22 de abr. de 2008

Quando precisamos de heróis...

“ Eu nem acredito que aquele garoto que ia mudar o mundo freqüenta, agora, as festas do Grand Monde. Meus heróis morreram de overdose e os meus inimigos estão no poder “, já dizia Cazuza, outrora astro do rock brasileiro, um mito inesquecível. Talvez mal sabia ele o quanto inspirou jovens de todo o país. Inspiração, aí está um termo motivador.

Em um dicionário qualquer, diz-se que herói é aquele descendente de semideuses, ou que é o protagonista de alguma aventura. Gosto de acreditar que heróis assim eram válidos quando éramos crianças, quando o máximo de heroísmo real encontrado eram nossos pais, mas muitas vezes não nos dávamos conta disso. Porém o dicionário também diz que herói é todo homem que se distingue por coragem. De fato, ser herói é ser corajoso. Mas muito mais do que isso, ser herói é motivar, é inspirar, é unir, é fortalecer. E isso a história soube mostrar muito bem.

Certa vez fui alvo de críticas ferozes na época de colégio, quando afirmei pontualmente que Adolf Hitler foi um dos maiores heróis de todos os tempos. Destaco os objetivos alcançados e todo o movimento criado, ao invés de ficar discutindo valores morais e atos desumanos. Seria muita hipocrisia de minha parte não levar em consideração todo o mal que este causou, porém é um fato irrelevante quando discutimos suas realizações. Ora, a Alemanha no período entre guerras sofreu absurdamente, já que havia perdido a Primeira Guerra Mundial e os países vencedores lhe fizeram várias imposições. Eis que surge um homem de bigode, afirmando a necessidade de tornar a Alemanha uma unidade, e que todos os alemães deveriam ter orgulho de serem o que são. Surgiu, então, o sentimento nacional, carregado por este homem e que todos os alemães puros poderiam vê-lo em cima de um pedestal, no mais alto nível. Surgia, então, um dos maiores heróis do século XX, levantando uma Alemanha pobre e sem esperança, tornando-a forte, poderosa e com seus cidadãos podendo, mais uma vez, sonhar.

Cada um de nós tem em mente o que é ser herói, como também creio que cada um de nós possui um herói ou sonha encontra-lo. Vejo, por exemplo, quando um homem comum consegue prender um assaltante e recuperar os itens furtados do assaltado. Também acredito que uma mãe que consegue salvar seu filho é uma verdadeira heroína. Entre outros casos particulares. Porém se tentarmos enxergar verdadeiros heróis em âmbito nacional, veremos que alguns deram certo. E é com base nisso que nesta semana os paraguaios elegeram Fernando Lugo para presidente. Não, não estou dizendo que ele é um herói. Apenas afirmo que ele poderá tornar-se um, trazendo a tona um sentimento nacional que se perdeu com tantos anos de miséria e corrupção em um país que poderia ter se tornado a “Suíça Latino-americana”. Cada caso é um caso, de fato. Mas por que não acreditar? Aquele que é herói para mim, pode não ser herói para meu vizinho ou para aquela senhora que mora no final da rua. Mas tenho certeza que se um já aceita-lo como herói, já o basta.

Acho que quando temos um herói, temos orgulho de viver um pouco mais, acreditando que um dia tudo pode ser diferente. Nós, brasileiros, não temos em quem nos espelhar. Temos um presidente que trabalha de acordo com suas convicções, realizando um trabalho satisfatório para uns, e insatisfatório para outros. Mas é complicado para nós que compomos a juventude não ter alguém na liderança que podemos nos espelhar, alguém que lute por essa afirmação nacional que tanto nos falta. A propósito, neste final de semana foi o Dia do Índio, hoje deveriamos comemorar 508 anos de colonização dos portugueses. Não sei se lembrei, se você lembrou ou se algum brasileiro lembrou. Espero pelo dia em que todos iremos dar valor ao que realmente somos, ao que realmente representa ser brasileiro, ao invés de ficar dizendo que vivemos em um país péssimo ou que sempre damos aquele jeitinho brasileiro. Minimamente triste.

“Felizes daqueles que possuem heróis. Infelizes daqueles que PRECISAM de heróis”.

Vamos continuar sonhando, afinal não custa nada. E nenhum herói cobra por seus serviços. Ou pelo menos não deveria.

7 de abr. de 2008

Quando nos esquecemos do que realmente vale a pena..

Primeiramente inicio o post de hoje pedindo desculpas por demorar a atualizar este blog. Ocupações não permitiram que eu o fizesse, por isso exclusivamente hoje (em plena segunda-feira) estou postando. E não escrevo aqui por mera vontade de atualizar. Escrevo porque vejo a necessidade de expor um pensamento que carrego comigo há alguns dias.

“É proibido pedir esmolas dentro do metrô! Não colabore com esta prática.”. Esta era a mensagem que ecoava pelos vagões do meu meio de transporte diário em pleno início de tarde, um pouco depois da hora do almoço. Ironicamente ao término da mensagem, duas crianças entraram no vagão em que eu estava. Vestiam-se mal, estavam sujas. Logicamente elas não estavam ali porque se preparavam para fazer compras na Av. Paulista. Estavam ali porque estavam trabalhando. Este tipo de pensamento era o que provavelmente todos os presentes estavam tendo. Alguns olhavam com desconfiança, outros com desprezo. E um grupo menor de pessoas as olhava com um certo sentimento de tristeza, e eu era um destes.

Não, eu não sei simplesmente fingir que não vejo duas crianças pedindo dinheiro para comprar alimento para sua família (era o que dizia em um dos bilhetes que me entregaram). Resolvi dar-lhes algumas moedas, e assim fizeram outros passageiros daquele vagão. Senti-me na obrigação de perguntar aos dois meninos o que iriam fazer com aquele dinheiro, já que não podemos descartar o fato de que estavam pedindo dinheiro possivelmente para alguma pessoa de mais idade que acredita que usar a imagem de duas crianças vai conseguir sensibilizar um número maior de pessoas, ao invés de ela mesma ir pedir o dinheiro que necessita. Mas não perguntei nada.

O metrô parou na estação seguinte, e as crianças desceram. Rapidamente juntaram as moedas que haviam conseguido em uma sacola plástica e logo subiram no vagão seguinte para repetir o ato. Fiquei admirado. Elas poderiam estar fazendo aquilo há horas, e possivelmente fariam o dia inteiro. Minha mente resolveu agir de forma ingênua naquele momento, acreditando fielmente que os meninos estavam conseguindo dinheiro para colocar alimento na mesa de sua família ou deles mesmos. De fato pouco importava o destino de seu dinheiro, por mais que eu gostaria muito de ter-lhes perguntado. Mas muito me surpreendeu a força de vontade dos dois. Obedecendo a ordens ou não. Seguindo seu intuito ou não. Agindo de forma errada ou não... Eles estavam chamando a responsabilidade para si e fazendo o que lhes é mais “permitido”, já que não podem trabalhar pela falta de idade.

Realmente espero que o dinheiro que lhes dei tenha sido de bom uso. Certamente que eu iria preferir pagar-lhes um almoço e vê-los bem alimentados. Mas o preço de nossas convicções é alto demais, portanto dificilmente algum de nós, brasileiros trabalhadores, teria a coragem de fazer isso. E caso as minhas poucas moedas tenham um destino que aos meus olhos seja errado, sinto me culpado por ter colaborado com a prática ilegal dentro do metrô.

Mas o que de fato podemos fazer? Assistir a cena e fingir que não é conosco? Reprimir-lhes por estarem fazendo este ato? Mas ora essa, o preço de nossas convicções é alto demais, e é mais fácil jogar a moeda na mão das crianças, do que jogar a elas uma idéia sensata. A lei do mínimo esforço se faz presente, e temos sempre dois caminhos a seguir: lutar pelo que realmente queremos, independente das pedras que encontrarmos pelo caminho, ou cortar caminho pela trilha do meio e pular etapas. A segunda opção sempre é mais válida para quem tem pressa de alcançar algum objetivo.

Entretanto as etapas que poderemos passar escolhendo o caminho da luta poderão nos tornar indivíduos mais bem formados, muito mais capazes. Vejo meu país numa luta constante de entrar para o Conselho de Segurança da ONU, chamando a atenção do mundo para seus incríveis atos internacionais, mediações de conflitos no Haiti, a auto-afirmação de que a Amazônia é nossa, o papel de liderança do Mercosul... Atos resumidos na lei do mínimo esforço. Sofremos diariamente com a falta de segurança. Sofremos com a dengue. Sofremos junto com uma mãe que perde a filha em um ato de total covardia e falta de sensibilidade, ato desumano.

Sofremos com os meninos que entram no nosso metrô todos os dias para pedir esmola... Sofremos? Amanhã é terça-feira, quarta-feira tem jogo de futebol. E o governo acaba de anunciar o corte do orçamento por conta da não aprovação da CPMF.

Que país é esse afinal, que aqulo que acontece hoje é ofuscado pela manhã seguinte?

Apenas espero que um dia todos tenhamos a consciência de fazer valer a pena, de valorizar aquilo que realmente é certo.

Quem sabe um dia...