24 de jan. de 2010

Quando o Mundo Resolveu Dar as Mãos

Até parece miragem, mas não é. Quem acompanhou as frias discussões da COP 15 - acerca do aquecimento global - não acredita que o mundo poderia agir em conjunto, especialmente para trabalhar em um problema único. Infelizmente, uma ilha precisou ser sacudida (literalmente) para que os Estados agissem prontamente.

Há poucos dias, a humanidade chocou-se com o grave terremoto ocorrido no Haiti, na região do Caribe. As buscas por sobreviventes ainda não terminaram, mas as autoridades estimam cerca de 150 mil mortos. Na lista não estão apenas haitianos. O destaque vai para os soldados brasileiros que foram vitimados enquanto trabalhavam no comando da operação de manutenção e auxílio ao país, patrocinada pela Organização das Nações Unidas. O Brasil, aliás, chefiava toda esta ação há alguns anos e é por isso que sofreu importantes baixas militares e diplomáticas.

Depois que este grave tremor ocorreu, os principais líderes dos mais poderosos países passaram a agir, enviando enormes doações em dinheiro, mantimentos e, principalmente, em forças militares. Esta ênfase que dou serve para mostrar que o Haiti já estava completamente desorganizado antes do ocorrido. Depois, o que já estava de pernas para o ar ficou ainda pior. O país é um dos mais pobres do ocidente, unindo em um curto pedaço de terra uma população consumida pela fome e pelo desemprego. Essencialmente agrícola, o Haiti consegue algum trocado através da exportação de frutas (antes um fator de orgulho, hoje única salvação). O governo haitiano, tido como um dos mais desorganizados há anos, não consegue uma única ação positiva para seu povo.

A solução encontrada pela ONU foi auxiliá-los através de forças militares que pudessem agir para conter a violência e garantir a segurança da população. É nesta parte que o Brasil entra, visto que assumiu todo o comando da operação. Não que o exército brasileiro tenha atingido seus objetivos, mas ao menos deram alguma esperança para o povo haitiano.

Logo após o terremoto, o governo brasileiro agiu prontamente no envio de mais tropas de resgate, além de garantir grandes doações de dinheiro e itens de sobrevivência. Os Estados Unidos também estão atuando diretamente na situação. Barack Obama luta para apagar a imagem que o ex-presidente Bush deixou nas falhas do governo no auxílio ao povo norte-americano no episódio do furacão Katrina. União Europeia e gigantes asiáticos também resolveram mobilizar-se no envio de militares, estudiosos, voluntários e, é claro, com altas quantias monetárias. E daqui pra frente, o país estará monitorado pelos olhos do mundo, afinal o Haiti tornou-se um desabrigado do planeta. Se não o ajudarem, quem poderá ajudá-lo?

Ficam aqui depositadas as esperanças de que novas medidas de segurança sejam implementadas e que acidentes como este não sejam tão devastadores, em qualquer canto da Terra. Como já havia escrito, o ano de 2010 mal havia iniciado e muitos sonhos tornaram-se pesadelos. E assistimos de camarote a esta terrível mudança.

E que o mundo permaneça de mãos dadas por mais tempo, afinal esta foi uma demonstração de que a cooperação pode fazer coisas muito boas. Uma pena que a terra tenha que sacudir para que isso seja notado. Uma pena mesmo.


Escrito por: Denis Araujo


O Silêncio Cotidiano agradece aos leitores por atingir a marca de mais de 6500 visitas. Junto a isso comemora-se este post de número 50, especialmente dedicado a todos aqueles que apoiam este projeto e seu autor desde o início. Este é o mundo em que vivemos, aquilo que pensamos e tudo o que não dizemos.

Gostaram da nova cara do blog?

Até a próxima!

13 de jan. de 2010

2010: Sonhos e Pesadelos de Um Novo Ano

Finalmente o ano de 2010 chegou, trazendo todos os jargões populares de que este ano será mesmo 10! O mais engraçado é que de notas boas não temos praticamente nada, afinal de contas o ano mal começou e o que temos é uma porção de catástrofes, tragédias e outras notícias tristes ocorrendo pelo mundo. Não foi o início que sonhamos.

Neste ano, os olhos do mundo estarão voltados para o continente africano, mais precisamente na África do Sul. A Copa do Mundo de futebol começará em alguns meses, e com ela chegam todas as festas, o marketing, a paixão pelo esporte, os astros e tudo que há de bom para se comemorar. Milhões foram gastos, tudo para realizar um evento de proporções gigantescas, que atrai tantos fãs. Até mesmo quem não gosta de futebol se rende ao brilho do acontecimento.

Entretanto, nem tudo é festa. Como manda o calendário da FIFA (entidade máxima do futebol), meses antes do Mundial ocorre a Copa Africana de Nações. É praticamente uma prévia do que as seleções do continente classificadas apresentarão meses depois na Copa do Mundo. Na realidade, que seja apenas uma prévia futebolistica, porque o que vimos por lá nesta semana foi o terror e o caos de um início inesperado de um evento. Inesperado?

A seleção de Togo enfrentaria Gana em uma das sedes do campeonato. No caso, a partida seria realizada em Cabinda - uma província angolana que luta há algum tempo para obter sua independência. Em uma comparação geográfica, esta região está para Angola como o Chile está para o Brasil, ou seja, é um local que não faz fronteira com o país. E a província foi escolhida justamente para o governo angolano mostrar ao mundo que, apesar da distância e das diferenças, Cabinda faz parte de todo o território de Angola. Mas o que vimos foi uma tentativa frustrada de mascarar uma realidade complicada.

A entidade africana de futebol, juntamente com a organização do evento em Angola, deveria há muito tempo ter riscado a província do mapa do campeonato. Por melhor que fosse a intenção, o sentimento separatista da região é grande, impulsionada pela Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC). Sendo assim, que condições de segurança o território teria para realizar uma festa deste tamanho? O alto preço da hipocrisia e da falta de preparo foi pago pela seleção de Togo, representada pelo astro Emmanuel Adebayor - atacante do Manchester City, da Inglaterra.

O resultado foi um jogador gravemente ferido e alguns funcionários da comissão mortos. E novamente questiono: foi um ataque inesperado? Óbvio que não. A FLEC já havia realizado algumas ameaças, que o governo angolano e o comitê organizador do evento resolveram esquecer para não manchar a festa.

O campeonato segue com as pernas bambas. Com a desistência de Togo, resta às demais seleções que se esforcem e lutem pelo título. Mas este evento jamais será esquecido, ainda mais às vésperas da Copa do Mundo, na África do Sul.

E o que diz o comitê organizador do mundial? Algo bastante verídico: quando ocorreram os atentados em Madrid no ano de 2005, ninguém questionou a segurança da Copa na Alemanha, em 2006. Claro que existem diferenças na proporção dos acontecimentos e do desenvolvimento dos países em questão, mas se o governo sul-africano adotou o evento e prometeu realizar a maior festa de todos os tempos, podemos somente torcer para que seja, de fato, um sucesso, sem preocupações.

Que o atentado em Cabinda torne-se um fato isolado. O mundo precisa começar a enxergar todas estas tragédias iniciais do ano como fatos isolados até porque, se continuarmos assim, logo mais trataremos como isolados os bons acontecimentos.

Certamente este não foi o início que sonhamos. Vamos aguardar para que o decorrer e o término sejam.


Escrito por: Denis Araujo