona, obviamente, não teria o mesmo sucesso que o técnico Dunga. Ambos são grandes ex-jogadores, especialmente o argentino que é tido como o Deus do Futebol para os portenhos. Ele pode até ser
Dios, mas não é líder. O brasileiro, por sua vez, teve uma carreira recheada de altos e baixos, mas sua liderança sempre foi impecável. Quem se recorda da Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, deve lembrar da fisionomia de Dunga ao cobrar aquele penalti contra a Itália, na final - um verdadeiro guerreiro cobrando penalidades máximas!

O engraçado é ver a rivalidade entre brasileiros e argentinos, algo que se estende há muitos anos. O que poucos sabem é que a rivalidade existe mesmo antes do futebol chegar aqui no continente. O que me entristece é ver que esse embate, que deveria se reduzir apenas aos gramados, torna-se frequente fora destes. É incrível a quantidade de pessoas que ouço falando mal dos argentinos, ofendendo-os. E vice-versa.

Contudo, acreditem se quiser: brasileiros e argentinos têm muito em comum e dependem muito um do outro. Desde o início da crise financeira instalada na metade do ano passado, a mídia portenha sempre destacou o quanto a Argentina deveria se apoiar no Brasil para sair desta crise. A mídia brasileira, por sua vez, mostrou que o Brasil tinha todos os instrumentos necessários para se fortalecer, e um deles seria justamente aproveitar das oportunidades com seus maiores parceiros. E um dos maiores é a Argentina, sem sombra de dúvidas.

Continuando minha análise sobre o feriado, chegamos ao domingo, dia 6. Em rede nacional, o presidente Lula discursou sobre o Pré-Sal. Até o mais leigo no assunto compreendeu a importância que esta descoberta representa para o país. E fazendo um link, chegamos ao dia 7, com a Independência sendo comemorada, e junto com ela as comemorações do maior acordo militar já realizado pelo Brasil, juntamente com a França.

Pré-Sal e armas têm bastante em comum. Mas não se preocupe, o Brasil não entrará em guerra. Este armamento do país é muito mais ideológico do que efetivo. Defender o Pré-Sal é mais uma questão de imposição ideológica, do que imposição militar.

O Dia da Independência se foi, mas certamente ainda ouviremos falar muito de Brasil x Argentina, Pré-Sal e acordos militares. O que será que o próximo feriado reserva para nós brasileiros?

Escrito por: Denis Araujo

27 de ago. de 2009

Marketing, Cultura, Globalização e Sucesso: o Aroma do Café Starbucks

Não é de hoje que o café faz parte do cotidiano dos brasileiros. Na realidade, este produto faz parte da história da formação econômica do Brasil, tornando-se ao final do século XIX e início do século XX, o grande impulsionador do desenvolvimento do país, perdendo seu poder apenas em 1929, com a crise financeira. Os grãos eram o principal produto de exportação do país, que espalhou pelo mundo um produto fortemente apreciado não somente pela nobreza, mas por todas as pessoas de uma maneira geral.


Contudo, o que nem todo mundo sabe é que o café não foi importante somente para os países exportadores, como o caso do Brasil. Este produto tornou-se essencial para Howard Schultz, presidente da Starbucks – a maior rede de cafeterias do mundo. Em 1982, em uma simples cafeteria de Seattle, nos Estados Unidos, o então gerente de uma fornecedora de máquinas de café viu sua vida se transformar, ao sentir o aroma de um bom café e ao observar as caixas estrangeiras dos grãos que estavam empilhadas do outro lado do balcão da pequenina Starbucks. Aquela sensação fez com que Howard entrasse de cabeça no negócio, adquirindo-o mais tarde com o auxílio de alguns investidores.


O executivo passou, então, a trabalhar firme na criação de um novo conceito para sua loja. Por mais que o café já fosse um grande diferencial, o produto ainda não era suficiente para atrair clientes, ainda mais nos Estados Unidos, que já desenvolvia seu american way of life baseado na onda dos fast-foods. Contudo, isso tudo mudou em uma viagem de Howard para Milão. Na Itália, o empresário encantou-se com os bares de café expresso, que chamavam a atenção por seu charme, sua cultura e popularidade. A partir disso, a loja Starbucks começou a ganhar os traços iniciais da sua fama, que foi impulsionada pelos lattes e mochas, nunca antes provados em Seattle, tampouco no restante dos EUA.


Hoje, a rede Starbucks preza pelo conceito de ser a “terceira” na vida de todos. Terceira por se situar depois da casa e do trabalho de cada um, tornando-se um lugar propício para encontros, reuniões, momentos descontraídos, descanso, reflexão ou para simplesmente tomar um bom café. Atualmente existem 15 mil lojas, espalhadas em 44 países, oferecendo em qualquer um destes, um ambiente bastante acolhedor. Em qualquer um destes, justamente porque a loja que se encontra nos Estados Unidos tem a mesma “cara” da loja que se encontra no Brasil, no Japão ou na França.


A internacionalização da marca seguiu os moldes básicos da internacionalização de qualquer outra empresa: o mercado interno já estava saturado e, buscando novas alternativas de lucro, a rede Starbucks apostou na expansão para o mercado externo, inicialmente para o leste asiático, posteriormente para América Latina, Europa e Oriente Médio. A ousadia foi além, com o serviço de café da marca nos voos da United Airlines.


Porém, a internacionalização da marca Starbucks teve que se adequar às necessidades de cada país. No Brasil, por exemplo, foi acrescido no cardápio o famoso pão de queijo e os muffins salgados, além de um sistema de processamento de grãos para café expresso diferenciado, que recebeu o nome de “Brasil Blend”, tudo para atrair os clientes do maior produtor e segundo maior consumidor mundial de café. Hoje existem dez lojas Starbucks no país, todas na capital paulista.


Fica evidente que para a rede Starbucks tornar-se a quarta marca mais influente no mundo, Howard Schultz e sua equipe tiveram que observar tendências particulares dos países, com a finalidade de unir toda a gama cultural necessária para fornecer aos clientes o mesmo tratamento fornecido nas lojas americanas. A criatividade, por si só, não teria sido suficiente, se não fosse a capacidade de empreendedorismo dos executivos, somada ao processo de globalização dos países.


Entretanto, a globalização também teve seu lado ruim para a empresa. A crise financeira que se instalou no ano passado e seguiu neste ano fez com que o lucro caísse bastante, fazendo com que os diretores entrassem em alerta. Para solucionar este problema, medidas eficientes e diretas foram aplicadas. Em primeiro lugar, Howard Schultz criou o cargo de principal executivo de criação, cujo trabalho é repensar o ambiente das lojas. Em segundo lugar, demitiu 220 funcionários de diversas áreas e fechou outras 380 vagas abertas nos Estados Unidos. Posteriormente, comprou a fabricante das máquinas Clover, uma das favoritas dos amantes de café. Ele também tirou do cardápio da Starbucks uma linha de sanduíches quentes, servidos no café da manhã, visto que os consumidores reclamavam que as lojas ficavam com cheiro de lanchonete de fast food. Além disso, passou a investir em um canal de fidelidade dos clientes. No exterior, as lojas Starbucks também tiveram que se adequar, e a palavra de ordem foi "cresçam!".


Mas o principal passo foi a criação de um blog para receber sugestões e críticas de consumidores, que são comentadas por executivos da rede. Esta inovação é, sem dúvidas, a maior de todas, adequando-se a uma sociedade que se moderniza a cada dia.


O que mais me agrada nas lojas Starbucks é a incrível sensação de conforto. Quem já experimentou tomar um bom café e bater um papo, sentado em uma daquelas poltronas ou sofás, ouvindo um bom pop-rock ambiente, sabe do que estou falando. Cafeteria americana de bairro + grãos de café estrangeiros + charme italiano + uma boa pitada de criatividade e empreendedorismo + cultura + globalização = um dos cases de maior sucesso de toda a história dos negócios.


Escrito por: Denis Araujo

10 de ago. de 2009

Bem-Vindo?

Ano da França no Brasil. Confesso que, como muitos brasileiros, não procurei saber o porquê deste ano ser considerado assim, porém resolvi aproveitar um dos diversos eventos culturais que estão sendo promovidos, ou seja, o melhor deles: o cinema.


Não sou um grande fã dos filmes franceses. Uma fotografia quase sempre fria, movimentos demorados, falas longas, que fazem com que o filme ganhe um ritmo bem lento. Sem dúvidas isto acontece com o filme “Bem-Vindo”, porém de maneira menos explícita. Na realidade, o que chama a atenção no filme são os detalhes da travessia de imigrantes clandestinos pela Europa, uma realidade que vai além das telas.


A União Européia cria leis cada vez mais duras, para evitar que imigrantes ilegais cheguem ao continente. O alvo destes sempre são os países mais desenvolvidos, como Inglaterra, França, Alemanha e Espanha. A maior parte destes viajantes é de origem africana e, principalmente, do Oriente Médio. A grande reclamação dos residentes legais destes países é que os imigrantes ocupam parcela significativa dos empregos dos países, fazendo com que muitos nativos fiquem sem emprego ou tenham que disputar emprego com os viajantes. E a justificativa principal dos ilegais é que precisam arrumar um trabalho melhor remunerado para enviar dinheiro às suas famílias, além do bem-estar social que podem alcançar.


Recomendo o filme, principalmente pelos detalhes dos problemas dos imigrantes. Viajam escondidos em caminhões, passam frio, fome, e muitos deles morrem na travessia. E um deles, no desejo de encontrar sua amada na Inglaterra, resolve treinar para atravessar o Canal da Mancha a nado visto que, se para entrar na França ele quase perde a vida, imagina o que aconteceria para chegar em Londres? Talvez nadar não seja a melhor alternativa, mesmo. Provavelmente ele poderia desistir e ficar em um lugar melhor. Mas como não poderia de ser, o filme precisou de um tempero maior para fugir da lentidão dos filmes franceses.


Somam-se a isso as diferenças culturais e o preconceito no continente europeu. O governo, sempre rígido, recomenda que os estabelecimentos fiquem atentos aos “diferentes”. E qualquer indivíduo europeu que ajudar algum imigrante ilegal será punido com a lei européia. Ou seja, jamais ajude seu semelhante na Europa, ou será julgado como qualquer outro criminoso.


Escrito por: Denis Araujo

4 de ago. de 2009

Boa Noite Vizinhança!

Que o Brasil é o país do futebol todos sabemos. Que o Brasil possui o maior território da América Latina, a maior parte da população também sabe. Porém o que muitos não sabem é que o país nem sempre foi esse vizinho bondoso que temos visto ultimamente. Na realidade, a situação do país frente à nova ordem mundial que se configura neste momento praticamente de pós-crise financeira é o que define se somos, ou não, bons vizinhos na América do Sul.


Mas afinal, qual a relação que existe entre a crise financeira mundial e a boa vizinhança continental? É algo simples de se estabelecer. Quando o terremoto na economia global começou, todos os países poderosos estavam em alerta vermelho, e os países de economia emergente, por sua vez, não queriam testemunhar a queda de seus grandes parceiros comerciais, logo obviamente todos desmoronariam. Porém dentre estes, alguns se destacaram, como foi o caso da China, da Índia e, no nosso caso, o Brasil. Banco Central, Ministério da Fazenda e presidente Lula previram, juntos, que o país sairia da crise mais fortalecido, mesmo sofrendo alguns abalos bastante perceptíveis.


Nos anos AC (Antes da Crise), o Brasil almejava obter um importante destaque no continente, se consolidando como a grande potência da região. Os vizinhos, em contra partida, olhavam com desconfiança. Paraguai, motivado pelos problemas de Itaipu e dos Brasiguaios, tratava os brasileiros com certo ar de inferioridade, chegando a taxar-nos de imperialistas. Bolívia ainda tinha muito que discutir com o governo brasileiro sobre o fornecimento de gás, para não sair perdendo nessa corrida pelo poder. Argentinos e mexicanos não somente deixavam para lá essa história de “Brasil Potência”, como também lutavam pelo título de liderança continental.


Vivendo a crise, nossos vizinhos passaram a nos ver de maneira mais especial, deixando as diferenças de lado e querendo agarrar na saia do Brasil para não sofrerem tanto. Os principais jornais dos países que compõem o MERCOSUL falavam o tempo todo sobre a importância de se firmar parcerias com o Brasil, visto que este possuía o maior potencial de sair fortalecido da crise.


Agora estamos vivendo um momento quase que DC (Depois da Crise). Alguns reflexos ainda existem, mas é notório o poder de recuperação do país. Essa recuperação traz à tona toda a ambição que o país tem de começar a ditar um pouco mais as regras do jogo. Deixar o país no caminho do topo da pirâmide é a maior ambição do presidente Lula neste final de mandato e isso ele já está fazendo. Os problemas sociais internos obviamente existem e espero que veja esse quadro se alterar cada vez mais, porém vejo que o Brasil finalmente ganhou um destaque mais visível nas relações internacionais como um todo.


E a política da boa vizinhança é o maior instrumento que o governo tem nas mãos. Estreitar as relações com os Estados Unidos e Europa, manter boa relação com os países asiáticos, realizar importantes e inovadores acordos com países africanos, transformar as relações Sul-Sul em um importante canal de desenvolvimento e, principalmente, consolidar as relações entre os países latino-americanos, especialmente os sul-americanos, em todos os aspectos, são algumas das atitudes que o Brasil está tomando e que certamente prosseguirá executando.


Não considero um erro grave o acordo feito recentemente entre o governo paraguaio e o brasileiro. O Brasil aceitou pagar praticamente três vezes mais o que pagava para obter a energia gerada em Itaipu, e o consumidor brasileiro é quem está reclamando, visto que é o verdadeiro pagador desta dívida. Contudo, pior erro seria manter este grave problema bilateral sem resolução. A boa vizinhança se faz assim: eu te dou uma xícara de açúcar, você me dá uma colher de sal e ambos esperamos que nossa relação permaneça amigável, para o caso de necessitar ajuda novamente.


Escrito por: Denis Araujo