Sexta-feira Santa se foi. E com ela, todos (ou a maioria) de sentimentos relativos a este dia sumiram. E já que vivemos em uma sociedade repleta de valores, aproveitamos para viajar e comprar bastante. Como bom morador do estado de São Paulo, não resta muitas opções a não ser ir a praia curtir o início de Outono e, é claro, saborear um ovo de páscoa. Porém resolvi fazer diferente este ano.
Aproveitei-me do possível vazio de um shopping para ir ao cinema. Logicamente o shopping não estava vazio, mas havia muitas opções de filmes para assistir. Entre concorrentes ao Oscar, decidi pelo novo documentário de Michael Moore: “Sicko – SOS Saúde”. Um tiro no escuro talvez, mas vale ressaltar suas obras anteriores, tais como “Tiros em Columbine” ou “Farenheit 9/11”. Sessão escolhida, vamos nós.
Com um início chocante, pouco a pouco o filme revela a realidade do sistema de saúde norte-americano, sistema este bastante falho, o que nos deixa perplexos, já que temos o costume de acreditar que no hemisfério norte tudo vai muito bem, obrigado. Visando o lucro excessivo, seguros-saúde rejeitam diversos casos de urgência para ter que evitar gastar tanto com cirurgias e outros tratamentos. Cidadãos morrem enfrentando filas nos hospitais em um país que segue no topo das potências mundiais. Michael Moore resolve, então, conhecer outros países para analisar se nestes ocorre o mesmo. No Canadá, na França... Países do chamado “Primeiro Mundo” fazem valer seu título e dão a melhor assistência de saúde para todos os seus cidadãos e mesmo àqueles que lá chegam sem nada e necessitando auxílio médico. Eterno inimigo americano, Cuba faz melhor: recebe de braços abertos os bombeiros que salvaram vidas no 11/9 mas que não obtiveram cuidados médicos descentes em seu país.
Assistam ao filme porque tenho certeza que todos saíram da sala de cinema espantados com essa realidade. Certamente que o diretor do filme está o tempo inteiro criticando os Estados Unidos, com demasia ou não. Mas do ponto de vista realista, o filme mostra que não são somente nas Guerras que nossos vizinhos lá de cima falham: o mesmo acontece com a maneira que tratam seus próprios cidadãos.
Notaram a breve semelhança? Pois é. Ironicamente (ou não) passamos por situações parecidas. Talvez não por adotarmos um sistema nacional de saúde eficaz, mas por simplesmente nosso país dar valor a questões muitas vezes de interesse governamental, ao invés de ser de interesse do povo. O Brasil trava uma luta constante para se afirmar no cenário internacional, sendo apontado como um dos países mais promissores em desenvolvimento. Os anseios são vários, e as vantagens também. Mas e nós, pobres mortais, que primeiro nos importamos com a vida que levamos dentro de nossas residências, para depois compreender o que se passa lá fora? Nosso país segue sem fazer sua lição de casa.
Como o Brasil deseja ser internacional, se nem ao menos consegue ser nacional? E não digo isto apenas por termos um sistema falho de saúde. Chamo a atenção para a falta de segurança, educação, transporte e tantos outros problemas crônicos de nosso país. Não, não sou nacionalista. Gosto apenas de salientar que como bom brasileiro que sou, gostaria de ver meu país numa ótima posição internacional, posição esta que possa se refletir internamente, com a melhoria na qualidade de vida de seu povo, ao invés de caminhar pela trilha dos Estados Unidos, que mostram para o mundo quem são, mas que esquecem do próprio quintal.